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segunda-feira, 8 de julho de 2013

SARAH BERNHARDT



SARAH BERNHARDT 
UMA MULHER LIBERADA 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                      Sarah Bernhardt  nasceu em Paris  a 23 de outubro de 1844, e morreu em Paris a 26 de março de 1923. Conhecida como a mais famosa atriz de todos os tempos. 
                       Filha de uma senhora holandesa e israelita chamada Julie Bernardt - Youle -, para os íntimos. Ainda muito jovem, sua mãe lançara-se na vida como cortesã, que na época era chamada de "uma vida galante". Entre seus admiradores, havia um jovem estudante de direito que se tornou o pai de Sarah. No entanto, ao ser nomeado notório em Havre, ele deixou mãe e filha com uma pequena pensão. 
                       Os primeiros 4 anos  de sua vida passou na Bretanha, aos cuidados de uma babá. Foi ali que aprendeu sua primeira língua, o bretão; e foi por esse motivo que adotou a forma bretã em seu sobrenome artístico: Bernhardt. Quando ainda vivia na Bretanha sofreu um acidente, caindo  de uma janela e quebrando a rótula da perna direita. Apos este episódio sua mãe a levou para Paris, onde permaneceu por dois anos. Quando já ia completar 7 anos foi colocada num internato para garotas, chamado Instituição Fressard, onde permaneceu até os 9 anos. Em 1853,  internou-se num colégio de freiras, chamado Grandchamp, na região de Versalles. Ali aconteceu o desabrochar da vocação que, mais tarde, a tornaria conhecida como "A Divina Sarah". 
                       Sua vida familiar, principalmente nos primeiros anos, foi muito difícil pelas más influências da mãe, com a qual tinha uma relação muito tensa. Julie Bernard tinha predileção pela filha Jeanne e descuidou-se totalmente da filha menor, Régine, que acabou sendo prostituta aos 13 anos e falecendo de tuberculose aos 18, em 1859. A irmã mais velha Jeanne, sempre que tinha necessidade de dinheiro, também se prostituía. 
                      Sua mãe, conhecida cortesã, levava uma vida mundana, sempre cercada de admiradores ilustres. Quando Sarah completou 15 anos, tentou induzi-la a ser uma cortesã de luxo para ganhar dinheiro; mas a jovem, influenciada pela educação religiosa que teve com as freiras, negou-se repetidamente, embora algumas vezes tenha feito programas. Nessa época, sua mãe  tinha um salão em Paris, onde recebia seus clientes e muitas celebridades. Entre as celebridades estava Rossini Dumas e o Duque de Morny, meio irmão de Napoleão Bonaparte,  que aconselhou inscrevê-la no "Conservatoire de Musique et Déclamation . Sarah ingressou sem dificuldades e teve a oportunidade de um treinamento formal. 
                      A partir de então, Sarah Bernhardt não mais abandonou o teatro. Sua reação aos sofrimentos de uma infância abandonada foi muito peculiar; dedicou-se freneticamente às pessoas de sua família e apenas a elas. Preocupada com sua irmã Jeanne, que costumava ganhar dinheiro como cortesã de luxo, levou-a consigo como sua companhia em viagens europeias e americanas; tentou fazê-la atuar  em alguns pequenos papéis, mas era uma atriz medíocre. Era viciada em morfina, sofreu grave crise de neurose e teve de ser internada no hospital "La Pitié-Salpetrière" em Paris. Depois dedicou-se com todas as forças ao filho Maurice  e às netas. O filho, Maurice Bernhardt - resultado do caso que teve com o Príncipe Henri de Ligne - viveu sempre à custa de sua mãe. As últimas excursões que ela fez aos Estados Unidos, já cansada e doente, foi para pagar as dividas do filho.   
                      Foram muitas as aventuras amorosas de Sarah Bernhardt, mas além de sua total dedicação à família, em seu coração só existiu o teatro. Entre seus amores podemos citar: Victor Hugo, o Principe de Ligne, com quem teve um filho, o Príncipe de Gales, Charles Haas, Jean Richepin, Mounet-Sully entre outros. Ela também teve um amor homossexual, muito estranho para aqueles dias, com a pintora francesa Louise Abbéma, descendente de Luisa Contat, célebre atriz francesa. Também Geroge Sand, que na época escandalizava todos os seus compatriotas, foi vê-la  e, sobre este encontro escreveu: "Olhei para essa mulher com uma ternura extraordinária." 
                       Quando foi prestar exame para o concurso do conservatório, estava morrendo de medo - esse medo jamais a abandonou, nem no auge da  sua glória. O juri se mostrava frio e hostil e ficou ainda mais irritado quado ela anunciou que iria recitar  La Fontaine. Dumas dizia que quando ela  sentia a animosidade alheia, sua voz se tornava mais patética e mais pura, "como uma fonte milagrosa". Apesar do medo, Sarah Bernhardt lançou-se por inteira ao desafio do difícil texto.  A comissão julgadora caiu em lágrimas e a atrevida jovem foi reconhecida como uma autêntica atriz. 
                       A partir daquele momento decidiu que não bastava apenas ser uma atriz, tinha que ser a maior de todas. Começou a estudar, dia e noite, pagando os melhores professores, fazendo os maiores sacrifícios. Para ter aulas de francês, caminhava longas distâncias só para economizar o dinheiro da passagem. 
                       Quando ingressou na Comédia Francesa, não chegou a surpreender ninguém com sua segura interpretação de Efigênia; com apenas 18 anos já era a Diva Sarah Bernhardt. Todos a tratavam com o merecido respeito de uma grande estrela, mas o porteiro do teatro, que já a conhecia de bastante tempo, continuava a chamá-la de "pequena Bernhardt" até o dia em que a temperamental atriz se irritou e lhe deu com a sombrinha na cabeça. 
                       Nos quatro anos seguintes sua vida teve novos episódios marcantes.  Sarah engravidou do Príncipe de Ligne, com quem teve seu filho Maurice, mas não queria nem ouvir falar em qualquer tipo de casamento. Sua mãe, para irritá-la,  dizia agressivamente: "Eu não sei ao certo se o pai é Gambetta, Victor Hugo ou o General Boulanger."  "Tu te comportas como uma louca princesa russa." 
                       Ao retornar à carreira interpretou Sílvia em "O jogo do amor e do Acaso", de Marivaux; Armanda em "As mulheres Sábias" e Cornélia em "Rei Lear".  Mas seu grande sucesso aconteceu quando interpretou  Zacharie em "Athalia", peça em que apareceu vestida de rapaz. O público delirou. No mesmo teatro,  interpretou o papel principal em "Kean", drama de Dumas. Na noite de estreia, teve que enfrentar uma manifestação política  de estudantes que gritavam: "Abaixo Dumas, viva Victor Hugo." Nessa ocasião Victos Hugo já estava no exílio. Sarah enfrentou o medo e, dirigindo-se aos manifestantes de mãos postas disse-lhes que um escritor não é culpado pela desgraça política do outro. Ao terminar o espetáculo, Dumas foi até ela e cobriu-a de beijos. 
                        Nessa altura, seu nome em qualquer cartaz de teatro era garantia de lotação esgotada. Já não podia dar um  passo, fazer qualquer gesto sem que toda a França soubesse.  Antes que ela interpretasse  "Ruy Blas", toda a França tomou conhecimento de seu encontro com Victor Hugo. Ao vê-la em cena, o grande poeta caiu-lhe aos pés e lhe ofereceu uma lágrima - por escrito. Na mesma ocasião Sarah recusou um bracelete  ornado de diamantes oferecido pelo nababo Alfred Sasson. Sobre o episódio ela disse: " Os brilhantes não valem uma lágrima de Victor Hugo." 
                        Suas  atitudes eram comentadas  em todos os jornais; Nadar a fotografava em todos os ângulos; o crítico Sarcey escrevia: "É a própria natureza servida por uma inteligência maravilhosa, uma alma de fogo e a voz mais melodiosa que já chegou aos ouvidos humanos." Também Gouncourt não a poupava comentando suas loucuras. Sua impetuosidade mostrava que queria viver intensamente; parecia ter uma inesgotável fome pela vida. "A vida é curta mesmo para os que vivem muito." Sarah, escrevia, esculpia e pintava. 
                         Na sua triunfal excursão pelos Estados Unidos, foi visitada  pelo mega empresário Cornélius Vanderbilt, magnata da marinha mercante e das ferrovias, que chorava ao vê-la interpretar  "A Dama das Camélias". Numa ocasião ela lhe perguntou o que poderia lhe oferecer e o milionário, com seu costumeiro bom humor respondeu: "Um lenço". Certamente precisava de um lenço para enxugar as lágrimas. 
                        Nessa época, a maioria dos ídolos franceses passavam, mas o mito de Sarah Bernhardt continuava, cada vez mais forte.  Durante a apresentação de " Processo de Joana D'Arc", já com 65 anos, ela respondeu ao bispo Cauchon: "Tenho 19 anos", e o teatro explodiu ovacionando-a longamente. 
                         Mas a vida de Sarah Bernhardt, aos 71 anos, teve um novo episódio que a marcaria para o reto dos seus dias.  Ainda que tenha se curado do acidente ocorrido aos 4 anos, sua rótula continuou frágil e vulnerável. Em 1914, por causa de um novo acidente, e com as fortes dores que sentia, teve a perna amputada. Entretanto, sua imagem continuou intacta. Quando alguém lhe falava sobre sua deficiência, costumava perguntar: "Que perna"? Os cronistas falavam - em sua coragem, autenticidade e talento - o que os outros gostariam de ser ao menos uma vez na vida. Suas fotos, retratos a óleo ou aquarela mostram sempre um rosto diferente, como se la Bernhardt fosse muitas mulheres - todas as mulheres. 
                         Sarah Bernhardt teve uma forte ligação com o Brasil, onde representou por três vezes. A primeira foi ainda no império, as duas outras já na República. 
                          A "Divina Sarah"  por muitas vezes, foi carregada em triunfo, tanto em seu país como em outros que visitara. Seu mito continua até hoje. Na busca pela sua imagem no tempo, é só ela, sua força, seu talento e seu mistério, que todos encontram. 
Nicéas Romeo Zanchett 
                      

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