Total de visualizações de página

segunda-feira, 8 de julho de 2019

UM POUCO DA HISTÓRIA DE PARIS - Nicéas R. Zanchett

               Naquele local já havia uma aldeia quando Júlio Cesar, durante sua triunfal campanha de conquista, chegou à Gália. A hoje cidade cosmopolita, para onde voam todos os pensamentos dos turistas do mundo inteiro, tem origens antiquíssimas. 
               Ela é a queridinha do mundo e fica às margens do Sena, o rio mais amado pelos parisienses. 
                Pelo coração de Paris, corre lenta e placidamente o famoso Rio Sena. Insinua-se sob as pontes, contempla os jardins do Trocadero e das Tulherias, titubeia entre os bulevares, rodeia o majestoso conjunto do Louvre, acompanha em surdina os cantos dos estudantes do Quartier Latin, e finalmente circunda, com sua humilde carícia, a pequena faixa onde surge a magnífica catedral de Notre Dame, na ilhota da Cité, hoje ligada á terra firme por numerosas pontes e na qual viviam, aos tempos de César, os Parisii.
              Defendida contra os inimigos pelas águas do rio e pelos grandes pântanos, que se estendiam pelas suas margens, a cidade, que se denominava, naquela época, Lutécia; era um ótimo centro para a navegação fluvial e provisório ponto de coligação entre a região dos Celtas e a dos Belgas; e quando os romanos conquistaram a Gália, aprestaram-se a dar-lhe ordem e, em troca da liberdade perdida, a paz e o bem-estar. A Lutetia Gollorum cresceu em habitantes e extensão e, embora a capital da província Lugdunense fosse Sens, cônsules e prefeitos elegeram para sua residência a cidade dos Parisii
               Estendeu-se, então, Lutécia para a terra firme; do acampamento romano, o novo núcleo fez seu sistema e eixo, e traçou a nítida determinação das ruas e estradas; floresceram, à margem esquerda do Sena, os foros e os templos, mais intensa se tornou a navegação fluvial, enquanto o antigo nome de Lutécia ia sendo substituído pelo de Oppidum Parisiorum
                 Fecunda de mártires foi a cidade quando, no século I, a "Novela de Cristo" se espalhou por toda a Gália; longas filas de vítimas foram encaminhadas, nos tempos da perseguição cristã, para a colina que surge à direita do rio. Hoje, aquela colina, abençoada pelo sangue dos milhares de inocentes, está recoberta de casas e é um dos bairros mais populosos da cidade. Centro de reunião de artistas, de boêmios e homens do povo, talvez poucos dos parisienses saibam que o bairro de Montmartre, um dos mais pitorescos da Paris moderna, local preferido dos artistas, tem seu nome derivado daquele antiquíssimo de "mons martyrum". 
              Embora a cidade se houvesse ampliado, a sede da autoridade militar e civil permaneceu na parte mais antiga. No século II, o imperador Constâncio Cloro, a quem fora confiada a prefeitura de todas as Gálias, ali fez construir o faustosos palácio. 
             Mas eis que, a partir do século IV, as pacíficas populações das Gálias foram convulsionadas pelo ferro e pelo fogo das invasões barbáricas. Germanos, Visigodos, Vândalos, Hunos, alternaram-se no solo francês, tudo destruído e arrasado, e os romanos, impotentes ante aquele ímpeto sanguinário, foram obrigados a abandonar a doce terra que, graças a eles, conhecera a propriedade material e os limites de uma civilização superior. 
                   Os Hunos, guiados por Átila, "O Flagelo de Deus" chegaram a Paris, mas não a violaram. Eles haviam invadido parte da Gália e ameaçavam Paris de perto. Genoveva, uma suave adolescente, reanimou o povo espavorido e exortou-o a opor-se aos invasores.  
              Quase cinquenta anos depois, o filho de Chilperico, Clodoveu, fundador da dinastia merovíngia, era coroado rei, em Reims. Ele escolheu Paris para capital de seu reino, instalando a Corte no antigo palácio de Constâncio Cloro. Foi o primeiro artífice da unidade do reino da França. Após numerosas e clamorosas vitórias sobre o inimigo, converteu-se ao catolicismo (é que ele havia desposado a bela senhora católica Clotilde) e, em 497, foi coroado rei.
            Iniciou-se, então, para a cidade, uma nova era, conheceu outra civilização e contribuiu também para formá-la, gozou dos faustos e das desventuras dos reis que se sucederam e, por toda a França participou das vicissitudes que, através dos séculos, foram aparecendo, terminando com a formação de um grande reino unitário, cuja capital ficou sendo Paris. Cada rei quis deixar à capital e aos parisienses um testemunho de seu próprio iluminado governo e do seu gosto inato pelas artes. Surgiram, assim, em todo os pontos da cidade, os maravilhosos monumentos que fizeram de Paris, juntamente com  Roma, a cidade mais bela da Europa. Felipe Augusto deu grande incremento às instituições universitárias e aos recursos comerciais, apoiando, em plena Idade Média, a classe burguesa. Luis IX construiu a universidade de Sorbonne (uma das mais antigas, com as de Bolonha e Toledo) e a Santa Capela, onde, segundo a lenda, foi custodiado um dos espinhos da coroa de Cristo. Felipe, o Belo, em 1302, com a convocação dos Estados Gerais, admitiu o povo parisiense a decidir dos negócios do Estado. Luis VII, que foi cognominado o "Pai do Povo", protegeu as artes, o comércio, e melhorou a justiça. Francisco I foi um dos grandes protetores das artes e das letras (e realmente chamou à sua corte Leonardo da Vinci, Cellini e Andrea del Santo, fundou uma segunda universidade, o Colégio de França e deu incremento á imprensa). 
                  De seus reis, Paris aprendeu o valor da cultura e da liberdade; deles a burguesia adquiriu a consciência de sua capacidade, compreendeu que era sobre ela que se concentrava todo o poder e a riqueza da França. E foi essa cidadania parisiense que não conheceu, como as repúblicas italianas e as cidades dos Países Baixos, o regimento do governo comunal, foram esses súditos, que por mais longo tempo sofreram as rédeas da monarquia, que ensinaram aos países da Europa e da América os princípios de um governo republicano e democrático. E ensinaram-nos com o sangue derramado pelas ruas de Paris, quando, brutal e vandálica como todos os movimentos provocados pela exasperação da alma popular, deflagrou a Revolução Francesa.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário