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domingo, 30 de dezembro de 2012

O CÉREBRO NA VIDA ADULTA

                                  O CÉREBRO DO HOMEM NA VIDA ADULTA
                       O cérebro humano é uma máquina que toma simples sensações e as transforma em pensamentos complexos. As sensações são recebidas dos nossos vários sentidos: vista, ouvido, tato, gosto, e olfato. Essas informações recebidas pelo cérebro são transmitidas para o corpo por meio de uma rede de nervos, como se fossem fios telefônicos levando mensagens.
                 Cada ser humano escreve a história de sua vida nas páginas mentais, isto é, nas células do cérebro. O misterioso processo que chamamos de memória é a releitura mental de passadas experiências de nossa vida. A memória depende da capacidade que cada um tem para guardar os fatos. 
                   Ao chegar à idade por volta dos 40 anos, o homem sofre algumas transformações, mas não há alteração no nível de inteligência. Os cientistas estão comprovando que o cérebro não piora com o tempo. Na meia idade a memória diminui, assim como a capacidade de captar novos conhecimentos, mas somos capazes de entender melhor o significado das coisas. É que nessa idade conseguimos usar melhor uma substância conhecida como mielina, que envolve as células do cérebro. Sem ela os impulsos são distribuídos descontroladamente. Como o cérebro atinge o pico de produção de mielina durante a meia idade, as conexões entre os neurônios ficam melhores.
                   Todos os neurônios do cérebro são protegidos por uma substância gordurosa branca (mielina) Sem ela, os impulsos nervosos não seriam transmitidos de uma célula a outra. Na infância, a maior parte dela se concentra em áreas do cérebro chamadas "córtex motor primário e lóbulo parietal" responsáveis pelo desenvolvimento motor e sensitivo. No adulto, a mielina se acumula em áreas conhecidas como "lóbulo frontal e temporal" responsáveis pela linguagem e pelo pensamento sofisticado. Quanto mais mielina nessas regiões, mais rápidos são os impulsos entre os neurônios. A informação vai direto de uma célula nervosa para outra. Como tem mais mielina nas regiões críticas para tomada de decisões, os mais velhos acabam sendo mais sensatos que os jovens.

                       O cérebro é divido ao meio por uma espécie de feixe de fibras. O hemisfério direito costuma ser prioritariamente o centro das emoções, da intuição e da criação artística. O esquerdo, o do raciocínio, do pensamento lógico e de certos tipos de memória. Eles são divididos por uma espécie de parede e funcionam independentemente. À medida que  envelhecemos, essa parede tende a desaparecer, levando os dois hemisférios a trabalhar juntos. Éle próprio, percebendo que está mais frágil, passa a compensar suas deficiências  usando os dois lados para manter o rendimento de antes.  Portanto,depois dos 40 anos, há uma mudança  do comportamento cerebral porque ele passa a funcionar como um todo.  Isto pode estar ocorrendo em resposta à longevidade do ser humano. O cérebro está respondendo às demandas da vida moderna. Antigamente, nessa etapa da vida, o homem reduzia todas as suas atividades, mas hoje, aos 50 anos, homem e mulher modernos mantém as mesmas atividades de quando eram mais jovens. Entretanto, o cérebro opera melhor para as pessoas que acumularam conhecimento. É o conhecimento adquirido ao longo da vida que pode fazer de alguém um velho sábio. 
              Vivemos no "mundo externo" do corpo físico de onde recebemos todas as informações. Mas precisamos viver também no "mundo interno" de pensamentos, sentimentos, desejos, intuições, curiosidades e outros estados psicológicos. É importante sempre colocar nosso mundo intermo em primeiro lugar na ordem do pensamento. 
Nicéas Romeo Zanchett

sábado, 29 de dezembro de 2012

AMOR E ÓDIO

                                         AMOR E ÓDIO
Amor e ódio são sentimentos tão intensos que podem até matar.
Como Nelsom Mandela, precisamos aprender perdoar sempre. Como São Francisco de Assis, que tanto amava e se compadecia dos animais, precisamos de mais compaixão.
Todas as paixões podem ser excitada em nós sem que, de maneira alguma, percebamos se o o objeto que as origina é bom ou mau. Temos amor pelas coisas que se nos apresentam como boas e convenientes para nós. Todavia, aquelas coisas que se nos afiguram prejudiciais aos nossos interesses, nos levam a considerá-las como más e nos excitam o ódio.
Os remorsos são frutos de nossas ações impensadas. Tal como precedentes paixões, não dizem respeito ao futuro, mas sim ao presente e ao passado.
A glória nasce da opinião favorável que os outros possam fazer do bem que em nós existe, tal como a vergonha é a censura que possam fazer-nos pelo mal que tivermos praticado.
O bem, que os outros praticam, desperta em nós a estima, mesmo que não sejamos os favorecidos. Entretanto, quando este bem é para nós, além da estima, desperta a nossa gratidão.
O mal feito por alguém para alguém que não sejamos nós, excita a nossa indignação, enquanto que aquele que nos é feito, além das indignação, desperta em nós a cólera e o ódio.
Somos apenas seres humanos, com defeitos e qualidades, vivendo num mundo em constante transformação.
Nicéas Romeo Zanchett
http://asfabulasdeesopo.blogspot.com.br

domingo, 18 de novembro de 2012

A CRIANÇA QUE FUI - Fernando Pessoa

                                A CRIANÇA QUE FUI - de Fernando Pessoa 
A criança que fui chora na estrada
Deixei-a ali quando vim ver quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada, 
Quero ir buscar quem fui onde ficou. 
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Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vida tem a regressão errada. 
Já não sei de onde vim nem onde estou. 
De o não saber, minha alma está parada. 
.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar, 
.
Na ausência, ao menos, saberei de mim, 
E, ao ver-te tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
.
Post : Nicéas Romeo Zanchett 
http://poesiasselecionadas.spaceblog.com.br



domingo, 11 de novembro de 2012

CÉLEBRES DISCURSOS DE ABRAHÃO LINCOLN.

                    CELEBRES DISCURSOS DE ABRAHÃO LINCOLN 
 Ex presidente dos Estados Unidos eleito em 1860, pouco antes da Guerra Civil Americana.
                                                    O DISCURSO
                      "Meus concidadãos: - Ao aparecer aqui pela segunda vez para prestar juramento como presidente, é menos propícia a ocasião para um grande discurso do que da primeira vez. 
                 Parecia então conveniente e adequada um exposição pormenorizada do plano a seguir. Agora, ao cabo de quatro anos durante os quais se têm constantemente feito declarações públicas sobre todos os pontos da grande questão que ainda absorve a atenção e ocupa as energias da nação, pouca cousa nova se pode dizer. As vitórias de nossas armas de que principalmente tudo o mais depende, são tão conhecidas do público como de mim mesmo, e a todos, confio eu, parecem suficientemente satisfatórias e animadoras. São permitidas as mais levantadas esperanças para o futuro, mas não nos é lícito aventurar predições. 
                    Ha quatro anos, em ocasião análoga, todos os nossos pensamentos se concentravam ansiosamente na ameaça de uma guerra civil. Todos a temiam, todos procuravam evitá-la. Enquanto era aqui proferido o discurso presidencial em que eu procurava salvar a União sem guerra, agentes dos insurrectos estavam na cidade procurando destruí-la sem guerra, tentando dissolver a União, e dividir os efeitos por meio de negociações. Ambos os partidos condenavam a guerra; mas um deles queria antes a guerra que deixar a nação sobreviver, e o outro antes queria a guerra que deixá-la perecer; e a guerra veio.
                  Uma oitava parte da população era formada de escravos de cor não distribuídos igualmente pela União, mas localizados na sua região meridional. Esses escravos constituíam  um interesse peculiar e poderoso. Todos sabiam que esse interesse era de algum modo a causa da guerra. Era para fortificar, perpetuar e estender esses interesses que os insurrectos queriam despedaçar a União pela guerra, ao passo que o governo não pretendia direito algum a fazer mais do que restringir o alastramento territorial da escravatura. 
                 Nenhum dos partidos pensava que a guerra teria a magnitude ou a duração que já atingiu. Nenhum deles esperava  que a causa do conflito cessaria com ela ou mesmo antes que o conflito cessasse. Cada um deles esperava o triunfo e um resultado menos fundamental e surpreendente. Ambos liam a mesma Bíblia e faziam preces ao mesmo Deus e cada um invocava o seu auxílio contra o outro. Pode parecer estranho que alguém se atreva a pedir o auxílio de um Deus justo para arrancar o seu pão ao suor de outros homens. Mas não nos arvoremos em juízes das ações alheias para que outros se não arvorem em nossos juízes. Não poderiam ser atendidas as preces de ambos. Nem uns nem outros foram completamente atendidos. O Todo Poderoso tem os seus próprios propósitos. "Ai do mundo pelos seus crimes, pois é inevitável que haja crimes; mas ai daquele por quem sucedeu o crime."
              Se nós supusermos que a escravidão que existe na América é um desses crimes que os desígnios de Deus exigem que se cometam, mas que tendo durado o tempo que lhe foi assinalado, Ele o quer agora fazer cessar e dá ao Norte e Sul esta terrível guerra como castigo merecido pelos culpados, poderemos acaso discernir nisso uma negação daqueles divinos atributos que os crentes em um Deus vivo sempre lhe atribuíram? 
               Esperamos confiantemente e pedimos com fervor que esta imensa calamidade da guerra depressa venha a ter um termo, mas entretanto, se a vontade de Deus é que ela continue até que desapareçam as riquezas acumuladas pelos escravos em duzentos e cinquenta anos de irrequieto labor, e até que cada gota de sangue vertido pelo látego (chicote de corda) seja resgatada por outra gota de sangue vertido pela espada, como se disse ha trezentos anos, nem por isso havemos de deixar de dizer que os "juízes do Senhor são verdadeiros e inteiramente justos."
                 Sem maldade para ninguém, com caridade para todos, firmados no direito, tal qual Deus no-lo mostra, cumpre-nos continuar a esforçar-nos por terminar a obra que levamos encetada, pensando as feridas da nação, cuidando dos que suportaram o peso da batalha, e das viúvas e órfãos, fazendo tudo quanto possa concorrer para estabelecer e tornar grata uma paz duradoura entre nós e com todas as nações.    Por Abrahão Lincoln
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                ABRAHÃO LINCOLN foi o décimo sexto Presidente dos Estados Unidos. Nasceu  em Hardin Country, Kentucky em 12 de fevereiro de 1809. Foi educado em escolas rústicas e durante a sua mocidade foi lavrador numa fazenda da família, caixeiro viajante, negociante e agente de vendas e locações de prédios. Estudou  direito e começou a praticar política em Springfield, no Ilinois. Teve assento na legislatura do Estado de  1834 a 1842; Foi membro liberal do Congresso Americano de 1847 a 1849 e em conseqüência da sua decidida oposição à escravatura ficou sendo considerado como o lider do Partido Republicano. A sua eleição à presidência em 1860 foi seguida da secessão dos estados do sul e a guerra civil que rebentou em 1861. Em 1862 publicou a sua famosa proclamação de emancipação; em 1864 foi reeleito por uma grande maioria contra McClellan, candidato do Partido Democrático, e estava estudando um plano de reforma da união, quando foi mortalmente ferido com um tiro pelo ator João Wilkes Booth, em Washington, a 14 de Abril de 1865.  Morreu no dia seguinte.
                                       ORAÇÃO DE GETTYSBURGO 
                                             Por Abrahão Lincoln 
                  Pronunciada em 3 de julho de 1862, aniversário desta decisiva batalha.  
                  Ha oitenta e sete anos os nossos pais estabeleceram neste continente uma nova nação concebida na liberdade e fundada no princípio de que todos os homens são iguais .
                  Agora estamos envolvidos em uma grande guerra civil e experimentamos se esta nação ou qualquer nação assim concebida e orientada pode durar muito.  Encontramo-nos em um grande campo de batalha desta guerra, para consagrar uma parte dele e a servir de última morada àqueles que deram as vidas para que a nação pudesse viver. É inteiramente justo e natural  que assim procedamos. 
                    Mas em um sentido mais lato nós não podemos dar este terreno. Os bravos vivos ou mortos que lutaram aqui consagraram-no muito acima do nosso poder de dar ou retirar. O mundo pouco saberá e por pouco tempo recordará o que nós aqui dissermos, mas não esquecerá nunca os atos que eles aqui praticaram. A nós é que nos compete dedicarmo-nos aqui à grande obra que está diante de nós e tomaremos pelo exemplo desses venerados mortos mais ardente dedicação à causa pela qual eles aqui deram a mais completa prova de devoção, e prometamos-nos que os mortos não morreram em vão, que a nação terá, com a ajuda de Deus, uma nova vida de liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo não desaparecerá da terra. Por Abrahão Lincoln
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"Nascer, lutar, sofrer - eis toda a vida!" - Gonçalves Dias.
"Abram as portas à verdade e a mentira: é a mentira que há de entrar primeiro." - Napoleão III.
" A minha vida ensinou-me que tenho muito a esquecer e muito de que me perdoarem." - Bismarck.
"Os revolucionários políticos parecem-se bastante com estes regadores das estradas e ruas, que podem fazer lama quando há sol, mas que não sabem fazer sol quando há lama." - Alexandre Dumas.
"O amor do povo pelo seu governante eleito perdurará o tempo que perdurar a sua glória." Romeo Z.
 
Nicéas Romeo Zanchett

sábado, 3 de novembro de 2012

SAFO - A POETISA DE LESBOS

                      Pintura acrílica de Romeo Zanchett
                           SAFO - A POETISA DE LESBOS
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                  Lesbos era a ilha das paixões e o centro da cultura eolia da raça grega. A energia que os jônicos consumiram pelo prazer, pela política, pelo comércio, pela ciência, pela legislação e pelas artes eram restringidas à esfera de emoções individuais. Em nenhuma época da história grega, o amor à beleza física, a sensibilidade ante a natureza radiante e o fervor consumado do sentimento pessoal, tomaram tão grandes proporções e receberam tão ilustre expressão como em Lesbos. Foi ali que desabrochou a mais bela poesia lírica de que o mundo teve conhecimento.

                    Safo nasceu por volta de 612 a.C em Fresco, na ilha de Lesbos. O sábio Platão a definiu como "a décima musa" e Sócrates como "a bela".
A voluptuosidade da poesia eolia não é como a da arte persa ou árabe. É grega nas suas proporções, no seu tato e no seu domínio de si. 
Nas poesias de Safo está tudo tão ritmicamente em ordem pela arte suprema da serenidade, da grandeza, da expressão, do abandono e da paixão. 
Safgo, que se chamava Psafa no seu dialeto eolio, foi a única grande poetisa do mundo grego antigo. Ela viveu antes do nascimento de Gautama, fundador do Budismo. Sua poesia foi forte o suficiente para resistir a mais de vinte e seis séculos. Sua importância ultrapassa fronteiras. A sobrevivência de sua obra deve-se às citações de gramáticos e de lexicógrafos, sem os quais nenhuma palavra teria chegado aos nossos dias. Apesar do tempo e das dificuldades gráficas, suas obras se conservaram intactas até, pelo menos, o terceiro século de nossa era. 
Embora não pareça existir evidência afirmativa, consta que as obras de Safo e de outros poetas líricos foram queimadas em Constantinopla e em Roma no ano 1073, no papado Gregório VII. Já Cardano dissera que esta queima foi sobre o regime de Gregório Nazianzeno, cerca do ano 380 de nossa era.Pedro Alcídio diz ter ouvido, quando muito novo, que muitas obras de poetas gregos foram queimadas por ordem dos imperadores bizantinos e em seu lugar foram circulados os poemas de Gregório Nazianzeno. O Bispo Bloenfield declarou que devem ter sido destruídas bem cedo, porque nem Alceo e nem Safo foram anotados por qualquer dos gramáticos ulteriores. Não há sombra de dúvidas que sua obra era grandiosa. Poucos foram os preciosos versos que escaparam à destruição promovida pelo anti-paganismo. 
                                Escultura de Romeo Zanchett
Mas quem foi esta misteriosa Safo? Seu nome é encontrado em todo o lugar, mas o mistério permanece. Que existiu, não há dúvidas, mas quais terão sido as sublimes artes que usou com as mulheres? Era tão mulher  ao ponto de suas seguidoras serem chamadas de sáficas. Não tinha medo de homem, fosse ele de pequeno ou grande cérebro, a ponto de dizer: "eu amo as mulheres e elas me amam". Safo excitou, e foi banida por seus contemporâneos, porque adorou e depravou centenas de garotas. Seu fim foi dramático como ela própria: Suicidou-se aos 55 anos, quando percebeu que o homem que amava não a queria e ainda a isultava. Uma grande poetisa , talvez a maior de todos os tempos. Possuidora de um caráter mórbido e melodramático, de personalidade inquieta, sonhadora e erótica. 
As jovens de hoje, que possuem os mesmos gostos apaixonados comentam sua história  por ter ouvido falar. As verdadeiras herdeiras de Safo são as intelectuais que conhecem o essencial de sua vida e seu modo de amar. O orgasmo sáfico é muito mais que cerebral: é uma apaixonante dedicação física a outra mulher, seja ela ativa ou passiva. 
Dos doze mil versos conhecidos, sete mil enlouquecidos e cheios de libidos, em sua grande parte, foram queimados pelas Cruzadas cristãs. 
De todas as maravilhosas poesias que dedicou às suas amantes, somente a última chegou completa até nós. "ODE AO AMOR". 

                   Desenho de Romeo Zanchett

            ODE A VÊNUS - por Safo
Filha de Jove, que tens altares
Em cem lugares, Diva Falaz:
Ah! poupa máguas a quem te adora
A quem implora favor e paz.
.
Tu já outr'ora piedosa ouviste
O brado triste da minha voz:
E da paterna mansão celeste
A mim vieste pronta e veloz.
.
Ao nívio caro jungido tinhas
Das avezinhas o meigo par.
E voando pelo ar sereno
Em prado ameno veio pousar.
.
E tu, sorrindo, de mim diante
Meigo o semblante falaste assim:
"Safo, eu te vejo tão consternada,
Por que magoada chamas por mim?"
.
"Paixão te oprime? Gemes, suspiras
Dize, a que aspiram com tanto ardor?
Alguém, ingrato, se te não rende?
Ah! quem te ofende com tal rigor?"
.
"Há de rogar-te, se te ora enjeita
Teus dons rejeita? Dons te dará:
Desquer-te amado? Por ti já esquiva
Em chama ativa se abrasará".
.
Também agora, deusa benigna
A mim te digna  dar proteção:
Auxiliadora neste conflito
Vale ao aflito meu coração.
                       PUDOR - por Safo
A teus dote qual mais encantador
Tu ajuntas, amável criatura,
Um para mim de todos o maior,
E que até embeleza a formosura: 
O pudor!
Safo era um verdadeiro homem, gentilmente mulher, com virilidade pelo frágil sexo. Sua infância foi em Mitilene, onde vivia com três irmãos, invejando-os por seus atributos sexuais masculinos que eram seu sonho maior. Dizem que era bem feminina e graciosa, possuidora de um belíssimo corpo, estatura baixa, pele escura e peluda. Assim se descreveu: " A natureza não foi madrinha, me recusou o esplendor do rosto, compensarei com minha genialidade satânica e com noites atrozes, onde os cegos enxergarão com a potência dos meus sentidos..."
Politicamente, teve implicações na conspiração dos nobres contra o governo democrático, foi exilada por infâmia. Mudou-se para Siracusa, casando-se com um ricaço, permanecendo pura e intocada pelo membro masculino, como fez questão de acentuar: "E virgem permanecerei sempre, mas se algum dia acontecer de encontrar uma menina... Na ocasião a possuirei com ardor e também em mim mesma usarei um objeto com ponta e bem afiado.
Suas queridinhas amantes não lhe deram exclusivamente prazer orgásmico. Conta-se que uma jovem loura provocou a ira de Safo causando-lhe ciúmes e foi esganada. Uma outra loura, sua amante, entregou-se a um militar e desta vez a poetisa desabafou com sua pena: "Áttide, não te lembras do luar banhando teu despido corpo? E minha língua rósea que levemente escorregava no teu escuro orifício? De ti me persiste a memória e em ti não existe lembrança!  Lembrarás dos meus braços que tantas vezes te transportaram ao êxtase?"
A infiel loura apaixonou-se pelo militar grego, arrancando lágrimas de Safo. -"Ó amor, quem é o homem que senta à tua frente? Ah, me sinto enlevada pelo macho que está a teu lado porque já me falta a voz, e sinto a língua partida. Debaixo da pele, um fogo implacável circula. Os meus olhos não te enxergam mais... Te desejo, ainda te quero, te arrancarei dele... O suor me inunda, os meus braços de macho te sacodem e te apertam. Oh, se eu tivesse músculos para desmembrar-te para sempre! Devo resignar-me por não possuir aquelas três coisas do macho?  Nunca! Voltará para mim e "ali" te abrirei, enlouquecerás e esquecerás".
Jamais se cansava de repetir suas preferências: - " Amo a vida elegante e mulheres louras, claras como a lua, refinadas e esquivas. A beleza de minhas amantes é para mim como a luz do sol..."

Na necrópole heleno, egípcia de Ossirinco, foram descobertos alguns sonetos lésbicos, em louvor à mulher, gravados em sarcófagos.
"Permaneces imóvel e do lado de lá nada conheces. Eu sinto nos meus braços mudos o tormento do verão nas primeiras chuvas, o medo do teu frio seio e da tua flor no alto. Meu rosto reclamará de ti suor e lágrimas. Mas, pobre de mim, serei como meus dedos, vazios áridos. Chama, ó amada, a vida repetida, de quem por Ti a paixão prosta..."

   OUTRAS OBRAS BELÍSSIMAS:
"Oh, tu imortal beleza, tecedora de enganos, peço-lhe
não mostrar com penas e ânsias de amor o meu corpo e
o meu coração! Te adoro! Te quero para mim e para sempre.
Aqui vieste, voltaste. De longe ouviste minha voz e deixaste pai e mãe para seguir-me no leito dourado...
Te condiziam pássaros leves e elegantes sobre a terra escura dos meus braços fortes.
Rapidamente vieste. Gritaste.
E tu, maravilha, sorrindo em teu rosto mortal me perguntaste de que penas sofria e o que ainda suplicava...
No teu peito em delírio, sobre meu seio inexistente o que, diga-me, suplicavas?
Tu? Oh, mas me foges agora, cedo te perseguirei. Se recusares presentes, muito cedo presentes te darei.
Se não me amas, cedo me amarás, mesmo contra tua vontade. Venha a mim agora!
Quanto Clamor se compraz o teu corpo, e sobre o meu o teu Grande prazer, finalmente se cumpra! És minha!
Tu própria, no espasmo final
que me dás tua beleza e me assistes..."
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"O sangue flutua rápido em minhas veias; um acre calor invade minhas fibras. Ruborizo-me. Baixa a voz ao responder um gentil pensamento, inutilmente procuro e não acho. Com tumulto e força bate o sangue no meu peito. Morre a voz, enquanto eu passo minha língua em sua boca".
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Guardo a chama dentro do meu sangue e fervo,
um estúpido e continuado tintinar, me enche
os ouvidos, e sonho. Levanto o olhar, e entrevejo
sombra de macho. Me encontro apagada, um suor
gelado, a fisionomia morta como erva que não
cresce, tremendo em arrepios, enquanto minha
língua ativa se dirige em tua direção. Anseio
a ti cada vez mais, quase até a morte certa,
apagar este fogo".

                                Pintura acrílica de Romeo Zanchett
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"Virgindade, virgindade me deixas, onde vais?
Não voltarei mais para ti, nunca mais.
Tu és a flor purpúrea, que meus braços rudes,
pisam no abraço e aqui deitam, enquanto lá fora
a brilhante aurora de beijos, carícias e humores
e morte, venham para mim, porque tanto te desejei...".
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"Uiva o vento entre as árvores. O meu não não parece um rumor,
mas é o amor que corre, a paixão devoradora  pelos teus lindos
cabelos e teus membros alvos, me esgota e me quebra.
Assim só, te desejo, eu morro!"

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"Alegria de viver, mais não tenho. A vontade de
morrer se apossa de mim, ver o lótus, molhado de
orvalho às margens do Acheronte...".
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"Oh, fêmea, que meu hábito não sentir e não provar, ir
aqui e alí entre obscuros mortos que esvoaçam sobre sua traição.
Oh amor, pudesse eu com meus braços sufocar-te. E a aquela
vida de erros em segundo apagar..."
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"É como a maçã vermelha em seu ramo mais alto, os
colhedores a esquecem. Não esqueceu quem era como
ela, mas também não conseguiu alcançá-la".
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Procurei mostrar-lhes um pouco da vida e da obra desta grande poetisa que, na verdade, nunca morreu. Para as amantes especiais e as amizades amorosas, Safo continua existindo. No mundo do amor entre iguais, ela sempre será a musa e a deusa maior.
Nicéas Romeo Zanchett
http://amoresexo-arte.blogspot.com.br


domingo, 28 de outubro de 2012

HISTÓRIA DO TEATRO

                         HISTÓRIA DO TEATRO
                O Teatro consiste numa representação de qualquer gênero ou assunto, sugerido ou escrito por autores teatrais e representado por atores, num edifício construído para a própria representação.
                Mas, se o teatro real e próprio nasceu há cerca de 2.600 anos, suas verdadeiras origens perdem-se na noite dos tempos.
                O "senso do teatro"  consiste no desejo de nos liberarmos, de quando em quando, nas asas da fantasia e de esquecer, mesmo que momentaneamente, a rotina diária para personificar ou assistir a peripécias incomuns de todos nós. Esse senso é possível se verificar, em certas brincadeiras de crianças que gostam de improvisar-se atores e de maneira instintiva  recitar e representar  mediante gestos, palavras e disfarces.
               Buscando suas origens no tempo remoto iremos nos deparar com o homem da idade paleolítica, a envergar máscaras e travestir-se, para recitar rudimentares salmodias, danças e, mais tarde, esboços de diálogos, por ocasiões de determinados acontecimentos importantes para a tribo: a colheita, o ingresso dos adolescentes na vida adulta, as núpcias, a saída para a caça, os ritos e orações dos mortos, etc.

As celebrações religiosas teóricamente surgiram de representações teatrais com o objetivos de ganhar graças da divindade, mas a sua verdadeira finalidade era atrair novos membros para os grupos religiosos.

                Envergando a máscara, o celebrante não acredita estar simplesmente travestindo-se, mas julga, ingenuamente, que a divindade à qual sua máscara, imaginariamente, o torna parecido tenha entrado no seu corpo. Nos povos hodiernos, esta identificação do ator com a divindade representada, aos poucos foi desaparecendo.
                     A celebração da missa - ritual da religião católica - teve seu início na idade média quando, depois da "Peste Negra", os sacerdotes resolveram celebrar o ritual ao ar livre para atrair adeptos que estavam sedentos das representações teatrais que haviam sido proibidas para evitar o contágio e proliferação da doença. O ator se tornou cônscio de estar representando um papel, e o público se convenceu de que aquele que lhe estava á frente não era um deus, mas sim um ator disfarçado como tal. Esse novo conceito de representação fez com que ela pudesse tornar-se mais complexa e que se pudessem representar episódios inteiros relativos à vida mítica do deus, enriquecendo-os com partes recitativas e diálogos. As recitações, embora tivessem preâmbulo, acima de tudo, de cunho religioso, e raramente com assunto profano ou humorístico, aproximaram-se muito mais daquilo que nós entendemos por teatro. Lá pelo terceiro milênio a.C, no Egito , ja existiam, de maneira bastante evoluída, representações dessa natureza. Pelo que podemos saber, eram escritas por um encarregado especial e  recitadas  nos templos estreitamente ligados à celebração dos mistérios litúrgicos.

                   O teatro clássico, de que foi herdeiro nosso atual teatro de prosa (drama, comédia e tragédia), nasceu na Grécia, no século V a.C; mas também na Grécia ele foi precedido de cerimônias análogas àquelas descritas, que, nos campos e nas cidades, eram celebradas em honra a Dionísio, deus da fertilidade. Nessas festas agrícolas, que compreendiam longas teorias processionais de bacantes e "sáticos", mascarados com peles e chifres de animais, assumiu grande importância o "ditirambo", uma invocação versificada em louvor a Deus, que se desenvolveu de tal forma precisando-se criar dois "corifeus", que dialogavam entre si, dois "coros", que por meio do canto comentavam, e um terceiro personagem respondia em nome do deus que estava sendo louvado.  Desta representação coral, e conservando, a princípio, os mesmos argumentos religiosos, derivou-se o gênero teatral mais importante que vamos encontrar representado em Atenas, no século V: a "tragédia". Além das tragédias, em cuja composição brilharam os melhores atores, como Ésquilo, em que o tema é quase sempre religioso, e Sófocles que, mesmo agitando problemas altamente morais, muito mais aprofundou os dramas do homem, firmando-se um gênero teatral de carátel profano e realista, cuja sátira moral abordava os assuntos mais escabrosos da vida citadina: a "comédia".  Tragédias e comédias eram representadas durante as festividades  dionísicas, que ocorriam quatro vezes por ano. Acima de tudo, as tragédias eram consideradas como parte  dos festejos religiosos; por este motivo, o público se sugeitava a permanecer o dia inteiro no teatro, pois uma representação compreendia três tragédias e um drama satírico, espécie de breve comédia. À reprsentação inaugural assistiam, sempre, os sacerdotes de Dionísio e os magistrados. Durante longo tempo, a tragédia gozou da máxima honra, e muitos tratados sobre a maneira de escrevê-las foram organizados por Sófocles e pelo grande  filósofo Aristóteles; as obras teatrais eram sempre escolhidas após rigorosa seleção e mediante um concurso regular; ao fim da estação teatral, era premiado o autor das melhores obras. Os atenienses amaram profundamente o teatro, não só pelo divertimento que lhes proporcionava, mas também pelo valor educativo que inspiravam os assuntos tratados e por esse motivo as mulheres e crianças eram admitidos às representações. Para isso o govêrno não só remunerava os atores, subvencionava os empresários teatrais, mas ainda se preocupava em reembolsar os pobres dos gastos necessários para assistir à representação, e o cidadão era sorteado para ensinar o coro para a tragédia e garantir as despesas para sua manutenção. Os atores gozavam de grande estima. Raramente eram autores do original, com número de três e, nas comédias, por vezes encarnavam vários personagens.
                    A partir do século IV, os espetáculos deixaram de ser obrigatoriamente ligados ao culto dionisíaco e, na Sícília, na Macedônia, na Tessália, no Egito, bem como em toda a parte onde o teatro grego estivesse difundido, prevalecia o uso de festejar, com representações teatrais, qualquer acontecimento importante da cidade. Já com Eurípedes, o último grande trágico grego, as tragédias não possuíam mais o valor religioso, e a comédia, depois do grande comediógrafo Aristófanes, perdeu o áspero poder satírico, tornando-se, o enredo, sempre mais vulgar. Sem, contudo, gozar do acesso aos teatros, mas contendo-se em ser representado nos grandes espetáculos de praça pública, assumiu grande voga o "mimo", uma espécie de farsa, entremeada de danças e jogos representando cenas de costumes plebeus, que estivessem na moda em Roma.
                Dessa forma, o teatro como rito passou ao teatro como passatempo; o ator, bem como o jogral e o gladiador, devia divertir o público sem malícia e sedento de novidades; e tudo quanto deriva do gosto grego era novidade na Roma dos Césares. Foi assim que nasceu uma literatura teatral  de importação, que refazia os temas gregos, escolhendo espontaneamente aqueles mais adequados ao espírito latino. 
                Roma acolheu o teatro grego quando os grandes  gêneros da tragédia e da comédia  já estavam em decadência, nem, de resto, o realista espírito romano teria compreendido o alto espírito religioso e moral das obras  gregas da idade clássica. Antes que Lívio Andrônico, um liberto de origem grega, traduzisse para o latim e introduzisse nos teatros romanos algumas tragédias e comédias gregas (cerca de 240 a.C.) e que Névio, depois dele, desse início a um teatro que representava  cenas da vida romana, em Roma, já estavam e uso alguns primitivos espetáculos cômicos, aliás, nunca representados em teatros regulares e introduzidos na Urbe por atores campânios e etruscos: o "fescenino" e a "sátira", espécies de palhaçadas ou pantominas, e a "atelana", outra espécie de farsa com entrecho romanceado (fábula), recitada por atores mascarados, que personificavam tipos fixos (algo parecido com Bringuela, Polichinelo, Pantalão, etc.) Mas, também em Roma, com os poetas trágicos Ênio Áccio e Pacuvio, floresceu um teatro (e as tragédias se chamavam "tragoediae praetextae" (nome, em latin, que lembrava a toga romana, em que se inspiravam o vestuário dos atores); entretanto a veia espontânea e nativa dos romanos orientou o teatro, de preferência, para o gênio cômico, para as encenações espetaculares, para as comédias: "paliate", se de argumento grego, "togadas", se de argumento romano, "trabearte, se os protagonistas eram cavaleiros, "tabernarias", se eram tipos populares, ou, então, para os mimos, as "atellane" e, no período imperial, para os grandes espetáculos circenses. Os romanos iam ao teatro mais para se divertirem do que para colherem, nas palavras dos atores, qualquer ensinamento e sendo, também na comédia, proibida qualquer sátira política, que a democrática Atenas permitia amplamente, ao teatro não restou senão seguir as pegadas do realismo bastante romanceado (como nas obras do grande Plauto e naquelas mais delicadas de Terêncio), e,o que é pior, para piadas inconvenientes. 
               Os edifícios para representações surgiram, em planta estável, relativamente tarde; tiveram estruturas grandiosas, aparato cênico bastante complexo e luxuoso; mas os atores, dado ao pouco valor que os romanos atribuíam ao teatro, eram  desprezados, e sua profissão não era considerada digna para homens de condição livre. 
                Na lenta, mas progressiva decadência do Império Romano, o teatro foi tornando-se sempre mais corrupto e imoral e, com o aparecimento do espírito cristão, a nascente Igreja condenava todos os espetáculos teatrais, proibindo aos fiéis de assistirem às representações. Consideravam condenável aquele gênero de teatro e não o teatro  como representação em si, porque, na Idade Média, o Teatro renasceria, justamente no seio da Igreja.

               Em certo sentido, o teatro voltaria a ser ritual, sua função novamente educativa e sacerdotal, num clima renovado e mais inocente. Iria começar um novo ciclo, um ciclo eterno; primeiro, o teatro sacro e primitivo das idades infantis da história; depois, o teatro solene, que exalta a atividade do homem como ser moral; em seguida a farsa e o divertimento puro.
                 Atualmente o teatro moderno compreende todo o espaço que modeia entre o pano de frente e a parede de fundo. No sentido de largura, o teatro compreende, ao centro, a "cena" ou o "palco", isto é, o lugar em que se desenrola a ação é aquela que fica à vista do público; reservando as manobras, fica a parte dos bastidores na mudança de cenários. No sentido de altura, o teatro compreende três partes; o subterrâneo, por onde se faz todo o trabalho dos alçapões, a cena propriamente dita e o "urdimento", onde se fazem várias mutações. 
              Hoje,  em todos os centros adiantados, já existem palcos móveis, sobretudo nos grandes teatros, e isso permite a apresentação simultânea de vários quadros, quando as peças a representar são de muito movimento. 
              A iluminação da cena é muito elaborada e com efeitos especiais. A rampa tem um ranque de lâmpadas elétricas. As gambiarras, dispostas do mesmo modo, ajudam na iluminação do cenário. Os projetores dão a variedade de cores e iluminação com aspectos maravilhosos. Um verdadeiro show de esfeitos especiais.
Nicéas Romeo Zanchett 
http://selecaodehistoriasinfantis.blogspot.com.br 
http://asfabulasdeesopo.blogspot.com.br

domingo, 21 de outubro de 2012

OS DEUSES E A ORIGEM DO UNIVERSO

                              OS DEUSES E A ORIGEM DO UNIVERSO
  BIG BANG a GRANDE EXPLOSÃO, segundo a ciência anunciou nos anos 40, aconteceu à cerca de 15 bilhões de anos. Até então nada existia e portanto, não havia o "antes".
A teoria do Big Bang se apoia, em parte, na Teoria da Relatividade de Albert Einstein, publicada no início do século 20, e também dos astrônomos Edwin Hubbe e Milton Humason que demonstraram que o universo não é estático e se encontra em constante explanção. Segundo seus estudos as galáxias estão se afastando e expandindo o universo para além do imaginável. 
Desde que tomou consciência de sua própria existência, o ser humano procura no céu, sua verdadeira origem. A evolução da sua inteligência o levou a sentir medo e esperança. Medo pelos acontecimentos cósmicos e climáticos que poderiam por fim à sua vida. Esperança da imortalidade. Já nessa faze evolutiva ele passou a procurar uma maneira de controlar tudo oque originava seu pavor e buscou ajuda nos sinais celestes onde imaginariamente encontrou deuses que controlavam sua vida. Estava formada a base para o surgimento de crenças e religiões, cujos pilares tem sua sutentação, não na ciência, mas na fé. 

Os sumérios e babilônios, povos mesopotânicos, tem sua fé preservada em obras literárias como os poemas de Gilgamesh e Enuma Elis,  Nelas a criação é representada em um processo de procriação, em que os deuses seriam elementos naturais que formaram o universo. Nammu era a mãe que nos antigos textos é descrita como oceano. Para eles o Céu (An) e a Terra (Ki) se encontravam intimamente entrelaçados no útero de sua mãe Nammu quando, de seu abraço amoroso, surgiu  uma substância etérea chamada de Enlil (ar, atmosfera). Apos o nascimento do primogênito Enlil (o Senhor Vento), surgiram outros elementos no mundo, incluindo os seres humanos. Dessa forma, todos constituem a prole do Céu e da Terra.

Na China a entidade mítica Pan Gu deu origem a todas as coisas. Para eles, no começo não havia nada. Depois de longas eras o nada se transformou em uma unidade que ao longo do tempo se dividiu em duas partes: a feminina e a masculina para unidas darem origem à vida. Segundo esse mito, por  longo período o céu e a terra viveram entrelaçados até darem origem a Pan Gu, o primeiro ser. Segundo conta os escritos, essa massa levou 18 mil anos para que Céu e Terra se separassem. Durante outros 18 mil anos o Céu e a Terra aumentaram em altura e espessura.

A mitologia Hindu descreve que tudo era caótico e escuro. Nos versos do livro  sagrado Rig Veda, temos a seguinte descrição: "No começo não havia  existência nem não existência. Não havia atmosfera, ceus e reinos celestiais. (...) Não havia nada além de Deus." Para os hindus o mundo está sempre sendo recriado. O deus Brahma é o grande criador. Vishnu preserva e Shiva destroi tudo para que o ciclo recomece. O mundo criado por Brahma se dá a pártir de um ovo dourado; da sua parte externa surge o céu e o ar; da sua parte interna surgem os mares e a terra. Brahma também nasce de uma flor de lótus que brota do umbigo de Vishnu deitada sobre uma enorme serpente de mil cabeças que flutua no ocenano calmo.

Para os incas a criação do universo envolve vários mitos. A maior parte desses mitos estão vinculados ao deus criador Viracocha. Segundo um deles, antes da divindade criar a luz, criou mares, terras, plantas e animais. O ser humano entra como a criação  de um grupo de gigantes que fora incumbido de se multiplicar e preservar o planeta. Como se mostraram incapazes de realizar a tarefa, deus os transformou em pedra. Algumas versões do mito Viracocha conta que após transformar os gigantes em pedra, deus criou os seres humanos a partir da argila, dando-lhes algumas características próprias como  linguagem e habitos.  Após soprar a vida em suas criações, a divindade lhes ordenou que descessem à Terra, e que surgissem dos lagos, cavernas e montanhas. Dessa forma surgiram nações em diversas regiões do planeta onde instalaram santuários em homenagem a Viracocha.  Note-se a semelhança com a criação de Adão e Eva no cristianismo - religião bem recente.

Para os maias o processo de criação do mundo estava sugeito a uma cadeia cíclica de eras cósmicas de criação e destruição do universo dando origem ao mundo e o homem atual. Acreditavam que a destruição e recriação tinham como finalidade o seu aprimoramento. O mito mais conhecido é o de Quichés, da Guatemala, narrado no sagrado livro maia , Popol Vuh. Segundo essa versão tudo surgiu a partir do nada pela simples vontade dos deuses. As divindades criaram todos os seres que habitam a terra por meio da sua energia criadora. Depois, em etapas sucessivas de criação e destruição, formaram homens de argila e de madeira que não corresponderam aos seus objetivos. Finalmente descobriram uma materia prima sagrada, o milho, que mesclaram com o sangue da serpente - animal simbólico da fecundidade-, formando assim um novo homem  consciente da existência dos deuses e de sua missão na Terra. Essa versão tem muito a ver com as estorias sobre alienigenas do passado que teriam vindo à terra para colonizá-la, deixando aqui seus descendentes. Também aqui podemos observar a forte influência que teve para a formação da religião cristã. O homem teria sido criado do barro.

Na mitologia nórdica a criação do mundo também tem início com o nada. Segundo ela, do caos foram criadas duas regiões distintas. A região sul, repleta de luz e calor que era governada pelo fogo cósmico e a região norte que era  dominada pelas trevas e governada pelo gelo cósmico. No espaço, entre a luz e as trevas, do encontro do fogo com o gelo, surgiu Ymir, o gigante de gelo. Sua prole surgiu do seu suor enquanto dormia. Tempos depois, o derretimento do gelo deu origem a uma vaca chamada Audhumla, que com seu leite alimentou Ymir e seus filhos. Enquanto se alimentava lambendo as pedras de gelo, a vaca enconctrou um homem forte e esbelto chamado Buri. Este casou-se com uma das  filhas de Ymir e teve um filho, Bor, que por sua vez gerou três filhos com uma donzela gelada, chamados Odin, Vili e Ve.  Ymir foi morto por seus filhos, e de seu corpo foi criado Midgard, País do Meio, o reino dos humanos. De sua carne surgiu a Terra, de seu sangue surgiu o mar, de seus ossos surgiram as grandes montanhas, de seus cabelos, as arvores e de seu crânio, a abóbada celestial. 
Os gregos tem vários mitos sobre a criação do mundo, mas o mais conhecido e considerado o mais didático é o descrito em Teogonia, de Hesíodo. Segundo êle, no princípio só havia o Caos (o Universo). Dele surgiu Gaia (Terra) e outros seres primordiais e divinos, como Eros (atração, amor) e Tártaro (mundo inferior).  Do Caos também nasceram Érebo (a escuridão) e Nix ( a noite). Da Noite nasceram  Hemera (o Dia) e Éter (o ar). Gaia,  sem interferência de um ser masculino, deu à luz a Urano (o Céu), que em seguida a fertilizou. Da união de Céu e Gaia nasceram os Titãs, formados por seus homens e seis mulheres (Oceano, Céos, Créosm, Hiperião, Jápeto, Teia, Reia, Têmis, Mnemosine, Febe, Téwtis e Cronos). 
Segundo o mito, Urano não permitia que essas divindades saíssem do interior de Gaia. Cronos, seu filho mais jóvem, utilizou-se de uma foice criada nas entranhas da mãe Gaia e castrou o próprio pai para libertar todos os seus irmãos. É com essa metáfora mitológica que se explica a separação entre o Céu e a Terra, para permitir o início da vida. 
Os egípcios possuiam diversos mitos. Em seu panteão, cerca de dez deuses são associados à criação do mundo. Conta-se que antes existia apenas as trevas e a água primordial (Nun), semelhante ao Rio Nilo, que continha todas as sementes da vida.  A partir de Nun, surgiu Atun, que teve um casal de gêmeos. O filho Chu representava o ar seco, enquanto a filha  Tefnut representava o ar úmido. Os dois uniram-se e separaram o céu das águas e criaram Geb, a terra seca, e Nut, o céu. 
Apesar da aparente ingenuidade ou fantasia de muitas dessas explicações, elas contém valores de sociedades de diversas culturas. A Filosofia, a Teologia e a própria História tem muito de seus fundamentos nessas lendas e mitos. 
Para judeus e cristãos o mundo teria sido criado por Deus em seis dias. O livro sagrado dos judeus, Torá, assim como a Bíblia dos cristãos nos versículos 1 a 19 do primeiro capítulo do livro Gênesis, nos relata a criação dos céus e da Terra. Javé, o único e onipotente Deus, teria criado o mundo em seis dias. No primeiro dia, "Deus criou o Céu e a Terra"; no segundo, "Deus fez o firmamento e separou umas águas das outras e chamou o firmamento de Céu"; no terceiro dia, fez surgir a Terra e os Mares; no quarto dia, Ele separou os dias e as noites; no quinto dia, surgiram os peixes e as aves; no sexto, Deus criou os animais e o homem.
O cristianismo é uma religião muito rescente, mas hoje domina a maior parte do mundo civilizado. Foi criado e idealizado na Judéia, região habitada pelo povo semita buscando informações nas lendas e mitos de crenças antigas. - O povo semita foi um grupo étnico que disputava com os sumérios as regiões mais férteis da Mesopotânea e impunha novos sistemas de vida e de pensamento filosófico. Embora não tenha sido criado por Jesus Cristo, êle é o centro de toda a fé cristã. 
 O dia 25 de dezembro foi estabelecido como a data do nascimento de Cristo. Esta data teve sua origem das festividades da brunária pagã (25 de Dezembro) que era uma orgia em homenagem a Saturno, que por sua vez, mais tarde, deu origem ao carnaval em outra data. Os mitraístas sabiam que esta data era da comemoração do Natalis Solis Invicti (nascimento do sol invencivel) e mantê-la seria a melhor forma de converter os pagãos para o cristianismo. Na Bíblia, Livro Sagrado dos cristãos, não há nenhum mandamento ou instrução para celebrar o nascimento de Cristo. Não se sabe a data certa, mas ele teria nascido em Belém (Judéia) no ano 479 - da fundação de Roma. 
Os pagãos sempre festejaram o Natalis Solis Invicti com árvores iluminadas por luzes (velas) e também com a troca de presentes. Ao se converterem para o cristianismo, mantiveram os costumes e os trouxeram para sua nova fé. Dessa forma, o culto pagão teve de ser reinventado, sincretizado e cristianizado.
 A vinda do Messias, Salvador da Humanidade, faz surgir um corpo de doutrina religiosa que toma caráter universal. Entre as mais polêmicas afirmações da nova religião está a criação do mundo que, em muitos casos, ainda não aceita os avanços científicos e se mantem na idéia inicial do criacionismo. 
Embora sua história esteja repleta de relatos odiosos como a Santa Inquisição, a Caça às Bruxas e outras de menor importância, o cristinismo contribuiu para uma nova e superior condição da espécie humana. 
A história do Cristianismo pode ser dividida em quatro fases: início no Oriente (séculos I e II); expanção no Mediterrâneo (séculos III a X); evolução no Ociendente (séculos XI a XVIII; expanção no mundo (séculos XIX e XXI).  Suas tradições foram herdados do Império Romano com suas ordens religiosas de ilustrados monges.
Antes de sua queda, o Império Romano, no ano 394 d.C. adotou o cristinaismo como religião oficial do Estado. Com a queda do império, os Papas que vieram após  Constantino - O Grande Imperador Romano - deram continuidade e promoveram sua expanção pelo mundo todo. Com poderes de imperador, eles evitaram a destruição de remanescentes culturais e conduziram legiões sob o estandarte do monograma de Cristo: XP. 
Para a ciência o mundo só surgiu no momento da Grande Explosão - BIG BANG. A teoria afirma que até então não havia o antes e portanto, não houve um Deus criador porque o tempo simplesmente não existia. Seria Deus a inexplicável energia que provocou o BIG BANG? - Se assim for, Deus é a soma de toda a energia do Universo. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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domingo, 22 de julho de 2012

OS VÍRUS QUE ABALARAM O MUNDO


                                           OS VIRUS QUE ABALARAM O MUNDO

                A população mundial atingiu sete bilhões de seres humanos. Isto se deve à vertiginosa procriação e à longevidade. Mas também, e principalmente, pelo avanço científico que tem conseguido controlar os vírus que no passado provocaram as grandes tragédias. 
                 Hoje sabemos que aquelas tragédias eram causadas mais por fatores socioambientais do que das características genéticas da patologia. Essa conclusão só foi possível porque, coletando resíduos de sangue de quatro ossadas, os pesquisadores conseguiram reconstruir todo o genoma da peste. É a primeira vez que uma enfermidade antiga tem seu DNA inteiramente desvendado.
                 As pestes e epidemias acabaram com a antiga Grécia, com Roma Imperial, e se espalharam pelo mundo da Idade Média como um espectro de vicissitudes. Com o advento da medicina moderna, dos antibióticos e vacinas pensava-se que era o fim das epidemias. Mas novos vírus (super-vírus) estão surgindo e mesmo a mais avançada medicina não se mostra capaz de detê-los. 
                   De todas as tribulações que o homem sofreu em sua história, as doenças contagiosas foram as mais fatais. Morreram mais pessoas em epidemias do que em guerras e catástrofes. 
                  Em 429 a.C., terminou a Idade do Ouro de Atenas. Primeiro a morte atacou os jovens que viviam e amavam no baixo porto. Depois, embrenhou-se pelas ruelas e becos da cidade alta. E espalhou-se insidiosa. O médico Hipócrates aconselhou que se usasse de muito defumador, embora ditasse essa orientação, a salvo, de sua ilha-refúgio. De nada adiantou: um em cada três habitantes morreu, fosse abastado da cidade alta, miserável do Pireu, ou mesmo Péricles - então líder dos democratas radicais - e seus filhos. De seu refúgio, Hipócrates diagnosticava uma atmosfera pestilenta e miasmática em Atenas, trazida pelo excesso de refugiados e soldados que, sendo sua teoria, podia ser purificada pela defumação.
              Hoje sabemos que quatro vírus se abateram sobre Atenas: a varíola, o tifo, a disenteria e a febre-amarela. Ninguém sabia diferenciar as doenças, e por isso a chamavam todas de, simplesmente, de loimos. O loimos foi pior que a sangrenta Guerra do Peloponeso. E significou o fim da Grécia .
            Séculos depois, surgiu uma nova estrela: Roma, cidade situada entre colinas, abastecida com água fresca das montanhas, canalizada por eficiente sistema de aquedutos, embora Horácio, amigo do Imperador Augusto, já profetizasse: "Balnea, vina, venus corumpunt corpora nostra." (banhos, vinho e amor destruirão nossos corpos).
              Mas o poeta se enganou. Não foram os banhos, o vinho ou o amor que destruíram o corpo de seus patrícios romanos. Quem se encarregou disto, 400 anos depois, foi o mosquito transmissor da malária. Como o sistema de canalização estava quebrado, formaram-se pequenos pântanos ao redor da cidade, o que contribuiu para a proliferação da peste. Assim, a febre passou a atacar no verão, enfraquecendo as gloriosas legiões de César.
                Mas a malária também afetou os inimigos de Roma. Em 410 d.C atingiu o Rei Alarico e os visigodos. Em 452 foi a vez dos hunos e, três anos depois, os vândalos. No final só houve um vencedor: a malária, mal que foi capaz de transformar a Cidade do Mármore em uma triste ruína.  Em 1350, havia apenas 17 mil habitantes atrás de seus muros. Até mesmo os papas tinham abandonado a Cidade do Vaticano e se mudado para Avignon, no sul da França. Mesmo assim, foi lá que a peste alcançou  o Papa Clemente VI.
                 Em 1348 e 1349, a peste matou cerca de 20 milhões de europeus. Paris perdeu 50 mil habitantes, a metade de sua população. Em Hamburgo e Bremen morreram dois terços;  em Veneza, quatro quintos. Luebeck ficou deserta em poucos meses. Nove das dez cidades hanseáticas foram vítimas da peste. Em Chipre e na Groenlândia, a epidemia não deixou sobreviventes.
            Pais largavam seus filhos à própria sorte, médicos abandonavam pacientes e os padres se ocultavam por trás dos muros dos mosteiros. O cronista de Viena registrava: "Não se encontra quem enterre os mortos, nem por dinheiro, nem por amizade."
                Enquanto os empesteados atravessavam os campos, flagelando-se com açoites, culpavam-se os judeus pela tragédia.  Assim, em 9 de janeiro de 1349, na cidade de Basiléia, queimou-se toda a comunidade judaica (cerca de 400 pessoas) numa casa de madeira situada no centro de uma ilha. Em Maiença, foram   exterminados  cerca de 6 mil judeus de uma só vez, como também em muitas outras cidades alemãs. 
               O papa ficava diariamente entre duas grandes fogueiras, conforme orientação médica, como forma de afastar os miasmas do corpo.  Até que a epidemia arrefeceu e, por fim, extinguiu-se.
              O capítulo mais tenebroso da Idade Média terminava. Mas a peste ainda voltou, dezenas de vezes, durante mais de trezentos anos.
                De todas as tribulações  que o homem sofreu  em sua história, as doenças  contagiosas foram as mais fatais. Morreram mais pessoas em epidemias que nas guerras, erupções vulcânicas, inundações, terremotos, homicídios em massa, emfim, tudo de que a natureza ou o homem dispõe em seu arsenal de morte. 
                 As epidemias sempre fizeram e continuarão a fazer história. A varíola, trazida pelos conquistadores ibéricos e seus escravos para o Novo Mundo, ditou o fim das civilizações pré-colombianas. O próprio Napoleão Bonaparte temias mais a peste do que a seus inimigos. E foi por causa dela - e não dos muçulmanos - que em 1799 fracassou na batalha do Egito.  E até a sua morte - causada por veneno inglês - estava certo de que sua grande arme não fora vencida pelos russos e sim pelo tifo.  
             Ainda em 1348 d.C., a famosa Universidade de Paris responsabilizava pela peste a tríade formada pelos planetas Saturno, Júpiter e Marte. Quinhentos anos depois, em 1846, a mesma instituição ainda reforçava a tese de que a peste não era contagiosa. Para os velhos médicos, um meteoro, eclipse ou qualquer outro fenômeno meteorológico eram prognósticos para o surgimento de epidemias. O povo comum, entretanto, frequentemente sabia mais que os instruídos. Dava menos atenção às constelações que aos ratos correndo entre seus pés. 
                Na medicina, o novo conseguia se impor com dificuldade. Dessa forma, até meados do século XIX, pouco ou nada havia mudado desde a época de Hipócrates. Mas, já em 1860, o Dr.Ignaz Semmelweis - mais tarde reconhecido como "salvador das mães" - declarava a seu colega Prof. Scanzoni como "assassino perante Deus e o mundo". Isso porque Scanzoni ridicularizava as exigências de Semmelweis pela assepsia das salas de parto.
              Nos últimos cem anos, o reino das bactérias e vírus foi deslindado pela medicina.  O grande prestígio social que os médicos desfrutam atualmente  resulta em grande parte de sua capacidade de lutar contra os germes que o paciente não vê.  
               Em 1978, a Organização Mundial de Saúde anunciou: "Não há mais varíola sobre a Terra. O último paciente que os médicos da OMS cuidaram foi um cozinheiro da Somália. Quem ainda conseguir descobrir um doente portador de varíola tem direito a mil dólares em dinheiro." Em 1978 a medicina já sonhava com a vitória final sobre os inimigos invisíveis, da erradicação de todas as doenças infectocontagiosas. Até que surgiu a AIDS. 
                   No primeiro Congresso Mundial Sobre AIDS, aventou-se que essa epidemia podia muito bem ser comparada às terríveis pestes da Idade Média.  A única diferença é que a AIDS levava a uma morte mais lenta, um mal como o câncer que não tem um final rápido da noite para o dia. 
                  A peste negra, que matou mais de 50 milhões de europeus entre 1347 e 1351, pode ser considerada como a grande referência para temermos uma nova pandemia. Os estudos indicam que a devastadora bactéria medieval difere muito pouco das que hoje circulam pelo mundo. Esta comprovado que as causas da tragédia medieval foram mais por fatores socioambientais do que pelas características genéticas da patologia. O nosso moderno arsenal de antibióticos tem nos possibilitado uma defesa contra as bactérias, mas isto pode estar com o tempo contado. A crescente resistência humana a antibióticos poderá fazer com que esses medicamentos não sejam mais eficazes em futuro bem próximo. Estamos prestes a viver uma nova era da medicina: a era pós-antibióticos, na qual uma simples infecção causada por um pequeno corte ou arranhão levará fatalmente à morte.  Uma era pós-antibióticos significa o fim da medicina moderna como conhecemos. 
Nicéas Romeo Zanchett 
Leia também 
http://www.textolivre.com.br/artigos/13705-a-superbacteria-perigo-a-vista








  

terça-feira, 10 de julho de 2012

TRIBUNAL DA SANTA INQUISIÇÃO

                                 TRIBUNAL DA SANTA INQUISIÇÃO

         
                     A Inquisitio Haereticae Pravitatis Sanctum Officium foi o nome, em latim,  da Santa Inquisição criada pela Igreja para combater o sincretismo religioso dos chamados infiéis. Foi instituída numa época em que a igreja exercia grande poder sobre os reinos europeus.
              Os objetivos iniciais eram estritamente religiosos, mas se tornou um instrumento político e econômico usado tanto pela igreja como por diversos soberanos que seguiam as orientações do Santo Ofício.  Ela permitia que pessoas e até mesmo populações inteiras fossem acusadas de práticas indevidas  e executadas de forma arbitrária, sem direito a defesa, em benefício de uma minoria de poderosos.
                   Em nome de Deus, com interpretações particulares de alguns textos considerados sagrados, a Inquisição levou pessoas a matar cruelmente aqueles que não seguissem o mesmo ponto de vista. Na verdade era uma forma justificada de tirar a vida daqueles que podriam se tornar uma ameaça futura para a Igreja. 
               Muito antes da Inquisição existir o Cristianismo pregado pela Igreja já era imposto através da força. Evidentemente, esta postura, nada tem a ver com o humilde pregador do amor e da paz  chamado Jesus Cristo. Uma delas  foi a sistemática perseguição de judeus. Em 1215, o Quarto Concílio de Latrão, estabeleceu que todos os judeus em terras católicas deveriam usar emblemas ou roupas que os diferenciassem dos outros. Foram confinados em guetos, tornado-os em uma classe odiosa em boa parte  da Europa. Também as Cruzadas, que duraram do século 11 ao século 14, e tiveram a particupação de grandes reis como Ricardo I e Luís IX, além do grande chefe e guia muçulmano Saladino, tinham nítidos objetivos econômicos e políticos. Não passaram de um conflito em que os europeus representantes da Igreja Católica saqueavam as mesquitas e matavam os seguidores de Alá sob a alegação de impor a religião católica. Saladino tornou-se governador do Egito  em 1169, o mais importante soberano do mundo muçulmano, e então planejou a união dos estados islâmicos  para uma contraofensiva aos cristãos.
                Já no final do século 4, em Trier, na Alemanha, diversos bispos executaram Prisciliano (Priscillian) e seus seguidores por questionarem a Trindade e a Ressurreição. Ele foi a primeira pessoa a ser executada por heresia contra o Cristianismo pregado pela Igreja. Outro caso interessante se deu em 415 quando a cientista Hypatia, chefe da Biblioteca de Alexandria, foi espancada até a morte junto com outros seguidores de São Cirilo.
             Na época da Inquisição a maioria da população européia era católica e se submetia à Igreja com perigoso fanatismo religioso e, portanto, era facilmente manipulada.
              O termo "hereia" foi usado por cristãos para designar idéias contrárias às da Igreja e consideradas falsas doutrinas. Matar hereges significava purificar o Cristianismo. A partir de então uma verdadeira guerra santa foi realizada contra os seguidores de outras crenças ou religiões. Em nome de Deus, qualquer um poderia ser acusado de heresia e ser mandado vivo para a fogueira.  
              Em nossos dias essas histórias podem parecer extremas, mas na época eram responsáveis por diversas acusações que resultaram na morte de muitas pessoas.
Em 1022, o rei Roberto, de Orleans, matou 13 hereges na fogueira. Em 1051, cristãos da comunidade alemã Goslar foram condenados à forca por se recusarem a matar galinhas. 
Pela postura da própria Igreja, os movimentos heréticos se expandiram pelo continente europeu. Os papas e o clero em geral se preocupavam com riquezas materiais e acúmulo de poder. Foi esta postura que provocou o descontentamento de muitos cristãos e propiciou o surgimento de diversas seitas, consideradas heréticas, que buscavam pela verdadeira doutrina de Jesus Cristo. Nessa ocasião os cátaros foram dizimados por defenderem conceitos diferentes dos dogmas da Igreja. Os waldensanos, seguidores leigos de Peter Waldo de Lyon, também foram alvo de acusações de heresia por mais de cinco séculos. Eles realizavam sermões nas ruas e, segundo as normas da Igreja, apenas os sacerdotes tinham esse direito. Finalmente, em 1487,  o papa Inocêncio VIII declarou uma cruzada  contra os waldensianos em Savoia, na França, resolvendo definitivamente o "problema".
                A mais conhecida heresia da história da Igreja é a caça  aos Cavaleiros Templários. Eram guerreiros de uma ordem que teve origem durante as Cruzadas. Foram acusados de cuspir em crucifixos e adorar o demônio. Torturados barbaramente, alguns confessaram e outros 70 foram queimados vivos.
                 No início do século 13, os bispos ganharam o poder de identificar, julgar  e punir os que fossem considerados hereges, mas não deu certo. Então a Igreja Romana começou a mandar inquisidores papais itinerantes para formar e conduzir os tribunais.
                  Qualquer pessoa podia ser acusada de heresia, ser aprisionada sem poder ver a família e sem saber o nome do acusador. Se não confessasse seus supostos delitos era torturada impiedosamente. Tudo era feito com o consentimento do papa Inocêncio IV, que autorizou a tortura em 1252. 
               Além de serem obrigados a se confessar hereges, as vítimas da Inquisição eram forçadas a denunciar familiares e amigos, para que eles também fossem submetidos aos processos de tortura. Aqueles que confessavam rapidamente recebiam penalidades mais leves. Entretanto, alguns réus recebiam penas mais graves, tornando-se prisioneiros perpétuos e tendo todos os seus bens confiscados pela Igreja. O patrimônio de cada herege podia determinar qual pena seria mais interessante para os objetivos da Igreja. 
               Em 1231, um estatuto papal determinou que a fogueira fosse a punição-padrão para os hereges. Mas, para  disfarçar e não sujar tanto o nome da Igreja, as execuções deveriam ser realizadas por civis.
                 Por ocasião da peste bubônica, que tomou conta da Europa em 1348, espalhou-se a notícia de que os responsáveis pela doença eram os judeus que estavam envenenando os poços de água para contaminar toda a população. Esse boato resultou no massacre de judeus em mais de 300 cidades. Em 1349, em Mainz - Alemanha, cerca de seis mil judeus foram mortos de uma só vez.  Em algumas regiões da Alemanha os judeus foram confinados em suas casas até morrerem de fome. Durante os três anos da Peste Negra, cerca de 350 grandes massacres foram realizados contra o povo judeu.

             As pessoas que discordavam de alguns aspectos do Cristianismo passaram a ser consideradas bruxas. Na caça às bruxas a Santa Inquisição levou à morte, possivelmente, dois milhões de vítimas. Muitas mulheres e alguns homens foram torturados e morreram sob acusação de que eles voavam pelo céu e mantinham relações sexuais com Satã. As mulheres passaram a ser tratadas como seres traiçoeiros e desprezíveis e milhares foram condenadas à morte. Foi a partir de relatos desse tipo que a imagem feminina passou a ser associada ao demônio. 
                  As pessoas consideradas bruxas eram conhecedoras de sabedorias antigas e, portanto, tornavam-se uma ameaça para o soberania da Igreja. Na maioria das vezes eram condenadas á morte. O papa Gregório IX já havia autorizado oficialmente a morte de bruxas no século 12, mas a "moda" só pegou mesmo no século 15. Em 1484, o papa Inocêncio VIII emitiu um boletim que enfatizava a existência de bruxas e dizia que os que pensassem ao contrário poderiam ser condenados por heresia. Como conseqüência houve grande aumento de condenações. Cumanos, um dos inquisidores, mandou de uma só vez 41 mulheres para a fogueira, acusadas de bruxaria. 
                 Os civis encarregados de levar as pessoas à fogueira se tornaram populares e, ao mesmo tempo temidos por toda a comunidade européia. Isto não estava nos planos da Igreja. O carrasco Robert Le Bourge ficou famoso por matar 183 pessoas na fogueira em uma só semana. Outro carrasco de destaque foi Bernardo Gui que condenou e confiscou todos os bens de 970 pessoas. Dessas, um terço foi conduzida para a  prisão e 42 para a fogueira. 
               O medo das atrocidades fazia com que muitos acusados se convertessem ao Cristianismo. Como resultado, milhares de judeus e muçulmanos da Espanha se converteram. Mas logo foram acusados de não serem sinceros e de praticar suas religiões originais  na clandestinidade. Os "falsos cristãos" eram um novo alvo da Igreja e sua caça perdurou por longo tempo com a colaboração do rei Ferdinando e da rainha Isabel da Espanha. A partir de 1498, eles foram autorizados pelo papa a reviverem a Inquisição contra judeus e muçulmanos acusados de praticas religiosas secretas. Nessa etapa, conhecida como Inquisição Espanhola, o frei dominicano Tomás de Torquemada foi nomeado inquisidor-geral, matando mais de duas mil pessoas na fogueira e tornando-se símbolo de crueldade cristã.
            Em 1542, o papa Paulo III resolveu acabar com a influência protestante na Itália. Surgiu então a Inquisição Romana espalhando o terror e matando hereges por qualquer tipo de suspeita ou acusação. Foi nessa ocasião que figuras famosas como o filósofo e cientista Giordano Bruno morreram sob acusações heréticas. A partir de então a Inquisição se espalhou por diversas partes do mundo. 

                 A caça às bruxas se espalhou por toda a Europa.  Alemanha, Hungria, Espanha, Suíça, Itália, França, Suécia, Inglaterra, Escócia e até mesmo a colônia norte-americana de Massachusetts se empenharam em sua perseguição. Nas colônias americanas, em nome de Deus, muitos nativos foram dizimados. Qualquer um poderia ser considerado suspeito, aprisionado e torturado até confessar seus supostos "crimes" e denunciar seus "comparsas de bruxaria". 
                    Segundo os pesquisadores, a perseguição da Igreja Católica aos muçulmanos, judeus e hereges era uma luta em nome do Deus cristão, mas, também em nome da fé, muitas atrocidades foram cometidas por puro sadismo sexual e mundano. As mulheres recebiam tratamento diferenciado. Para serem torturadas, eram desnudas e tinham todos os pelos do corpo raspados. Isso evidencia que a verdadeira intenção era, também, satisfazer os instintos e as sádicas fantasias sexuais  dos inquisidores. Elas, quase sempre, eram condenadas a esse tipo de tratamento que podia ser assistido publicamente. As mais belas e excêntricas eram as preferidas dos acusadores e suas execuções reuniam multidões, especialmente de poderosos senhores do clero.

              As torturas das mulheres eram mais demoradas que as dos homens. Elas tinham as unhas arrancadas enquanto tenazes incandescentes eram aplicadas em seus seios. Diante de tanto sofrimento, a maioria acabava fazendo algum tipo de confissão e sua condenação era de acordo com ela. Na verdade a Igreja sempre demonstrou seu total desprezo as mulheres. Não se sabe ao certo quantas sofreram este tipo de tratamento, pois os registros desapareceram dos arquivos da Igreja, mas não há dúvida de que milhares delas foram condenadas e torturadas até a morte. Segundo consta em poucos registos preservados, 5.000 mulheres foram mortas na província de Alsácia, 900 em Bamberg, 2.000 na Bavária, 311 em Vaud, 167 em Grenoble, 157 em Wurzburg, sendo 133 em um único dia.
                  A Igreja Católica tem feito um grande esforço no sentido de apagar a memória de um período tão sangrento de sua história. Em 15 de março de 2000, o papa João Paulo II, no documento "Memória e Reconciliação: a Igreja e as Culpas do Passado",  listou as incorreções e os pecados cometidos pela Igreja Católica no passado quando, levada pelo seu crescente poder temporal, foi intolerante, opressora e até mesmo corrupta. 
                Com mais de 90 páginas, o documento se tornou a maior demonstração de expiação pública da história do Catolicismo. Por meio dele o papa, em nome da Igreja, pediu perdão pela série de pecados cometidos desde sua origem.
                É oportuno lembrar que muitos cristãos, inclusive do clero, eram radicalmente contra as práticas da Igreja naquela época, mas sentiam-se intimidados e não tinham como reagir diante do enorme poder que estava nas mãos dos seus principais dirigentes.
                 As igrejas sempre tiveram e, infelizmente, ainda tem grande domínio sobre a mente dos seus membros, que acreditam e acatam qualquer ordem   vinda dos líderes religiosos. Hoje, os objetivos continuam sendo dinheiro e poder político, mas felizmente já não se pratica crimes como na época da Santa Inquisição. As superstições só serão vencidas no dia em que prevalecer o conhecimento e a educação, que nunca interessaram às igrejas e tampouco aos políticos que preferem manter a massa humana ignorante e submissa.
              A história de cada um é um currículo de vida que não pode ser mudado, mas é também uma experiência que serve para iluminar o futuro.
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Nicéas Romeo Zanchett 
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