Total de visualizações de página

quinta-feira, 4 de julho de 2019

FATORES QUE MOLDAM A CIVILIZAÇÃO - Nicéas Romeo Zanchett

            Os principais fatores que moldaram, moldam e continuarão a moldar a civilização, indubitavelmente são as condições geográficas, geológicas, econômicas, raciais e psicológicas. 
              A civilização é a ordem social que está permanentemente promovendo a criação cultural.
               São quatro os elementos que constituem a formação civilizatória: 
               1 - A provisão econômica;
               2 - A organização política; 
               3 - As tradições morais; 
               4 - O acumulo de conhecimentos e as artes. 
                Tudo começa quando o caos e a insegurança chegam ao fim. Quando o medo é dominado, a curiosidade e a construtividade se vêem livres, e por impulso natural o homem procura a compreensão e o embelezamento da vida. 
             Certos fatores condicionam a civilização, podendo estimulá-la ou embaraçá-la. Primeiro, as condições geológicas. A civilização é um interlúdio entre as eras glaciais; a qualquer momento a corrente de congelação pode retornar a encurralar a vida num segmento da Terra. Esse fator, em nossos dias, está cada vez mais presente devido ao descontrole ambiental e consequente aquecimento climático. 
             O homem sempre teve que obedecer à natureza. As cidades foram construídas com permissão dos terremotos, por exemplo; pois eles podem simplesmente destruir-nos com a maior indiferença. 
                As condições geográficas têm enorme influência. O calor dos trópicos e os inumeráveis parasitos que os infestam revelam-se hostis à civilização; a  letargia, a doença e a precoce maturidade desviam das coisas não essenciais às energias que fazem a civilização e as enfocam unicamente no comer e no reproduzir-se; nada sobeja para o pabulo das artes e do espírito. A chuva é necessária; porque a água é o médium da vida, mais importante ainda que a luz do sol; o incompreensível capricho dos elementos pode condenar à seca regiões outrora florescentes, como Nínive e Babilônia, ou pode dar força e riqueza a cidades aparentemente fora das principais linhas de transporte e comunicação, como as da Grã Bretanha ou do Estreito de Puget. Se o solo é fértil em produtos agrícolas e minerais, se os rios oferecem fácil via de transporte, se a linha costeira é provida de portos bem abrigados, e se , acima de tudo, uma nação está situada no trajeto duma rota comercial, como Atenas ou Cartago, Florença ou Veneza, então a geografia sorri e nutre a civilização - embora não a crie. 
          As condições econômicas são mais importantes. Um povo pode possuir excelentes instituições, um nobre código moral, e mesmo o senso das artes, como os índios americanos; mas se se perpetua na estágio da caça, se para existência depende da precariedade dos animais nativos, esse povo nunca passará da barbárie à civilização. Um povo nômade, como os beduínos da Arábia, pode ser excepcionalmente vigoroso e inteligente, pode revelar qualidades de caráter, como a coragem, a generosidade, a nobreza; mas sem o sine qua non da cultura, que é a continuidade da alimentação, essa inteligência se desperdiçará nos perigos da caça e nas tricas mercantes, e nada ficará para as amenidades, as artes e os requintes da civilização. 
                  A primeiro forma de cultura foi a agrícola; quando o homem se fixou para cultivar o solo. Nesse estágio passou a acumular provisões para o incerto dia de amanhã, e acha tempo e razão para civilizar-se. Dentro deste estreito círculo de segurança - bom suprimento de água e alimento - o homem constrói sua cabana, seus templos e escolas; inventa instrumentos de trabalho, domestica o asno, o cão, o porco e por fim a si mesmo. Aprende trabalhar com regularidade e ordem, vive mais tempo e transmite mais completamente aos filhos à herança mental e moral da raça.  
               A cultura sugere a agricultura, mas é a civilização que sugere a cidade. Sob um aspecto, a civilização é o hábito da civilidade; e a civilidade é o refinamento só possível na cidade.  (A palavra civilização vem do latim -civilis - que pertence aos cidadãos civis e é comparativamente nova. Não aparece no dicionario do Dr. Johnson de 1772, ali ele preferiu usar a palavra civility.) Para o bem ou para o mal, é para a cidade que refluem as riquezas e os cérebros produzidos pelo campo; na cidade a invenção e a indústria multiplicaram o luxo, a comodidade, e o lazer. É na cidade que os mercadores se encontram e trocam mercadorias e ideias; nessa mútua fecundação dos espíritos, a inteligência se apura e é compelida a criar. Na vida urbana alguns homens se conservam fora do campo material e produzem ciência, filosofia, literatura e arte. Portanto, a civilização começa na cabana do camponês, mas só floresce nas cidades. 
              Estas são, portanto, as condições da civilização que independem da raça. Podem aparecem em qualquer continente e em qualquer cor: em Pequim ou Déli na Índia, em Mênfis ou na Babilônia, em Paris ou Londres, no Peru ou na península de  Iucatã  no México.  Isso prova que não são as grandes raças que fazem uma civilização, mas sim as circunstâncias geográficas e econômicas que criam a cultura e a cultura, por sua vez, cria os novos tipos.  Os ingleses não fizeram a civilização inglesa - esta é que fez o povo inglês; se ele a leva para onde vai, e se põe um "smoking" para um jantar no Tumbuctu ( cidade no centro de Mali), isso não quer dizer que lá está impondo sua civilização; está apenas admitindo que é a sua civilização que dirige seus atos. Qualquer outra raça faria o mesmo, se fosse beneficiada pelas mesmas condições materiais que beneficiaram os ingleses; o Japão, por exemplo, reproduz no século 20 a história da Inglaterra no século 19.  Portanto, a civilização se liga à raça unicamente no sentido de ser, com frequência, precedida pela fusão de várias estirpes, que gradualmente se assimilam num povo relativamente homogêneo. 
                 Essas condições físicas e biológicas não passam dos prerrequisitos da civilização; não a constituem, não a geram. Sempre entram em jogo fatores psicológicos muito sutis. É preciso haver ordem política, mesmo que quase se aproxime do caos, como em Florença e Roma durante o Renascimento; os homens têm que sentir que há mais algumas coisa no mundo além da morte e dos impostos que são inevitáveis. É preciso que haja alguma unidade de língua, para mediação do intercâmbio mental. Por meio da igreja, da família, da escola ou do que seja, é necessário que exista um código moral unificador, algumas regras do jogo da vida, aceitas mesmo pelos que as violam, que deem à conduta alguma ordem e regularidade, alguma direção e estímulo. Talvez também seja preciso unidade de fé - uma fé qualquer, sobrenatural ou utópica, que eleve a moralidade de mero cálculo à devoção, e que, a despeito da sua brevidade, dê à vida nobreza e significado. E finalmente, deverá haver educação, que é o meio de transmitir a cultura. É graças à iniciação, imitação ou instrução, transmitidas pelos pais, professores ou sacerdotes, que a herança mental da tribo transfere-se às novas gerações, como o instrumento que elevou o homem acima da pura animalidade. 
       O desaparecimento destas condições pode destruir uma civilização. Um cataclismo geológico ou profunda mudança climática; uma epidemia impossível de ser combatida, como a que abateu metade da população do Império Romano sob o reinado dos Antoninos, ou a Peste negra que pôs fim à Era feudal - (aqui lembro das superbactérias que pouco a pouco estão se firmando); a exaustão das terras ou a ruína da agricultura devida à exploração exagerada dos campos pelas cidades, o uso indiscriminado de agrotóxicos que contaminam e tornam imprestáveis as terras cultiváveis, resultando em precária dependência da importação de viveres de fora; a escassez de recurso naturais como combustíveis e matérias primas; uma mudança nas rotas comerciais, que deixa uma nação em desvantajosas condições de tráfego; a decadência mental e  moral devido ao urbanismo desordenado, que geram as conhecidas favelas, com a consequente queda da disciplina e a escalada da criminalidade. Podemos considerar também alteração étnica com uma desordenada permissividade sexual ou a uma filosofia pessimista ou quietista; a inferiorização da elite dirigente em virtude da esterilidade e do controle de natalidade pelos mais aptos, a relativa pequenez das famílias que melhor poderiam contribuir para a elevação da raça; uma patológica concentração da riqueza que determine guerra de classes, revoluções e exaustão financeira; eis alguns dos caminhos que levam as civilizações à morte. 
             Uma civilização não é coisa ingênita e imperecível, mas algo tem de ser de novo adquirido em cada geração, qualquer colapso no seu custeio ou na sua transmissão pode levá-la ao fim. O homem difere dos animais unicamente pela educação, a qual podemos definir como a técnica de transmitir a civilização. 
                As civilizações são gerações da alma racial. Como a família e a escrita ligam as gerações e passam a herança dos velhos para os moços, assim também a imprensa, o comércio e os meios de comunicação ligam as civilizações entre si, e preservam para as culturas vindouras todos os valores adquiridos. Antes que a morte sobrevenha, reunamos a nossa herança cultural e ofereçamo-la aos nosso filhos. 
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário