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segunda-feira, 29 de julho de 2019

TAJ MAHAL - MONUMENTO AO AMOR


                Para subir ao trono, o mongol  Xá Djahan teve enormes dificuldades; teve de eliminar todos seus parentes e exilar a mãe que se opunham aos seus objetivos. Foi o quinto rei da dinastia mongol, e reinou de 1628 a 1658.
               Logo que chegou ao poder tratou imediatamente de construir este maravilhoso templo para sua adorada esposa Aryumand Banu Begam, a quem deu o nome honorífico de Mumtaz-i-Mahal, Joia do Palácio.  
                Este paraíso, feito especialmente para sua esposa favorita, está perto de Agra, nas margens do Djamna. Caminhos cobertos de placas de mármore cruzavam o oásis, decorado com árvores e plantas exóticas. "Nada deveria ferir os pesinhos descalços da meiga princesa, quando ela passeava por aqui", diz uma antiga narrativa de viagens. 
                   O Grande Mongol tinha uma vincada preferência pelo suntuoso. Não mandou apenas construir edifícios preciosos em Agra, mandou também decorar a sua capital, Delhi, com mesquitas e palácios belíssimos. Uma inscrição na sala de audiências da sua grande cidadela imperial em Delhi, na qual teria estado o lendário trono dos pavões reais, reza soberbamente em língua persa: "Se há um paraíso na terra, é este, é este, é este!"
                 Conta-se que uma elegante dama inglesa disse, diante da maravilha marmórea do Taj Mahal: "Não sei dizer o que penso, mas penso que queria morrer amanhã se tivesse para me cobrir um monumento assim". 
                 Ainda que o imperador mongol tivesse mandado criar monumentos eternos, mediante numerosas obras de arte, não nos lembramos dele como renovador de Delhi, que em sua honra se deveria chamar Djahanabad, mas sim como o construtor do Taj Mahal. Neste edifício descansam também  os restos mortais do imperador  que dominou a maior parte da península indiana. 
                O seu reinado terminou em condições similares e tão  desagradáveis como aqueles em que havia principiado. O Xá Djahan foi desterrado por seu filho Aurangzeb e encerrado no seu palácio, "onde até a sua morte levou uma vida alegre". Depois da morte de Aurangzeb o até então florescente império começou a declinar. 
                A esposa favorita do Xá Djahan, Mumtaz-i-Mahal - segundo palavras do conhecedor da Índia Helmuth von Glasenapp -, "exerceu uma grande influência sobre o imperador, com a sua beleza e bondade". Deu ao xá da Índia sete filhos. Morreu depois do nascimento do oitavo, em 1629, devido a uma febre puerperal, no sul da Índia. O Grande Mongol mandou transportar o cadáver para Agra e enterrou-o nos jardins junto do rio Djamna. O imperador mandou construir sobre o seu túmulo um monumento funerário como nunca existiu outro. "A impressão esmagadora que o Taj Mahal exerce sobre o observador fundamenta-se essencialmente no efeito dos dos contrastes. A reluzente faixa de água, com as suas flores de lótus, que se estende desde o portal da entrada, através do jardim, até o Taj Mahal, o soberbo edifício de mármore branco como a neve, o frondoso parque que o rodeia, e sobre ele o profundo azul do céu indiano, tudo isso se mistura na alma do visitante de tal forma que, por um instante, faz desaparecer todas as dificuldades e preocupações terrenas e, devido a este efeito poderoso, não tem comparação em todo o mundo."(Paul Deussen.) 
               Historiadores de arte preferem denominar este "sonho em mármore" uma apoteose de feminilidade indiana". O Xá Djahan mandou vir os mais famosos arquitetos e artistas para a construção do Taj Mahal, e com eles discutiu a realização do edifício. O perito que deveria montar a cúpula seria talvez originário de Istambul; os alveneiros vieram de Delhi e Kandahar; os especialistas para o cimo da cúpula, de Lahore e Samarcanda; os calígrafos, que realizaram as inscrições embutidas , de Chiraz e Bagdá; os gravadores de flores, de Bukhara; oarquiteto floral, da Caxemira. Vinte mil trabalhadores estiveram ocupados durante dezessete anos na construção do monumento funerário mais famoso do mundo. As despesas da sua construção foram incalculáveis. 
               "A impressão total ultrapassa tudo o que se possa imaginar", disse Kal Baedeker. "A simplicidade do desenho e a suntuosidade da realização misturam-se numa maravilha  de arte que compete, em matéria de sublime beleza, com os templos gregos e as mais famosas catedrais da Idade Média e do Renascimento."
                  

TORRE EIFFEL - COMO FOI CONSTRUÍDA A SENHORA DE PARIS.


               A primeira proposta concreta para erguer uma "torre de 1.000 ppés" (304,80 metros)  foi feita pelo inglês Trevithick em 1833, mas não foi levado a cabo. Também por ocasião da Exposição Universal de Filadélfia em 1874, também houve uma tentativa que também não foi à frente. 
                Em 1884 foi elaborado o primeiro anteprojeto para uma torre metálica de 300 metros de altura, na comunicação oficial de Eiffel. Havia então uma série de vários projetos. A população entusiasmou-se, por exemplo, com a ideia de uma "torre solar" de 300 metros de altura, com um foco no cimo, o que transformaria a noite parisiense num dia claro. Numa das plantas da torre pensava-se em instalar um hospital para curas de alta montanha. 
                  Depois de muitos debates, o  Ministério de Comércio, de cuja competência dependia a exposição, preferiu o plano de Eiffel. Ficou decidido que a torre fosse erguida sobre uma superfície de 125 metros de lado. ainda não havia sido decidido o local exato onde seria erguia a torre. Diante dessa  indefinição foram estudados 107 possíveis lugares para a sua colocação.
                  Uma outra questão era motivo de muitas discussões. A comissão da exposição queria construir a torre em forma de uma ponte sobre o Rio Sena; mas, devido às ás condições do solo nas laterais do rio ficou inviabilizada. Finalmente escolheu-se o Campo de Marte, onde era a ideia preferida pela maioria. 
              Como era de se esperar, o engenheiro construtor escolhido foi Alexandre Gustave Eiffel. Muito antes da construção da "sua" torre, ele já era considerado o maior especialista do mundo em construções metálicas, portanto , o mais qualificado, além de já ser célebre como  fundador da aerodinâmica. Da sua empresa Eiffel haviam surgido dezenas de grandes estruturas metálicas em todo o mundo. Todavia, depois passou-se a conhecer o já célebre engenheiro apenas como Eiffel em homenagem a esse seu grande feito. Em certa ocasião ele assim se expressou:"Esta torre ainda será a minha morte" disse suspirando, "como se eu não tivesse feito mais nada na vida. " 
              Os trabalhos preliminares da torre  começaram em 1866. Para os quatro pilares foram construídos alicerces de 26 metros quadrados, que penetraram 14 metros de profundidade na margem do Sena junto ao Campo de Marte e 9 metros na outra margem. A finalização dos alicerces aconteceu em 30 de junho de 1887, portanto, dois anos antes da inauguração da exposição universal, quando, então deu-se início á construção da torre propriamente. 
              O público reagiu das mais diversas formas à construção de tal envergadura. Enquanto oficialmente ela era muito elogiada e referida como "triunfo da cultura industrial", a  "obra prima da moderna arquitetura metálica" e "símbolo do nascimento da França" (após a derrota de 1871), houve por outro lado escritores famosos, pintores e arquitetos que se reuniram para protestar mesmo antes de as obras terem começado. "Em nome do bom gosto" e como "amantes apaixonados da até agora intacta beleza de Paris" ergueram-se desgostosos contra a caríssima construção da "inútil e monstruosa" Torre Eiffel, promovendo um grande abaixo-assinado. 
                Guy de Maupassant, um dos signatários do abaixo-assinado, fazia troça da "pirâmide horrorosa e fragmentária",  numa entrevista explosiva. Eiffel, juntamente com a direção da exposição, tinha muito que lutar em defesa da torre , que seus inimigos classificavam como "construção de um  ridículo vertiginoso" e que domina Paris como chaminé negra e gigantesca". Mas de nada serviram os protestos. O Estado francês apoiava a Sociedade  da Torre Eiffel, fundada com um capital de 5,1 milhões de francos. Os trabalhadores prosseguiam como tinham sido projetados. E quando, um ano após o início da obra, foram   terminados os quatro  pilares até o primeiro andar, Eiffel mandou lançar um castelo de fogos de artifício. A partir deste primeiro andar, que ficava a 58 metros de altura, ergueu-se a torre até a segunda plataforma (116 metros) e a terceira (273 metros). Participaram nos planos para as 15.000 peças de que é feita quarenta desenhistas, durante dois anos. Uma fábrica de Clichy produzia as peças nas medidas previstas, de forma que depois era só aparafusá-las. 
               A construção acabada pesa 9700 toneladas; extraordinária massa de aço, e apesar disso uma obra de filigrana. Só o ar contido num cilindro de 300 metros de altura , em cuja base estivesse inscrito o quadrado da base da torre, pesaria mais do que toda ela. 
              Para acabar a torre na data marcada havia que trabalhar dez horas por dia, mesmo durante o duro inverno de 1888 a 1889. Em 31 de março a Eiffel pôde içar a bandeira tricolor no cume da torre.  Estava tudo pronto para a inauguração da exposição no dia 6 de maio de 1889. A empresa não só fez um grande negócio com as visitas (já no ano da inauguração a importância recebida pela Sociedade da Torre Eiffel foi superior ao capital inicial), como também o fez com a venda de pequenas reproduções da torre.
               Hoje, a Torre Eiffel faz parte inseparável da paisagem de Paris. Com todo o sucesso turístico que este maravilhoso empreendimento trouxe para a cidade, ainda hoje se houve protestos alegando, entre outras razões, que "destrói o aspecto da cidade". É célebre a anedota que se conta do homem que todos os dias, enquanto vivo,  subia ao alto da torre em protesto; sua alegação é que somente dali ele não via a torre Eiffel. A literatura e a arte apropriaram-se da "Senhora de Paris". Já não se fala de "ridículo vertiginoso"; pelo contrário, sente-se uma espécie de terno cartinho por este testemunho da época de ferro que acabava de nascer, e que faz parte da imagem de Paris, mesmo que já não constitua sensação técnica nos nossos dias. A Torre Eiffel não perdeu nada da sua atração, do seu significado técnico, ou da sua força simbólica. Pelo contrário, desde que foi inaugurada só tem aumentado o número de visitantes que nela sobem pelos elevadores que, rangendo, transportam de tudo.  Do restaurante panorâmico pode-se gozar uma vista impressionante sobre a cidade. Já não mais conseguimos mais conceber Paris sem a Torre Eiffel; ela é a própria Paris. 
                 

domingo, 28 de julho de 2019

GENGIS KHAN - O GRANDE IMPERADOR MONGOL.



Muitas pessoas não sabem, mas a poderosa China já foi comandada pelo imperador Mongol Gengis Khan. 

                 Em princípio o nome "mongol" refere-se apenas a um pequeno povo disperso pela Mongólia, exterior, cercado ao norte pelos merkitas, a leste pelos tártaros, ao sul pelos keraitas e a oeste pelos turcos naimanos e uigure. 
                  Como os turcos e os manchus, os mongóis são de origem altaica, provindos dos montes Altai, na Mongólia. Ao que tudo indica, era um povo que dominou o norte da China no século IV a. C. 
                     No início, os mongóis formavam um povo de guerreiros e pastores nômades, que desprezavam quaisquer atividade organizada e ignoravam a agricultura e a escrita. Sempre viveram em lugares muito castigados pelo clima e com oscilação. Por essa razão mudavam-se constantemente. Ficavam em determinado lugar até o começo do verão e depois subiam às montanhas fugindo do calor. Sempre moravam em tendas improvisadas e fáceis de serem transportadas nas carroças sempre puxadas por bois. Os cavalos eram reservados para montaria e locomoção de guerreiros. Eram excelentes cavaleiros e arqueiros.  Viviam basicamente da caça e pilhagem dos menos indefesos. 
                 A unificação das tribos e as sucessivas conquistas foram resultantes da liderança de Gengis Kahan.  Há uma lenda que que diz que este valoroso guerreiro ficou famoso perante todas as tribos por ter morto um lobo cinzento que devorava a terra. No início enfrentou a rejeição das tribos e da própria família, mas voltaria a conquistar sua liderança vencendo rivais de clãs distintos conseguindo, assim, unificar os povos mongóis sob seu comando. 
                   À noite sempre instalavam-se ao redor do fogo e qualquer acontecimento relevante - nascimento, morte,  casamento, boa caçada, batalha bem sucedida - era motivo de grande festa, com banquete e muita bebida. 
               Apenas de nômades e sem organização estatal, os mongóis tinham uma hierarquia social rígida; dividiam-se em tribos, cada uma formada por clãs e estes por famílias. O clã reunia todas as famílias de mesma ascendência e tinha um chefe que se subordinava ao chefe geral da tribo. Dirigiam-se ainda em quatro grupos sociais: a "aristocracia" dirigentes, os guerreiros, os homens comuns e os escravos (prisioneiros de guerra). Cada clã dispunha de um determinado território onde praticava a economia de subsistência sob forma comunitária. A ele pertenciam as pastagens e  cada um tinha sob suas ordens  um grupo de guerreiros. 
                Segundo a revista "Mundo Estranho", Gengis Khan foi um dos militares mais bem sucedidos da história da humanidade; ele foi o imperador que mais conquistou territórios na história, dominando quase 20 milhões de km² (equivalente a 2,3 vezes  do território brasileiro).
                       O pequeno Temudjin nasceu  na Mongólia na década de 1160, provavelmente em 1162. Supõe-se que era descendente de um líder mongol conhecido como Kabul Khan, do clã Bojingin, que por alguns anos manteve a Mongólia unificada, mas logo as tribos se dividiram e cada uma passou a ser governada por um clã. 
                  Como quase todos os mongóis, Temudjin  certamente fora treinado  como arqueiro montando desde muito jovem. Desde logo mostrou sua grande habilidade como arqueiro comandando a montaria apenas com os joelhos, ficando, assim, com as mãos livres para a total destreza no arco e flecha. 
                  Determinado a unificar a Mongólia, Temudjin determinou as leis dos mongóis. Sua força já era conhecida em toda a Mongólia e aproveitou-se disso para aumentar o número de clãs aliado. Uma grande parte dos clãs preferiram aderir ao  seu rival Jamkha, que pregava sua destruição. Com essa situação a Mongólia ficara dividida e os dois exércitos se encontraram para a batalha final na qual Temudjin foi vencedor. 
               Em 1206, uma grande assembléia entre os chefes de todas as tribos das estepes proclamou Temudjin, então com quarenta e cinco anos, como Genhis Khan, "o clã dos clãs".  Criou-se uma hierarquia militar e um poderoso exército foi muito bem treinado e organizado. 
                 Em 1207 - 1208, os mongóis foram forçados a expandir seu território de pastagem devido algum problema climático nas estepes. 
                   Com um exército tão poderoso, Gengis Khan resolveu partir para o sul e invadir as terras do reino de Hsi Hsia, também chamado de Xicia, vassalos do Império Chines, que nesta época estava dividido em duas dinastias: o Império Jin, ao norte e o Império Song, ao sul. Nesta época já havia a temida Muralha  da China com fama de intransponível. 
                     Depois de atravessarem a muralha contornando-a chegaram á China, cujo reino estava dividido entre as dinastias Jin e Song. As vastas plantações de arroz e riquezas da cidade atraíram mais atenção de Genghis Khan do que a possibilidade de se tornar senhor da China. Na conquista do reino Jin, Genghis Khan recrutou um jovem chamado Yeh-lu Chu'u-ts'-ai como seu conselheiro pessoal. Essa influência tornou Genghis Khan mais tolerante e menos agressivo em batalha, estimulando-o a evitar esforços exagerados na guerra e conservar as terras cultivadas ao invés de transformá-las em pastagens. 
                   Quando marchou até Pequim, o mais avançado centro urbano da época, viu que a cidade era cercada de muralhas de doze metros de altura. Naturalmente que uma luta em campo aberto seria impossível. Diante disso não teve nenhuma pressa; acampou seu exército cercando a cidade e impediu que os suprimentos entrassem em Pequim. Esses suprimentos foram usados para suprir seu exército. Com a ajuda de engenheiros chineses  dissidentes, construiu catapultas e outros artefatos de guerra e, finalmente, invadiu e em 215 dominou e arrasou  aquela grande cidade. Os chineses constroem para ele uma nova capital, Karakorun, à beira do rio Orkon. Domina o reino de Quara Khitai no Turquestão Oriental, em seguida ataca o Turquestão Ocidental e faz desaparecerem ads cidades de Samarkhand, Nichapur e Herat. Faz expedições à Pérsia, à Geórgia e ás planícies do Rio Don.  Ao morrer em 1227, seus mongóis já controlavam toda a Ásia superior, numa extensão de 6.000 quilômetros. Genghis Kham é sucedido em 1229 por seu terceiro filho, Ogodei, que se torna Grão Khan. Sob seu reinado, a conquista mongol prossegue permanentemente ao progresso de sua civilização. Ogodei estabelece a capital de seu império em Karakorum (1235) que se torna a mais faustosa das cidades. 
              Os exércitos mongóis continuaram invadindo novas terras. Em pouco tempo faz cair sob seu domínio toda a Pérsia. Em seguida penetram na Europa; de 1127 a 1240, invadem Kiev a Polônia e a Sibéria; em 1241 vencem os húngaros e chegam até Viena e à Itália. 
                  De 1251 a 1259  Ogodei é sucedido por Mongka, que continua a estender o domínio sobre a China e em 1258 incorpora o califado de Bagdá. 
                Em 1259, sobe ao poder o chefe mongol Kublai Khan para completar o trabalho dos seus sucessores na China. Em 1277 com a queda de
Cantão, a China inteira estava sob domínio mongol. 

                Em 1280, Kublai Khan abandonou Kara-korum e instala-se em Pequim e proclama-se Imperador de China, fundando a dinastia Yüan. 

Para melhor compreender as dificuldades enfrentadas pelos mongóis para invadir a China 
é preciso lembrar que a Muralha da China já existia  desde 246 a.C. 
                   A construção da Muralha começou  no ano 246 a. C.
                   Na China havia chegado ao poder o jovem Imperador Chines Chi Huang-ti, filho de uma "bailarina ambulante", que após a morte do pai, no ano 246 a. C., com a idade de 13 anos, assumiu um poder, para o qual, certamente não estava pronto. Pelo medo e sua criativa imaginação, idealizou a construção da grandiosa Muralha da China, que na época estava toda dividida em estados separados e sempre em pé de guerra.
                   Esse jovem imperador vivia em permanente pânico e ameaçado por tudo, mas possuía um dom especial de escolher bem os generais e primeiros-ministros. 
                 A Grande Muralha impediu as invasões durante mais de 1400 anos. E, então, no século XIII, surgiu o  Grande Gengis Khan. Esse guerreiro mongol, um dos conquistadores mais terríveis que o mundo já conhecera, tomou de assalto a Grande Muralha e invadiu a China; mas nem mesmo ele conseguiu  conquistá-la definitivamente. Os mongóis sucederam no poder os imperadores da dinastia "Ming".
                 
                 Durante 300 anos, estes reforçaram e acrescentaram novos trechos da muralha. Os manchos, outros povos mongóis, proveniente do Norte, abriram brechas em seus muros, em 1644, após um cerco de 30 anos, apoderaram-se de China. 


O declínio e a expulsão dos Mongóis da China
               Depois de ter pacificado e dominado a Coréia, Kublai Khan mandou emissários ao Japão para exigir vassalagem, mas esse país recusou-se a reconhecer a soberania do Grão-Khan. Em 1273 os mongóis atacaram o Japão sem sucesso. Fracassaram também as expedições a Java e à Indochina, em 1292. 
              Kublai Khan morreu em 1294 e foi sucedido pelo neto Temur, que adotou o nome chines de Theg-Tsong; mudou as leis para lhe favorecer a sucessão por hereditariedade, mas teve grande oposição entre seus membros e teve de lutar contra os próprios mongóis. 
                 Temur  permaneceu no trono até 1307, e com muito custo manteve a potência mongol. Em seguida teve de enfrentar as massas pobres chinesas que se reuniam nas aldeias em rebeldia contra ele. Logo em seguida criaram sociedades secretas para opor resistência aos mongóis.
                 Em 1355, o sul da China estava em revolta aberta contra a ocupação mongol, enquanto isso o norte era novamente atacado por tribos tártaras que se aproveitavam do enfraquecimento do império. 
              Com muitas frentes de batalhas espalhadas pelo império houve oportunidade para o fortalecimento das forças rebeldes.
               Em 1368, os rebeldes davam o golpe final, entrando triunfante em Pequim e fazendo o imperador fugir. Os demais mongóis seguiram o destino de seu chefe. Mas os antigos domínios alcaicos só seriam realmente restabelecidos no século XX. 
                 É bem verdade que o desenvolvimento da civilização dos mongóis terminou com sua expulsão da China, mas a cultura deste país permaneceria fortemente influenciada por ela. 


A REPÚBLICA DAS ABELHAS


                Escavações efetuadas no Egito descobriram potes de barro com mel datado de mais de 5.000 anos. Foi uma iguaria muito apreciada pelo faraó Ramsés, Cleópatra, Aristóteles, Platão, Napoleão Bonaparte, etc. 
              A abelha é um símbolo de trabalho e dedicação. Esse pequeno inseto, além de muito disciplinado, é incansável e seu exemplo de organização faz inveja a qualquer exército.         
               No Brasil a mais difundida é a Apis Mellífera adfansonii, vulgarmente chamada de Africana, com grande capacidade de produção e com mel de ótima qualidade. 
                  As abelhas não ouvem as ondas sonoras percebidas pelo homem, entretanto são dotadas de órgãos sensoriais muito apuradas, localizados nos olhos e antenas e com olfato muito apurada. Enxergam no escuro em todas as direções, mas apenas as cores azuis, amarelos e os ultravioletas. ( Esta última nós não percebemos). 
                Comunicam-se através da vibração das asas e das danças características que executam indicando a posição exata das flores e dos inimigos. Outras formas de comunicação são um mistérios mesmo para os cientistas que dedicam toda sua vida ao a estudo deste inseto. 
                 A colônia ou colmeia, é constituída de uma rainha, certa de 70 mil operárias e de três mil zangões. A rainha vive até 5 anos, sendo fecundada por até 10 zangões durante o voo nupcial em espiral para o alto, garantindo sua fertilidade por toda a vida. Leva 15 dias para nascer  e é maior que as outras por ser alimentada exclusivamente com geleia real e chega a por 3 mil ovos diários. Quando o ovo está fecundado nasce a operária, quando não,nasce o zangão e por isto diz-se que ele tem avô, mas não tem pai. 
               As operárias levam 21 dias para nascer e vivem 40 dias apenas. São dotadas de ferrão na sua parte posterior e, quando o ferrão fica preso à sua vítima, ela morre em seguida. 
                As operárias levam a seguinte vida: 
                Do 1º ao 3º dia de vida são faxineiras, limpando a colmeia e os favos. 
                Do 4º ao 14º dia são nutrizes, alimentando as larvas.
                Do 15º ao 21º  são engenheiras, construindo os favos e defendendo a colmeia. 
                Doº 22 ao 40º, são campeiras operárias, colhendo néctar e polem. 
                O zangão é o macho, não possui ferrão, não trabalha e vive apenas para fecundar a rainha, vivendo cerca de 80 dias. Seu super poder de olfato permite localizar uma rainha à incrível distância de 10 km. São um pouco moires que as operárias.  
  
A fisiologia da abelha
                Seu corpo é constituído de cabeça, tórax e abdome. Tem 6 patas, 4 asas e 2 olhos e 2 antenas e o ferrão. No adomem estão as glândulas serígenas (produzem cera), vesícula melífera, coração, ventrículo, intestino delgado, glândulas de olfato, ampola retal, traqueia ferrão, ovário, vagina e espermateca. Estes três últimos só são desenvolvidos na rainha. 
                Na cabeça estão as mandíbulas, língua de 6 mm, olhos, antenas e a faringe. No tórax estão as patas, asas e o esôfago. 

Como a abelha produz mel
                 Ela visita diariamente 1.000 flores colhendo néctar e pólen. O néctar passa pela faringe e esôfago, sendo armazenado na vesícula melífera onde se transformam em mel. Chegando à colmeia ela regurgita o mel no fundo dos alvéolos. O polem ela carrega nas patas e também os guarda nos alvéolos. A geleia real é produzida nas glândulas hipofaringeanas localizadas na cabeça. Se uma abelha só fosse produzir 1 Kg de mel teria de voar à distância até à lua e levaria 12 anos. 

A composição do mel
                O néctar, na vesícula melífera, passa pela ação de duas enzinas; a invertase, que transforma a sacarose em levulose, dextrose e a amilase que transforma  o amido em maltose. 
                    Sua composição final é a seguinte: 
                  Água........ 20% - Glicose ........ 33%  -   Levulose ......... 40%  -  Sacarose ........2%.
                  Contém ainda, proteínas, hormônios, vitamina B1 (tiamina), B2 (riboflavina)   C (ácido ascórbico), B6 (piridoxina), 18 sais minerais, 9 tipos de antibióticos e ainda ácido málico, cítrico, pantotênico, acético, fórmico, glucônico e fólico. 

1 Kg de mel tem 3.400 calorias valendo por 50 ovos, 5,6 litros de leite, 1,7 kg de carne, comparando-se apenas às proteínas. Sua ingestão é muito fácil. 

Informação importante
                O mel puro apresenta-se fluído ou cristalizado. A cristalização depende do tipo de flor e da temperatura ambiente, entretanto, ambos apresentam os mesmos valores. A cristalização consiste na separação da glicose que é menos solúvel que levulose e consequente formação de hidrato de glicose (forma sólida). 
                 Não aqueça o mel em banho maria para torná-lo mais fluído, você estará destruindo as enzimas e os antibióticos. Conserve-o fora da geladeira em lugar seco. 

OUTRAS INFORMAÇÕES 
                   Cada um desses pequenos corpos quase imóveis trabalha sem cessar e exerce um mister diferente. nenhum conhece o repouso e aquele que, por exemplo, parecem mais entorpecidos e perdem de encontro aos vidros em cachos mortos, têm a tarefa mais misteriosa e mais fatigante, formam e segregam a cera. Mas, depressa encontraremos a pormenorização desta atividade unânime. Por agora, basta chamar a atenção sobre o caráter especial da natureza da abelha que explica a acumulação extraordinária deste trabalho confuso. A abelha é antes de tudo, e ainda mais que a formiga, um ser de multidão. Não pode viver senão em monte. Quando ela sai do cortiço, tão cheio que tem que romper, a golpes de cabeça, uma passagem através da muralha viva que a rodeia, sai do seu elemento próprio. Mergulha um instante no espaço cheio de flores, como o nadador mergulha no oceano cheio de pérolas, mas sob pena de morte é necessário, que com intervalos regulares torne a vir respirar a multidão, do mesmo modo que o nadador vem respirar o ar. Isolada de viveres abundantes e na temperatura mais favorável, morre ao fim de alguns dias, não de fome ou de frio, mas de solidão. Da acumulação, da cidade envola-se para ela um alimento invisível tão indispensável como o mel. É necessário que é preciso ter em conta para fixar o espírito das leis do cortiço. No cortiço o indivíduo não é nada, não tem senão uma existência condicional. Não é senão um momento indiferente, um órgão alado da espécie. Toda a sua vida é um sacrifício total ao ser inumerável e perpétuo de que ele faz parte.  
                     Não nos apressemos a tirar destes fatos conclusões aplicáveis à espécie humana. O homem tem a faculdade de não se submeter às leis da natureza; e saber-se se tem ou não razão em usar destas faculdades, é o ponto mais grave e mais obscuro da sua moral. 
                     Para finalizar precisamos levar em conta o que é "espírito do cortiço"; o que é e o que se encarna. Certamente não é semelhante ao instinto  particular da ave que sabe construir o seu ninho particular com perfeição e procurar outros céus quando chega o dia da emigração. Também não é um hábito maquinal da espécie que só procura cegamente viver o que esbarra contra os obstáculos do acaso logo que uma circunstância imprevista desorganiza a série dos fenômenos usuais. Pelo contrário, segue passo a passo circunstâncias originais, como um  escravo inteligente e rápido, que sabe tirar partido das ordens mais perigosas do seu senhor. 


NOTA MUITO IMPORTANTE
Corremos sérios riscos da extinção das abelhas devido aos agrotóxicos. 

sexta-feira, 26 de julho de 2019

A HISTÓRIA DA PIRATARIA- PIRATAS E CORSÁRIOS DO MAR

                  Quando ouvimos falar em piratas dos mares, imaginamos que eram apernas bandidos salteadores que navegavam apenas para saquear outros navios. Mas não era bem assim. 
              A história da pirataria faz parte da própria história da navegação. Desde os tempos mais antigos, quando surgiu as primeiras marinhas, os navegadores mais atrevidos foram mercadores de guerreiros que sulcavam os mares impelidos pelo desejo de ganho ou de conquista, mas que, se a ocasião se apresentasse, assaltavam e depredavam as cidades  costeiras ou os barcos que encontravam em sua rota. 
                     Os célebres piratas da Malásia constituíram, cerca de 1800, um verdadeiros pesadelo para os barcos europeus que sulcavam as águas em volta de Bornéu, Sumatra e Nova Guiné. 
                Se os Fenícios foram famosos como navegadores e comerciantes, merecem sê-lo também como piratas, profissão esta que não consideravam em nada desonrosa. Por muito tempo, a aparição de seus navios compridos e finos, pintados de preto, foi recebida com justificável temor em todo o Mediterrâneo. Navegadores e, conforme a ocasião, piratas, foram os Pelasgos, os Helenos e os Egípcios;navios piratas, na antiguidade, infestavam os mares e as costas da Dalmácia, da Ásia Menor, da Argélia e do Marrocos. 
                  Vencida Cartago e as cidades aliadas, Roma precisou tomar medidas excepcionais para combater a pirataria que se havia grandemente difundido durante a guerra contra Mitridates. Os Piratas, especialmente os cilícios, que tinham suas tocas na costa meridional da Ásia Menor e nas Ilhas Egéias, capturavam as embarcações mercantis romanas e ameaçavam continuamente as costas da República. Contra ele Pompeu conduziu, em 67 a. C., uma grande expedição militar  e, em oitenta e sete dias, destruiu-os. 
                Após a queda do Império Romano, a pirataria refloresceu e, durante toda a Idade Média, os ladrões do mar encheram as crônicas com suas proezas. 

               Quando, com a descoberta do Novo Mundo, os tráficos marítimos transferiram-se do Mediterrâneo para o Atlântico e o Pacífico, a pirataria encontrou, nas novas rotas, a isca convidativa das imensas riquezas que da América eram comboiadas para a Europa. E não devemos esquecer, neste rápido quadro, os longínquos mares do Oriente, onde Chineses, Japoneses, Polinésios e Hindus exercitavam a pirataria desde quando as primeiras pirogas e os primeiros juncos foram embalados pelas ondas. 
                  Durante muitos séculos, embarcações e localidades costeiras da China foram, frequentemente, saqueadas por assaltantes vindos do vizinho arquipélago do Japão. 
                Em qualquer época, então, e sobre todos os mares, houve, sempre, aventureiros que julgavam mais conveniente, ainda, que algo perigoso, apoderar-se, pela violência, de mercadorias que, habitualmente, a gente honesta costuma adquirir pagando. Por vezes, porém, o fenômeno da pirataria não se limita a uma ação de banditismo isolada no mar. Ele se torna mais vasto e adquire uma notável importância no quadro dos acontecimentos históricos. Os Viquingues disso são um exemplo. A escassez de terra cultivável em sua pátria compeliu-os a viver de saque e rapina e, durante cinco séculos, aterrorizaram as costas da Europa. Nestes casos, a pirataria transforma-se em guerra, como acontece ao tempo dos corsários barbarescos que infestam o Mediterrâneo e participam da batalha de Lepanto, ao lado dos navios do Islã. Outro  exemplo de pirataria organizada, de vastas proporções, característica de uma época histórica, é dado pela associação dos flibusteiros, que se desenvolveu no século XVII, nas águas das Índias Ocidentais. 
                A este ponto, precisamos explicar o significado de dois termos - pirata e corsário - que, geralmente, são erroneamente empregados como sinônimos. 
                Piratas são os ladrões do mar, que assaltavam, indiscriminadamente, os navios, para tomar-lhes a carga e, antigamente, para vender como escravos os marinheiros da tripulação. Os corsários também assaltavam os navios para saqueá-los, mas suas ação era exercida somente contra as naus de uma nação inimiga de sua pátria. Eles andavam munidos de uma comissão legal ou autorização do seu soberano para exercer a guerra de corso; esta carta patente fazia com que os considerassem como combatentes, ao passo que os piratas, quando apanhados, erm castigados sem remissão e enforcados, como criminosos comuns, sobre o mastro do barco que os capturava. 
               Assim, diante desta distinção, um corsário sentir-se-ia grandemente ofendido se o chamassem de pirata ou bandido do mar; julga-se, portanto, que o pirata  era pior do que o corsário, mas, na prática, houve corsários que se comportaram como piratas da pior espécie. O corsário, então, degenerava em pirata, e o tribunal da presas,que tinha a incumbência de julgar o comportamento dos corsários, nem sempre foi suficiente para fazer passar como ações de guerra legítima certos abomináveis atos de baixo banditismo. 
                 Com o progresso do poderio árabe, nos IX e X séculos, os países cristãos viveram sob a contínua ameaça dos piratas sarracenos que, partindo das costas da África setentrional e da Espanha, infestaram com suas incursões toda a bacia mediterrânea , paralisando-lhe o comércio, devastavam-lhe as costas, conseguiram conquistar a Itália meridional, a Sicília, e Provença, Rodes, Creta e as Baleares; no século IX, destruíram Tariento, chegaram a Roma e saquearam-lhe as igrejas. A república de Amalfi combateu-os durante e mesmo fez a poderosa frota de Bizâncio. No século XI, os Sarracenos estavam praticamente destruídos mas, depois de quatrocentos anos, seus feitos foram repelidos e superados pelos piratas barbarescos, que, geralmente, imperavam sob as ordens dos sultões turcos. Eles eram habilíssimos marinheiros, além de audazes aventureiros. Entre estes salteadores, recorde-se o famoso Khair-ad-din, conhecido como Barbaroxa, que foi senhor de Argel e de Tunísia, almirante da frota turca, cerca de 1535. Seus sucessores ocuparam a região compreendida entre Marrocos e Tunísia.
              As costas do Mediterrâneo ofereceram seguros abrigos aos piratas, mas estavam também sujeitos às incursões dessa gente. Frequentemente, os Sarracenos desembarcavam nas costas da Itália meridional, saqueando e reduzindo à escravidão os habitantes  que não conseguissem fugir.  Com o decorrer do tempo, aventureiros europeus de qualquer nacionalidade juntaram-se aos Barbarescos, cujo poderio aumentou sempre mais até tornar inseguras também as rotas e as costas do Mar do Norte. Apesar dos esforços das esquadras inglesas, francesas, holandesas e espanholas, a pirataria barbaresca não dava mostras de desaparecer e, ainda em 1829, muitos países mediterrâneos, como a Sardenha, Nápoles, a Toscana e outros, pagavam um tributo ao soberano de Argel, para não verem seus barcos sistematicamente atacados e depredados. No ano seguinte, a França ocupou Argel e somente então a livre navegação no Mediterrâneo ficou assegurada. 
               As florescentes repúblicas marinhas italianas perdiam, muitas vezes, por causa dos ataques dos piratas, as preciosas cargas que seus navios traziam do Oriente. Sobretudo as aguerridas galeras venezianas deram, durante anos, caça sem trégua, por vezes inúteis, às embarcações barbarescas que cruzavam o Mediterrâneo, tornando inseguros os ricos tráficos da Sereníssima.
                 Na luta secular contra os barbarescos, distinguem-se os corsários "patente de corso", eles combateram, no mar, os inimigos do Rei da França. Tinham como importante sentido da honra e suas tarefas jamais degeneraram em atos de baixa pirataria; o Rei recompensou-os com graus militares e com títulos nobiliárquicos. O mais famoso de todos foi Jean Bart, honrado como herói nacional. Em 1672, quando Luiz XIV declarou guerra à Holanda, Jeam Bart tinha 22 anos, mas sua forma de audacíssimo e hábil marinheiro já estava tão consolidada que recebeu o comando de um navio de corso, o Rei Davi. Era uma modesta galeota de 35 toneladas, mas, para o corajoso Bart, foi suficiente para atacar  e capturar, em sua primeira sortida, sete navios mercantes holandeses. Ao fim da guerra, em 1678, Bart, agora com 28 anos, vencera dez batalhas. Já estava rico, tendo recebido do tribunal das presas um parte dos enormes despojos tomados do inimigo, e o "Rei Sol" demonstrou-lhe seu agrado, nomeando-o lugar tenente de fragata da marinha real e enviou-o contra os piratas barbarescos.
                 Em 1688, deflagrou a guerra entre a França e a Inglaterra, e Bart exibiu ainda seus incomparáveis dotes de marinheiro e de corsário, efetuando proezas que têm algo de fabuloso. Nomeado cavaleiro de São Luiz  e almirante, morreu aos 53 anos, devido a um banal resfriado, após haver arriscado a vida centenas de vezes. Durante três séculos sua família tinha exercido a pirataria; seu avô e seu pai tinham sido mortos quando iam à abordagem, e um seu tio fizera explodir seu barco, com ele dentro, para não cair nas mãos dos Ingleses que o circundavam. Os Bart eram originários de Dunquerque, e isso explica sua singular vocação. 
               Realmente, a pequena cidade de Dunquerque, de tranquilo centro de pescadores transformara-se em um temível covil de piratas, após complicadas vicissitudes de domínio, de lutas religiosas e de interesses econômicos, que determinaram em seus habitantes um implacável ódio contra os Ingleses  e, especialmente, contra os Holandeses. Os piratas de Dunquerque, favorecidos pela sua posição, interceptavam facilmente os navios de carga e de pesca que atravessavam o Passo de Calais e caiam sobre eles com seus velozes barcos de fundo chato. 
                 No século XVI, o campo de ação da pirataria  estendeu-se às novas rotas do Atlântico, ao Mar dos Caraíbas, ao Golfo do México, e as Índias Ocidentais foram teatro de novas empresas de banditismo, conduzidas com incrível audácia e, frequentemente, com desalmada ferocidade. Os corsários da rainha Elisabete, os flibusteiros e os bucaneiros já inspiraram inúmeros romances, mas se pode afirmar que a realidade esteve bem acima da fantasia dos romancistas. 
                   Também neste período, a pintura assumiu o aspecto de um característico histórico. Depois da viagem de Colombo, a colonização espanhola foi aos poucos se afirmando no  Novo Continente, onde surgiram portos, como Maracaibo, Santa Maria, Puerto Cabelo, Vera Cruz e Panamá. Este último era o coração do Império, para onde afluíram todas as riquezas das terras conquistadas, o ouro das minas, dos templos, dos palácios dos Íncas, as pedras preciosas dos Andes e as especiarias das Filipinas. Do Panamá, os tesouros eram transportados, no lombo de mulas, através do istmo, e carregados para Nombre de Dios ou Puerto Cabelo, para os navios que viajavam rumo à Espanha. Da metrópole, expediam-se para as colônias os produtos indispensáveis para sua subsistência: manufaturas, tecidos, utensílios, mas em quantidade insuficiente às necessidades. O governo espanhol impusera o mais absoluto monopólio sobre o comércio entre o Velho e o Novo Mundo, nos quais, em consequência, se sentia falta de muitos bens de consumo. Surgiu, assim, o contrabando e, deste, à pirataria, o passo foi breve. Já em 1536, um navio de contrabandistas franceses apoderou-se de uma embarcação espanhola e, sucessivamente, a pirataria assumiu proporções tais que ameaçava seriamente o poderoso espanhol.  Em 1568, as proezas do inglês Hawkins, contrabandista, pirata e negreiro, eram considerados como legítimas pelos seus compatriotas, como protesto pela hegemonia da Espanha. Com ele, iniciou sua carreira Francis Drake, que se tornou um dos mais famosos corsários de todos os tempos. 
                Francis Drake, em 1572, na idade de cerca de 30 anos, chefiava uma audaz expedição contra a cidade de Nombre de Dios e, ao voltar para a Inglaterra, sua fama lhe valeu a admiração e o apoio da rainha Elizabeth. As relações políticas com a Espanha andavam muito tensas e a rainha aprovou um arrojado plano de Drake, contribuindo até, pessoalmente, com mil coroas para seu financiamento. Drake propunha-se ferir o império espanhol, ou melhor, atacá-lo pelas costas, de surpresa, em suas cidades riquíssimas, na costa do Pacífico, que estavam pouco ou nada defendidas, porque se consideravam ao abrigo das incursões pelo mar. Ele partiu de Plymouth, em 1577, com cinco navios. Refazendo o roteiro de Magalhães, tocou por primeiro em Cabo Horn e entrou no Pacífico, caindo sobre alguns barcos espanhóis e sobre localidades do litoral. Em primeiro lugar, seguiu para o norte, rumo à baia onde surge, hoje, São Francisco; depois seguiu para o oeste, tocou nas Molucas, dobrou o Cabo da Boa esperança e, após três anos de ausência, voltou para Plymouth, com um único navio e a tripulação dizimada, mas carregado de despojos. Foi recebido como um triunfador e, nomeado vice-almirante, conduziu com alterna fortuna, mas com constante coragem, outras numerosas expedições. Obteve, ainda, da Rainha, um título nobiliárquico.
                Nas pegadas de Hawkius e Darque, operaram Clifford, Cavendisk, Norton, Frobisher, Raleigh, corsários ou piratas, segundo as circunstâncias. Mas foi justamente neste período que se afirmou o poderio marítimo inglês, retirando da Espanha a hegemonia do mar. Elisabete promoveu e encorajou, de todos os modos, a guerra de corso, em vantagem da Inglaterra e do tesouro real. Concedeu sua proteção a Sir Walter Raleigh que, para conservar a amizade da Rainha, homenageou-a com um quinto da imensa presa arrancada dos Espanhóis, na expedição de 1592. Depois da morte de Elisabete, a sorte de Raleigh mudou; por ordem de James I, foi decapitado. 
                    A rainha Elizabete gostava de ouvir da boca do Darke a narrativa das aventuras por ele vividas em suas viagens em volta do mundo. O nome de Francis Darke. famoso pelas suas proezas, está também ligado à história da navegação e das descobertas geográficas e, curioso pormenor, ao grande corsário se atribui a entrada da batata na Europa. 
                    Com a descoberta da América, os corsários ingleses, holandeses e franceses, sob o patrocínio de seus governos, começaram a bater as rotas do Atlântico, dando caça aos galeões espanhóis. Estes grandes e pesados navios, que Drake chamava de "patos dourados". constituíam a presa mais cobiçada, porque transbordavam de tesouros.que a América, a nova fonte de riqueza oferecia.  
                  Após os grandes capitães da época elisabetana, entraram em campo os bucaneiros, corja de bandidos ingleses, holandeses e, especialmente, franceses, que tinham em comum o ódio contra a Espanha. aliado à ânsia de se apoderarem de suas riquezas. 
                  Haiti e as ilhas menores, abandonadas pelos conquistadores espanhóis, e despovoadas de bois e de porcos em estado selvagem . Marinheiros desertores, náufragos, fugitivos e aventureiros de toda espécie ali se haviam estabelecidos desde o início do século XVI e ali exercitavam a caça, levando uma vida assas primitiva, unidos numa espécie de sociedade denominada "Irmãos da Costa". A carne dos animais mortos era vendida aos navios de passagem, após ter sido salgada e defumada pelo método particular empregado pelos Caraíbas, que denominavam bucan aos lugares onde as preparavam. Desta palavra derivou o termo bucaneiros, para indicar os caçadores. Mas, como os bucaneiros se tornavam sempre mais numerosos, os Espanhóis começaram a combatê-los, e, então, os caçadores se transformaram em piratas, estreitando aliança com os flibusteiros ingleses, que tinham suas tocas nas costas da jamaica. O vocábulo flibusteiros (que significou saqueador ou livre bandido) teve, por algum tempo, sentido diferente de bucaneiro, mas, depois, ambos os termos foram sendo confundidos e serviram para designar, em geral, os piratas das Antilhas. A ilha da Tortuga (Tartaruga) foi a muito bem defendida fortaleza dos bucaneiros e a escala de todos os navios que, naquelas paragens, se dedicavam ao contrabando e à pirataria. 
                Aquele que por primeiro conduziu os bucaneiros a uma ação em grande estilo foi um vandeano, José Davi, Nav, cognominado o Olonês, o malfeitor mais sanguinário e feróz que jamais infestou os mares. Em 1667, ele deixou a Tortuga, comandando oito navios, com 400 homens, e depredou as cidades de maracaibo e Gibraltar, torturando os habitantes, incendiando e destruindo tudo. Depois de outras proezas desse naipe, Olonês acabou prisioneiro de uma tribo de índios, que o esquartejaram. Certamente, mais famoso do que o Olonês, mas não menos feroz e ávido, foi o irlandês  Henbry Morgan, que iniciou sua carreira na Jamaica, como flibusteiro, e em Jamaica a concluiu, com o título de Sir e com o cargo de Vice-governador da ilha, obtidos do rei da Inglaterra, Carlos II, em reconhecimento às suas ações de guerra contra a Espanha. Mas os seus foram, acima de tudo, atos de salteador; a tomada de Puerto Cabelo concluiu-se com uma carnificina e com um saque que duraram quinze dias. As populações de Maracaibo e de Gibraltar foram submetidas a incríveis torturas, Panamá foi despojada e destruída por um incêndio. E esta última empresa foi realizada quando Inglaterra e Espanha mal haviam firmado um tratado de paz. 
                  Henry Morgan, que viveu no século XVII, passou à História como uma das mais cruéis figuras da "guerra do corso". Embora fosse um corsário, geralmente, seus feitos eram ainda mais desalmados do que os dos piratas. Entre vários episódios que demonstram sua absoluta falta de humanidade a respeito dos prisioneiros, basta recordar o seguinte: para conquistar a fortaleza de Puerto Cabelo, ordenou aos seus bandidos que levassem diante de si, como escudo, frades e freiras, capturados nos conventos da cidade, os religiosos foram todos massacrados. Mas nem todos os corsários foram tão cruéis como Morgam Drake, por exemplo, muitos foram generosos e leais para com os inimigos vencidos.
                Em fins do século XVII, os flibusteiros foram perseguidos e depois dispersos, também pela França e pela Inglaterra, que até então os haviam favorecido, em consideração aos danos que causavam ao comércio espanhol. 
                  Em sua breve carreira de pirata, o capitão Bartolomeu Robert capturou quatrocentos navios. Vestia-se sempre de vermelho e proibia  aos seus homens que jogassem dados aos domingos.  Era abstêmio, mas, quando foi surpreendido por uma belonave inglesa, sua turma estava embriagada. Roberts morreu no tombadilho do seu barco. 
                Uma volta à pirataria verificou-se depois do tratado de Utrecht (1713), quando, tendo ficado decidido o desarmamento  dos navios de guerra e de corso, muitos capitães preferiram à paz o banditismo no mar. A Ilha da Providência, ao sul da Flórida, foi refúgio dos piratas com bandeira de crânio e tíbias cruzadas. E os tristes heróis do Jolly Roger chamaram-se Roberts, Teach, Barbanegra, capitão Kid, John Avery. Muitos desses delinquentes morreram na forca, castigados pelos seus próprios compatriotas. 
                  A guerra de corso teve um despertar em 1806, quando a Inglaterra instituiu o bloqueio aos portos franceses  e Napoleão resolveu fechar o Continente ás mercadorias britânicas. Ainda algum episódio de pirataria se verificou em todo o século passado, especialmente nos mares orientais, mas também no Mediterrâneo. 
                 Durante o conflito de 1914- -1918 , alguns navios alemães conduziram guerra de corso nos oceanos. O Endem, que , ao deflagrar a guerra, se encontrava na China, e os cruzadores auxiliares Möwe, Wolf  e Seeadler, que conseguiram furar o bloqueio britânico às águas germânicas, foram os últimos navios corsários. 
                Em 1826, José Garibaldi encontrava-se no bergantim "Costanza", que foi depredado, no Egeu, por dois caiaques de piratas gregos. A Grécia estava, então, em revolta contra os Turcos, e seus corsários assaltavam as galeras dos dominadores. Não faltaram, porém, os piratas que, impelidos pela miséria, atacavam barcos de outras nacionalidades. 
               A seguir, a navegação a vapor, o controle dos mares , a radiotelegrafia, puseram termo a esse fenômeno que , se por vezes se revestiu de certos aspectos sugestivos e romanescos, foi, certamente, um dos mais tristes , na longa história da Humanidade. 



               

segunda-feira, 22 de julho de 2019

COMO FOI INVENTADA A MÁQUINA DE ESCREVER

  
              Vejamos agora, como nasceu essa máquina que , em tempo relativamente breve, percorreu tanto caminho. Como sempre acontece em matéria de invenções, é difícil estabelecer, de maneiro precisa, a propriedade ada ideia. De qualquer maneira, um foto curioso é que, desde 1714, data de registro de uma patente do inglês Henry Mill para um engenho mecânico que permitia imprimir, por meio de alavancas, uma escrita sobre uma folha de papel, até quando uma análoga patente foi registrada em nome do italiano Pelegrino Turri (1803), a concepção das máquinas de escrever foi exclusivamente feita no sentido de ajudar aos cegos. Sentado diante de algo, que poderia ser comparado ao velho cravo musical, o cego, levantando alavancas dotadas de letras tipográficas, conseguia, com bastante facilidade, formar, no papel, um pensamento. 
                    Mas nos primeiros anos do século XIX, nasceu, contemporaneamente, em vários países, inclusive no Brasil, como veremos adiante , a ideia de que semelhante engenho poderia servir  também pára aqueles quem enxergavam . Em 1829, o americano William Austyin Burth obtinha a patente para um seu modelo de máquina de escrever, que ele denominou Typografh. Poucos anos depois, o francês Xavier Projean (1833) dava um passo à frente, inventando uma análoga ( Ktypographe), na qual, porém, os martelinhos batiam, através de uma fita copiativa, sobre um cilindro central. O americano Charles Th'urber, em 1843, modificou ainda a ideia, melhorando-a. 
                   Seguem-se outros inventores: Oliver T. Eddy (1850), J. B. Fairbankes (1850, Hughes (1850), Wheaststone (1851), Jones (1852), A. Ely Beach (1856), Samuel W. Francis (1857), J. H. Cooper (1856) Henry Harger (1858), F. A de may (1863) e John Pratt 1866). 
               Entretanto, até aquele momento, todas essas máquinas obedeciam a uma única característica: cada letra era impressa após um movimento de teclado. Foi o italiano Giuseppe Ravizza, um advogado de Novara, o primeiro a idealizar uma máquinas com o teclado fixo e o movimento do carro em sentido longitudinal (enquanto o papel se movimentava em sentido vrtical), o que constituíam verdadeiro progresso nesse campo. Para esse seu engenho (modelo), o governo da Sardenha entregava a Ravizza uma patente que documentava a prioridade da ideia. Nas anos sucessivos, ele aperfeiçoou sua invenção, criando novos modelos, mais práticos. Mas ainda restava muito para resolver e Ravizza não o ignorava, A escrita invisível, porque os martelinhos batiam sempre no lado inferior do cilindro, pelo que era necessário, todas as vezes, levantar o carro para verificar o que estava escrito. Diante disso, o genial advogado pôs mãos à obra, a fim de criar um novo tipo de máquinas de escrever que eliminasse tal movimento 
                  Entrementes, outras patentes para máquinas de escrever, não muito diferente daquelas de Ravizza, tinham sido concedidas nos Estados Unidos. Um deses construtores, Cristóvão Latham Sholes, um jornalista e tipógrafo mais empreendedor que os demais, pensou em dirigir-se a uns ricos armeiros, Irmãos Remington, de Ilion , Haekimor, Nova York, para auxílio financeiro. Os Remington, imediatamente, verificaram que a máquinas de escrever tinham um belo futuro e, como a guerra civil já terminara, deixaram de fabricar espingardas e começaram a construir, ao lado das máquinas de costura, também máquinas de escrever. Coria o ano de 1867. Em 1874, aperfeiçoando o modelo de Sholes, um bom número de sólidas máquinas de escrever já havia saído das oficinas Remington, que compraram o invento por 12.000 dólares, quantia fabulosa para a época. 
                 O primeiro a procurar inspiração no teclado do címbalo escrevente foi o Senhor Clemens, o autor das "As aventuras de Tom Saweyer", que nós todos conhecemos melhor sob o pseudônimo de Mark Twain. Em 1875, Twain escrevia à Sociedade Remington: "Rogo-lhes não contas a ninguém que possuo uma de suas máquinas. Escreveram-me de toda parte, perguntando-me como é feita e quais as vantagens que possuo em usá-la. Não gosto escrever cartas e, por isso, desejo que ninguém saiba que estou usando esse estranho objeto." 
                 A curiosidade do público foi logo satisfeita. Durante a exposição de Filadélfia, em 1876, qualquer pessoa, pagando 25 m centavos, podia ter o privilégio de enviar uma mensagem ou uma saudação datilografada. Note-seque essa maravilha estava ainda com os caracteres quase invisíveis e somente com letras maiúsculas. 
                Remingtn adquiriu, no ano seguinte, o modelo de Ravizza (nº 12), e aperfeiçoou-o inserindo, num único martelinho, a letra maiúscula e a minúscula. 
                 A conquista do mercado foi lenta, mas definitiva, e a primeira e bastante aperfeiçoada Remington passou a ser justamente designada como "Antepassada de Todas as Máquinas de escrever."
                  Encorajado pelo lucro, continuou com as experiências  Ravizza e criou, finalmente, o seu modelo nº 16, com escrita visível. Esta máquinas, apresentada numa exposição, em 1883, representa, realmente, um marco importante  na técnica datilográfica. 


Surge um inventor brasileiro


                   O Padre Francisco João de Azevedo nasceu em 1814, na capital da Paraíba, hoje João Pessoa. Estudou e ordenou-se em 1838 no Seminário de Olinda, em Pernambuco, onde se matricula em 1835. A seguir, dedicou-se ao magistério, tendo regido várias cadeiras, especialmente as de geometria, mecânica e desenho, no arsenal guerra de Pernambuco. Segundo afirma o notável professor Ataliba Nogueira, da Universidade de São paulo, em sua obra Um Inventos Brasileiro, o Padre Azevedo, matemático, mecânico, taquígrafo e propulsor do ensino técnico, viveu a maior parte de sua laboriosa vida em Recife, onde sempre pontificou nos domínios da física e da mecânica. Graças a seus estudos, e instado por amigos, apresentou, em 1861, para m figurar entre os vários objetos da Exposição dos Produtos naturais, Agrícolas e Industriais das Províncias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, inaugurada em 16 de novembro daquele ano, a máquina de escrever de sua invenção. 
                 Do  catálogo desse certame constam os seguintes dizeres: "Expositor, o Padre Francisco João de Azevedo.  Número 67. Uma máquinas de escrever. Foi o mais procurado dos objetos da Exposição e certamente o mereceu pelo engenho com que está organizada. Eis aqui a sua descrição: "Representa e tem a configuração de uma espécie de piano pequenino, com um teclado contendo dezesseis teclas, oito à direita e oito à esquerda. Logo que se comprime uma das teclas, que representa pequena alavancas, ergue-se, na extremidade dela, uma delgada haste, que tem na ponta superior uma letra esculpida em metal, em alto-relevo, a qual vai encaixar-se com outra igual, esculpida em baixo relevo, em uma chapa metálica fixa em cima dessas hastes. Uma tira de papel da largura de três dedos, pouco mais ou menos,  e de um comprimento indefinido, passando por um movimento contínuo entre esta chapa e as hastes das letras, é por elas comprimida e recebe a impressão dessas últimas, que conserva inalterável. As letras que compõem uma sílaba saem impressas no papel em uma mesma linha horizontal, ora juntas, ora apartadas umas das outras, e o decifrador não tem outro trabalho mais do que ajuntar as diferentes sílabas para formar as palavras."
                        Segundo o emérito professor, que faz desfilar, em seu livro, uma longa lista de
precursores, desde os meros idealizadores aos primeiros fabricantes de engenhos, que não escreviam, Francisco João Azevedo realizou a primeira máquina de escrever prática e industrializável. É, portanto, o verdadeiro e legítimo inventor da máquinas de escrever.  A Remington, apreciada doze anos depois da sua é, apenas, a primeira máquinas de escrever  industrializada. 
               O primeiro material empregado pelo nosso patrício foi unicamente madeira, com tipos de impressão e fio de arame. A esse engenho, ele deu o nome de Mecanógrafo. Mais tarde, na Exposição Geral do Império do Brasil, inaugurada em 2 de dezembro de 1861, data natalícia do imperador Dom Pedro II, o Padre Azevedo recebeu, das mãos de Sua majestade Imperial, uma Medalha de ouro e, em 14 de Março de 1862, uma Menção Honrosa. Cumpre notar  que foi a única máquina de escrever apresentada na Exposição. Doze anos depois, ou seja, em 1873, é que apareceram outros "inventores", baseados no modelo do Padre Azevedo, que veio a falecer em 26 de julho de 1880, em sua terra natal. 
                    Assim, tal como fizeram com Santos Dumont, diz o professor Ataliba Nogueira, foi o Padre Francisco João de Azevedo esbulhado de seu invento. O autor refere-se , ainda, ao bacharel Jesuíno Antônio Ferreira de Almeida, de São Paulo, que obteve, por decreto nº 3.971, de 2 de setembro de 1867, privilégio por 10 anos, para usar, no império, de uma máquina de escrever de sua invenção. "Era tão perfeita que escrevia um discurso em cinco minutos."

As máquinas modernas

               A partir daquele momento, as patentes de registro para melhoramentos e modificações nas máquinas de escrever foram muitas. Cada país, cada fábrica, procura superar os concorrentes com um modelo mais aperfeiçoado, que ofereça vantagens na precisão, maios facilidade de manobra e qualidades estéticas mais apreciáveis. Os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha, a Suíça, a Itália, A frança e até o Japão, competem entre si para lançar no mercado as máquinas mais resistentes pelo preço mais conveniente. Mas, logicamente, os tipo tendem a padronizar-se, a fim de evitar que alguém que aprendeu a escrever na máquina de uma determinada marca encontre dificuldade ao adquirir outra.
                  Chegou-se, assim, ao ano de 1900. Os fabricantes compreendem que devem generalizar o emprego da máquina adaptando-a a todas as categorias sociais. Urgia orientar-se rumo a uma produção de modelos menos embaraçosos, mais simples e de fácil transporte. Nasceu, assim, a máquina de escritório portátil, leve e silenciosa. Em seguida, é fabricada a primeira máquina acionada eletricamente, que tão útil se revelou em múltiplas aplicações. Assinalaremos ainda, as principais: automática e recalque, uma máquina de escrever combinada com elementos de cálculo, que permite executar, ao mesmo tempo, escritas e cálculos; as máquinas estenográficas, a teletipo, que transmite e recebe escritas à distância, e a criptográfica, que traduz diretamente mensagens cifradas. Estas máquinas obedecem ao princípio de telegrafia. 
                  A máquina automática permite, ao invés, a realização de um elevado número de nítidos exemplares. 
                 A Varytiper possui a vantagem de poder contar os caracteres dobre uma chapinha móvel, facilmente substituível. Disso deriva a possibilidade de mudar rapidamente o tipo de caracteres e do alfabeto, o que é muito importante para escritórios que mantém relações internacionais. A própria máquina pode variar de espacejamentos e interlines com a máxima facilidade. Os técnicos são de opinião unânime que a disposição das letras, no chamado teclado Universal, poderia ser tornada muito mais nacional, mas ninguém ainda ousou introduzir modificações nesta tradição, com receio de  encontrar dificuldades nas vendas. Todavia, em algumas escolas, foram feitas tentativas para adestrar novas gerações de datilógrafos, habituando-os a uma nova disposição das letras, e isso parece ter dado ótimos resultados.
                  Antigamente era dificultoso  transportar as máquinas de escrever, dados o tamanho e o material empregado na fabricação, que era pesadíssimo. Depois foi feito  o lançamento das máquinas portáteis que facilitou muito o trabalho de executivos, estudantes, enfim, do público em geral. Para escritórios, as máquinas elétricas de mesa foram muito utilizadas, pela rapidez e leveza do teclado. Hoje os computadores tornaram aquelas maravilhosas máquinas em objetos obsoletos. 




quinta-feira, 18 de julho de 2019

ZARATUSTRA - Nicéas Romeo Zanchett

             
O advento do profeta. 
A religião persa antes de Zaratustra.
A Bíblia da Pérsia.
Os espíritos do bem e do mal. 
A luta pela posse do mundo. 

                A lenda persa narra como, muitas centenas de anos antes do nascimento de Cristo, um grande profeta apareceu no Airyana-vaejo, o antigo "lar dos arianos". O povo dava-lhe o nome de Zaratustra; mas os gregos, que não suportavam com paciência a ortografia dos "bárbaros", chamavam-lhe Zoroastro. A concepção de Zaratustra era divina. A lenda diz que seu anjo da guarda entrara na planta haona e passara com a seiva para o corpo dum sacerdote, quando este oferecia um sacrifício divino; no mesmo instante um raio da gloria celeste entrou no seio duma virgem de alta linhagem. O sacerdote desposou a virgem, o anjo assimilado pelo seu corpo misturou-se com o raio aprisionado, e assim, surgiu Zaratustra. Começou rindo alto no próprio dia do nascimento, e os espíritos maus que se reúnem em torno de cada nova vida fugiram dele em tumulto e terror. Seu grande amor à justiça e à sabedoria fê-lo afastar-se da sociedade dos homens e ir viver no agreste das montanhas, alimentando-se de queijo e frutos da terra. Tentou-o o Diabo, mas sem vantagem. Seu peito foi varado por uma espada, e suas entranhas enchidas de chumbo derretido; ele não se queixou e ainda mais se aferrou à fé em Ahura-Mazda- o Senhor da Luz, deus supremo. Mazda aparece-lhe e põe-lhe nas mãos o Avesta, ou Livro da Ciência e da Sabedoria, mandando que o pregasse ao gênero humano. Por muito tempo o mundo o meteu a riso e perseguiu; mas por fim um alto príncipe do Irã - Vishtaspa ou Histaspes - o ouviu com alegria e prometeu-lhe espalhar a nova fé. Assim nasceu a religião de Zoroastro. Zaratustra viveu vida longa, sendo consumido por um raio e subiu ao céu. 
               Não podemos dizer o que há nesta lenda de verdadeiro; só algum Josias o descobriria. Os gregos aceitaram-na como história, honraram-na e deram-lhe uma antiguidade de 5.500 anos antes da era grega; Berosus, o babilônio, pô-la em 2.000 a. C.; e os historiadores modernos que admitem a existência de Zaratustra colocam-na entre o décimo e o sexto século a. C. (Ser o Vishtaspa que a promulgou foi o pai de Dario I, esta última data parece a mais provável.)  Quando Zaratustra  apareceu, encontrou, o povo na adoração de animais, de ancestrais, da terra e do sol, numa religião com muitas deidades em comum com os hindus da Idade Védica. 
                 As principais divindades desta fé pré-zoroastriana foram Mitra, deus do sol, Anaita, deusa da fertilidade e da terra, e Haoma, o deus-touro que, morrendo, voltou de novo e deu à humanidade seu sangue como bebida própria a conferir a imortalidade; os primitivos iranianos mo adoravam, embriagando-se com o suco da erva haona,encontrada nas encostas das montanhas. Zaratustra sentiu-se desagregado dessas deidades primitivas e daquela ritual dionisíaco; rebelou-se contra os "magi", ou sacerdotes que o serviam; e, com o ímpeto de seus contemporâneos Amoz e Isaías, anunciou ao mundo um deus só - Ahura-Mazda, senhor da lua e do céu, do qual todos os outros deuses não passavam de manifestações e qualidades. Talvez Dario I, que aceitou a nova doutrina, visse nela uma fé capaz de inspirar o povo e fortalecer o seu governo. A partir do acesso ao trono, Dario I declarou guerra aos velhos cultos e seus sacerdotes, fazendo do zoroastrianismo a religião do Estado. 
                A Bíblia da nova fé consistia numa coleção de livros em que os discípulos do Mestre haviam juntado todas as sua palavras e preces. Mais tarde recebeu este livro o nome de Avesta, e devido ao erro dum erudito o mundo ocidental o conhece domo o Zend-Avesta. (Anquetil-Duperron introduziu o prefixo Zend, que os persas haviam usado para denotar apenas uma tradução e interpretação do Avesta. Esta última palavra é de origem incerta, provavelmente derivada, como a palavra Veda, da raiz ariana vid, "conhecer".  O leitor não persa aterroriza-se hoje ao verificar que os alentados volumes que sobreviveram, embora menores que a nossa Bíblia, não passam de pequena fração da revelação feita pelo deus a Zaratustra. (A tradição persa fala dum Avesta de 21 livros, chamados Nasks, que também faziam parte das Escrituras originais. Um dos Nasks permanece intacto - Vendidad; do resto só se salvaram fragmentos , em composições posteriores, como o Dinkard e o Bundakish. Historiadores árabes falam do  texto completo; cobria 12.000 couros de boi . De acordo cvom a tradição sagrada, duas cópias foram feitas pelo príncipe Vishtaspa; uma foi destruída quando Alexandre incendiou o palácio real de Persépolis; outra foi levada pelos gregos vitoriosos e, traduzida na Grécia (dizem as autoridades persas), proporcionou aos gregos todo o conhecimento científico que demonstraram. No 3º século da Era Cristã, Vologeso I, rei da Dinastia Arsacid, ordenou que se procedesse ao colecionamento de tudo quanto subsistia em escrito ou na memória dos fiéis; esta coleção  fixou a forma atual do Avesta e se tornou a religião oficial do Irã. Durante a conquista muçulmana no século 7º s obra sofreu nova devastação".  O que resta é para o observador estrangeiro uma confusa massa de orações, cantos, lendas, prescrições, moral e ritual, abrilhantada num ponto ou noutro pelo nobre da linguagem pela fervorosa devoção e pela elevação moral. Como o nosso Velho Testamento, trata-se duma composição bastante eclética.  O estudioso descobre aqui e ali, ideias e às vezes até palavras e frases do Rig-Veda, em tal extensão que muitos eruditos consideram o Avesta inspirado, não pelo deus Ahura-Mazda, mas pelos Vedas; outros trechos mostram a influência babilônica na história da Criação do mundo em seis períodos (céu, água, terra, plantas, animais e homens), na descendência do homem de um casal primitivo, no estabelecimento dum paraíso terreal, no descontentamento do Criador com a criatura, e na destruição dela com um dilúvio. (Aqui fica bem evidente que o Velho Testamento Cristão baseou-se nesta história para criar sua fábula do dilúvio.) Mas os elementos especialmente iranianos bastam para caracterizar o todo: o mundo é concebido, em termos dualísticos, como o palco dum conflito de doze mil anos entre o deus Ahura-Mazda e o diabo Arimã; a pureza e a honestidade são as maiores virtudes e levam à vida eterna; os mortos não devem ser queimados ou enterrados, como fazem os obscenos gregos ou hindus, mas lançados aos cães e abutres. 
                 O deus de Zaratustra foi primeiramente "o total círculo dos céus", "Ahura-mazda" vestia-se com a abobada do firmamento;... seu corpo é a luz e a glória soberana; o sol e a lua são seus olhos. Mais tarde, quando a religião passou dos profetas aos políticos, essa grande deidade representou-se como um rei de gigantesca majestade. Como criador e senhor do mundo, era assistido por uma legião de divindades menores originariamente descritas sob a forma de forças naturais - fogo e água, sol e lua, vento e chuva; mas a grande realização de Zaratustra foi, em palavras nobres como as do livro de Jó, conceber seu deus como supremo a todas as coisas. 
Isto te pergunto, e dize-me em verdade, ó Ahura-Mazda: 
Quem determinou a rota dos sóis e das estrelas?
Quem faz a lua minguar ou crescer? 
Quem, de baixo, sustenta a terra e o firmamento para não caírem?
Quem sustenta as águas e plantas? 
Quem deu movimento aos ventos e nuvens?
Que, ó Ahura-Mazda, evocou o Bom Espírito?

                Esse "Bom Espírito" não significa nenhum espírito humano ou animal, mas uma divina sabedoria, quase um Logos, usado por Mazda como um agente secreto da criação. Zaratustra interpreta Ahura-Mazda como tendo sete aspectos ou qualidades: Luz, Bom Espírito, Justiça, Domínio, Piedade, Bondade, Imortalidade. Seus seguidores, afeitos ao politeísmo, interpretavam esses atributos como pessoas (os amesha spenta, ou as imortais criaturas sagradas) que, sob a chefia de Ahura-Mazda, criaram e dirigem o mundo; deste modo o majestático monoteísmo do fundador se torna - como no caso do Cristianismo - o politeísmo do povo. Em adição a esses sagrados espíritos havia os anjos da guarda, um para cada criatura. Mas do mesmo modo que esses anjos e os sagrados seres ajudavam os homens na virtude, assim também sete doevas, ou espíritos maus. (Presumivelmente, influência de demonologia babilônica.) pairavam no ar, sempre induzindo os homens ao crime e ao pecado, em guerra eterna contra Ahura-Mazda e todas as formas de justiça. O chefe desses diabos era Angro-Mainyus, ou Arimã, Príncipe das Trevas e rei do mundo subterrâneo, protótipo daquele operoso Satã que os judeus parecem ter tomando da Pérsia e legado ao cristianismo. Foi, por exemplo, Arimã quem criou as serpentes, as pestes, os gafanhotos, as formigas, o inverno, o escuro, o crime, o pecado, a sodomia, a menstruação e outras pragas da vida; e foram essas invenções do diabo que arruinaram o paraíso em que Ahura-Mazda colocara o primeiro casal humano. Zaratustra parece considerar esses espíritos como deidades espúrias, encarnações populares e supersticiosas das forças abstratas que resistem aos progressos do homem. Seus seguidores, entretanto, acharam mais fácil pensar neles como seres vivos, e personifica-los com tal abundância que mais tarde, na teologia persa, os diabos subiam a milhões. 
                 Este sistema de fé saiu de Zaratustra sob forma de monoteísmo. Mesmo com a introdução de Arimã e dos maus espíritos, a fé mostrava-se tão monoteísta como o cristianismo como seu Satã, diabos menores e anjos; na realidade ressoa na primitiva teologia cristã muita coisa do dualismo persa, como do puritanismo hebraico e da filosofia grega. A concepção Zoroastriana podia satisfazer um espírito como o de Matthew Arnold; Ahura-Mazda era a soma total de todas as forças do bem; e a moralidade está na cooperação com essas forças. Ademais, havia nesse dualismo uma certa justiça para com o contraditório e o lado mau das coisas, que o monoteísmo jamais considerou; e embora os teólogos zoroastrianos às vezes afirmem que o mal é irreal, eles na realidade ofereciam uma teologia bem adaptada à media da mentalidade humana, no conceito que ela pode fazer da vida. o último ato da peça seria, para os bons, um fim feliz; depois de quatro épocas de três mil anos cada uma, com alternada predominância de Ahura-Mazda e Arimã, as forças do mal seriam por fim destruídas. Então todos os homens bons se juntariam a Ahura-Mazda no paraíso, e os maus cairiam no abismo de trevas, onde seriam eternamente alimentados de veneno. 

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A LEI, OS NEGÓCIOS E O CÓDIGO DE HAMURÁBI

                   A Babilônia tinha um bem desenvolvido sistema de finanças. Não tinham moeda cunhada, mas ainda antes de Hamurábi usavam, além do trigo e da cevada, lingotes de ouro e prata como padrões de valor e instrumentos de troca. O metal era pesado em cada transação. A menor unidade monetária consistia no shekel - meia onça de prata no valor de dois e meio a cinco dólares de hoje. Empréstimos eram feitos em mercadorias em metal como garantia e a altos juros, fixados pelo estado em 20% anuais para aqueles cuja garantia eram os metais e 33% para os em mercadorias; Cabia aos escribas a tarefa de enganar a lei e conseguir taxas mais altas. Não havia bancos; mas cestas famílias poderosas, entretanto, dedicavam-se tradicionalmente ao negócio de emprestar dinheiro; também negociavam com terras e empresas industriais; e as pessoas que tinham fundos em depósito com tal gente pagavam suas obrigações por meio de saques escritos. Também os sacerdotes emprestavam dinheiro, sobretudo para custeio da lavoura. Ocasionalmente a lei tomava o partido do devedor; se um camponês hipotecava suas terras e as via sem colheita por força de temporais ou "outro ato de Deus", não era obrigado a pagar os juros daquele ano. Mas quase sempre formulavam-se as leis com os olhos na propriedade, para garanti-la da melhor maneira; era princípio estabelecido na Babilônia que ninguém tinha o direito de tomar dinheiro sem por ele responsabilizar-se de maneira absoluta; o credor, portanto, podia escravizar o devedor, ou o seu filho, até que o débito fosse saldado, mas não por mais de três anos. A praga da usura assolou a indústria da Babilônia, como nos acontece hoje. 
           Era uma civilização essencialmente comercial. A maior parte dos documentos sobreviventes é de caráter comercial - vendas, empréstimos, contratos, sociedades, comissões, permutas, doações e legados, acordos, notas promissórias, etc. Nestas tabletas encontramos abundante prova da riqueza babilônica e um certo espírito materialista que, como em civilizações posteriores, conciliava a ganância com a piedade. Vemos na literatura muitos sinais de vida m ocupada e prospera, mas também, a cada passo, reminiscências de escravidão abaixo de todas as culturas. Os mais interessantes contratos de venda são os relacionados a escravos. Eram recrutados entre os prisioneiros de guerra, ou os apresados pelos beduínos errantes em suas incursões pelos estados próximos, e também produzidos pelo entusiasmo reprodutor dos próprios escravos. A maior parte do trabalho físico urbano era feito por eles, e também o serviço doméstico. As escravas viviam completamente à mercê de seus compradores, e tinham de os sustentar; estava subentendido que o senhor podia extrair delas a prole que quisesse, e as que não eram tratadas assim se sentiam desonradas. O escravo, com tudo que dele fosse, pertencia ao senhor; podia ser vendido ou empenhado por dívida; podia ser morto, se o senhor o achasse conveniente; se fugia, a ninguém era dado acoitá-lo, e havia recompensa para quem o capturasse. Do mesmo modo que o camponês livre, era o escravo sujeito ao serviço militar e aos trabalhos públicos forçados.  Em compensação o senhor pagava-lhe a conta do médico e conservava-o na doença, no desemprego e na velhice. Podia o escravo casar-se com mulher livre e nesse caso seus filhos nasciam livres; e ao morrer,  metade de suas propriedades iam para a sua família.  Podia ser posto em negócio autônomo, recebendo parte dos lucros, com os quais lhe era permitido resgatar-se; ou o senhor o alforriava por motivos de gratidão. Bem poucos tinham tal sorte. A grande massa se consolava com a reprodução, até se tornarem mais numerosos que os livres. Uma grande classe escrava movia-se subterraneamente e em ascensão, nos alicerces do estado babilônico.
                   Tal sociedade, sem dúvida, nunca cogitou alguma espécie de democracia; seu caráter econômico impunha uma monarquia sustentada pela riqueza mercantil e pelo privilégio feudal, e protegida por uma judiciosa distribuição da violência da lei. A aristocracia territorial, gradualmente deslocava pela plutocracia comercial, ajudou a manter o controle da sociedade e serviu como intermediaria entre o povo e o rei. O rei transmitia o trono a qualquer dos seus filhos, de modo que todos se consideravam pretendentes e mantinham claques de sectários empenhados em seu acesso. Dentro dos limites deste governo arbitrário a administração era conduzida pelos senhores e prepostos nomeados pelo rei. Tais homens recebiam conselho  e eram fiscalizados por assembleias provinciais de velhos ou notáveis, que procuravam manter, mesmo sob a dominação assíria, uma orgulhosa autonomia local. 
                  Cada administrador, e comumente o próprio soberano, reconhecia a autoridade do grande corpo de leis que lhes fora dado por Hamurábi e que, através de quinze séculos, apesar das mudanças, se manteve nas linhas essenciais.  O desenvolvimento legal era da sanção sobrenatural para a secular, da severidade para a leniência, e dos castigos corporais para as multas. Nos primeiros tempos esteve em uso o apelo aos deuses por meio do ordálio. O homem acusado de feitiçaria ou a mulher acusada de adultério tinham de lançar-se ao rio; se se salvavam, eram inocentes, e os deuses se punham sempre do lado dos bons nadadores. Se a mulher emergia viva, era inocente; se o "feiticeiro"morria afogado, o acusador herdava os seus bens; em caso reverso, era ele quem recebia os bens do acusador. Os primeiros juízes foram os "sacerdotes", e até o fim da história babilônica os tribunais se reuniam nos templos; mas já nos dias de Hamurábi se haviam tornado seculares e só responsáveis perante o governo.
               A penalidade começou com a Lex-talionis - ou a lei da equivalente retaliação. Se um homem quebrava um dente ou uma perna de outro, também lhe quebravam o mesmo dente e a mesma perna. Se uma casa saia e matava o comprador, o arquiteto tinha de morrer; se o acidente matava o filho do comprador, o filho do arquiteto tinha de morrer; se um homem ofendia uma rapariga ou a matava, sua filha tinha de passar pelo mesmo. Gradualmente essas punições foram sendo substituídas por multas e pagamentos de danos; um pagamento em dinheiro liberava o culpado da pena de talião. Assim, um olho podia ser esmurrado por sessenta sikels de prata, e o de um escravo pela metade disso. Porque as penas variavam não só com a gravidade do delito como ainda com a importância do ofensor e da vítima. Um membro da aristocracia era sujeito a penas mais severas do que as recaídas sobre o homem do povo, mas a ofensa a um aristocrata custava muito caro. O plebeu que feria outro plebeu pagava dez sikels; a mesma ofensa num nobre custava-lhe seus vezes mais. Disso passou a lei às bárbaras penas de amputação e morte. O filho que batia no pai tinha as mãos cortadas; o doutor cujo doente morria ou perdia um olho na operação, tinha os dedos cortados; a ama que substituía uma criança por outra,  perdia os seios. A morte era a pena para grande número de crimes: violência carnal, rapto, banditismo, roubo, incesto, morte do marido pela mulher para casar-se com outro, abertura da taverna, ou mesmo a entrada de uma sacerdotisa em taverna, acoitamento de escravo fugitivo, covardia nas batalhas, malfeitoria nos cargos, desleixo e esbanjamento caseiro, etc. Com esses bárbaros processos, através de milhares de anos, aquelas tradições hábitos de ordem e continência foram estabelecidos de modo a se tornarem base inconsciente da civilização. 
                 Dentro de certos limites o estado regulava os preços, salários e honorários. O que o médico podia cobrar estava previsto na lei; e no código de Hamurábi foram fixados salários para construtores, alfaiates, pedreiros, carpinteiros, barqueiros, pastores e trabalhadores agrícolas. Os filhos herdavam, não a viúva; esta recebia o seu dote e ficava na chefia do lar enquanto vivesse. Não existia o direito de primogenitura; os filhos herdavam com igualdade, e deste modo os grandes domínios  logo se subdividiam, o que embaraçava o acúmulo da riqueza. A propriedade privada em terras e bens era assegurada pelo código. 
               Não encontramos sinais de advogados na babilônia; os "padres" serviam como notários e os escribas como redatores de tudo, madrigais ou testamentos. O queixoso defendi-ase a si mesmo, sem nenhum luxo técnico. Nada de estímulo às demandas; o primeiros artigo do código reza com muita simplicidade: "Se um homem acusa outro de crime capital e não o prova, o acusador receberá a morte". Há sinais de suborno e da manipulação de testemunhas. Uma côrte de apelação, formada pelos "Juízes do Rei ", tinha assento na cidade; a decisão suprema cabia ao rei. Nada existe no código sobre os direitos dos particulares contra o estado; isso iria ser uma inovação européia. Mas os artigos 22 e 24 asseguravam proteção econômica. "Se um homem pratica banditismo e é capturado, que seja morto.; Se não é capturado, o prejudicado pode, na presença de "deus", declarar a sua perda, e a cidade e o governador, dentro de cuja jurisdição o fato se deu, o indenizarão da perda. Se houver perda de vida, a cidade e o governador pagarão uma mina aos herdeiros". Que cidade moderna se sente bem governada a ponto de reembolsar as vítimas da negligência publica? Progrediriam as leis desde o tempo de Hamurábi ou apenas se multiplicaram?