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sábado, 30 de abril de 2011
A MORTE DE SÓCRATES
A MORTE DE SÓCRATES 470 x 399 a.C.
A 2.400 anos ele disse: "Eu sou a minha alma". Isto demonstra que já sabia que a alma é imortal.
Pelas ruas de Atenas, envolto num áspero manto, com pés descalços e cabeça descoberta, vagava Sócrates distribuindo sabedoria. Era um homem fisicamente feio, mas manso e dócil como um santo. Tinha a profissão de escultor que pouquíssimas vezes exerceu, pois preferia esculpir sábias palavras.
Pouco se preocupava com as dificuldades financeiras de sua família. Cuidava dos negócios alheios e esquecia os seus. Nas infreqüentes visitas que fazia à casa de sua mulher Xantipa, era recebido com tempestades de palavras ásperas, que sábiamente ignorava. Sua maior ambição era ser benfeitor da humanidade. Sua bondade era tão grande quanto sua sabedoria. Desejava ver a justiça social ser exercida em todo o mundo. Os políticos detestavam encontrá-lo para não terem de responder perguntas embarassosas. Para sua esposa Xantipa era um preguiçoso, mas para os jóvens atenienses era um deus. Estes adoravam ir ao seu encontro para escutá-lo, cheios de admiração. Para transmitir saber, ele costumava instigar o pensamento de seus interlocutores, sem, no entanto, jamais responder diretamente suas perguntas.
Sócrates sentia especial prazer em chamar a atenção para aqueles que pensavam uma coisa e diziam outra, e também aqueles que diziam ser sábios quando, na verdade, não passavam de tolos ignorantes. Costumava chamar a si mesmo de "moscardo" (moscão). Tinha a habilidade de estimular as pessoas a pensarem. Outro apelido que costumava dar a si mesmo era de "parteira intelectual", porque auxiliava as pessoas a dar nascimento às suas próprias idéias, incentivando o uso do próprio pensamento. Com muita insistência afirmava que nada sabia. Dizia : "Sou o homem mais sábio de Atenas porque sei que nada sei".
Toda a essência do ensinamento de Sócrates pode ser resumido nas seguintes palavras: "Conhece-te a ti mesmo". Ele tentava sempre aprender com todos e neste pocesso, ensinava a seus mestres. Costumava dizer que o saber é uma virtude; que os homens cometem crimes porque são ignorantes, não conhecem outra coisa melhor.
Diferentemente do filósofo Lao-tze, acreditava que o melhor remédio para o crime é a educação. O objetivo maior de sua vida era ensinar os outros. Infelizmente, dizia ele, nem todos queriam ser educados.
Um dia, ao chegar ao mercado para seu costumeiro debate filosófico, deparou-se com um aviso colocado na tribuna pública que dizia: "Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da mocidade. A pena de seu crime é a morte".
Foi preso e julgado pelos políticos, cuja hipocrisia costumava denunciar nas praças públicas. Ao ser interpelado pelos juizes, recusou-se a defender-se dizendo que sua obrigação era sempre falar a verdade. Os juizes o consideraram culpado. Quando lhe perguntaram qual devia ser sua punição, ele sorriu sarcasticamente e disse: "Pelo que fiz por voz e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida à expensas públicas". Foi condenado á morte.
Durante trinta dias foi mantido numa cela funerária. Mesmo diante da morte, permaneceu calmo e discutindo tranqüilamente o significado da vida e o mistério da morte.
Critom, o mais ardente dos seus discípulos, entrou furtivamente na cela e disse ao mestre: "Foge depressa, Sócrates!"
- Fugir por que? Perguntou-lhe.
- Ora, não sabes que amanhã vão te matar?
- Martar-me? A mim? Ninguém pode me matar!
- Sim, amanhã terás de beber a mortal taça de cicuta - insistiu Criton. - Vamos, foge depressa para escapares à morte!
- Meu caro amigo Criton - respondeu-lhe - que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...
Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou: - Critos, achas que isto é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou: - Achas que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que vão matar, este invólucro, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!...
E assim, o mais sábio homem de todos os tempos, foi obrigado acabar a vida como um criminoso.
Ao beber o veneno, quando já sentia que seus membros esfriavam, despediu-se de todos com as mesmas palavras com que se dirigira aos juizes que o haviam julgado:" E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos, meus amigos, ides para vossas vidas; eu, para a minha morte. Qual seja o melhor dêsses caminhos, só Deus sabe".
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A morte de Sócrates é maior crime cometido pela democracia. Quando os homens julgam erradamente seu próximo, a história julgará os julgadores.
Foi assim.
Romeo Zanchett
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