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sábado, 3 de novembro de 2012

SAFO - A POETISA DE LESBOS

                      Pintura acrílica de Romeo Zanchett
                           SAFO - A POETISA DE LESBOS
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                  Lesbos era a ilha das paixões e o centro da cultura eolia da raça grega. A energia que os jônicos consumiram pelo prazer, pela política, pelo comércio, pela ciência, pela legislação e pelas artes eram restringidas à esfera de emoções individuais. Em nenhuma época da história grega, o amor à beleza física, a sensibilidade ante a natureza radiante e o fervor consumado do sentimento pessoal, tomaram tão grandes proporções e receberam tão ilustre expressão como em Lesbos. Foi ali que desabrochou a mais bela poesia lírica de que o mundo teve conhecimento.

                    Safo nasceu por volta de 612 a.C em Fresco, na ilha de Lesbos. O sábio Platão a definiu como "a décima musa" e Sócrates como "a bela".
A voluptuosidade da poesia eolia não é como a da arte persa ou árabe. É grega nas suas proporções, no seu tato e no seu domínio de si. 
Nas poesias de Safo está tudo tão ritmicamente em ordem pela arte suprema da serenidade, da grandeza, da expressão, do abandono e da paixão. 
Safgo, que se chamava Psafa no seu dialeto eolio, foi a única grande poetisa do mundo grego antigo. Ela viveu antes do nascimento de Gautama, fundador do Budismo. Sua poesia foi forte o suficiente para resistir a mais de vinte e seis séculos. Sua importância ultrapassa fronteiras. A sobrevivência de sua obra deve-se às citações de gramáticos e de lexicógrafos, sem os quais nenhuma palavra teria chegado aos nossos dias. Apesar do tempo e das dificuldades gráficas, suas obras se conservaram intactas até, pelo menos, o terceiro século de nossa era. 
Embora não pareça existir evidência afirmativa, consta que as obras de Safo e de outros poetas líricos foram queimadas em Constantinopla e em Roma no ano 1073, no papado Gregório VII. Já Cardano dissera que esta queima foi sobre o regime de Gregório Nazianzeno, cerca do ano 380 de nossa era.Pedro Alcídio diz ter ouvido, quando muito novo, que muitas obras de poetas gregos foram queimadas por ordem dos imperadores bizantinos e em seu lugar foram circulados os poemas de Gregório Nazianzeno. O Bispo Bloenfield declarou que devem ter sido destruídas bem cedo, porque nem Alceo e nem Safo foram anotados por qualquer dos gramáticos ulteriores. Não há sombra de dúvidas que sua obra era grandiosa. Poucos foram os preciosos versos que escaparam à destruição promovida pelo anti-paganismo. 
                                Escultura de Romeo Zanchett
Mas quem foi esta misteriosa Safo? Seu nome é encontrado em todo o lugar, mas o mistério permanece. Que existiu, não há dúvidas, mas quais terão sido as sublimes artes que usou com as mulheres? Era tão mulher  ao ponto de suas seguidoras serem chamadas de sáficas. Não tinha medo de homem, fosse ele de pequeno ou grande cérebro, a ponto de dizer: "eu amo as mulheres e elas me amam". Safo excitou, e foi banida por seus contemporâneos, porque adorou e depravou centenas de garotas. Seu fim foi dramático como ela própria: Suicidou-se aos 55 anos, quando percebeu que o homem que amava não a queria e ainda a isultava. Uma grande poetisa , talvez a maior de todos os tempos. Possuidora de um caráter mórbido e melodramático, de personalidade inquieta, sonhadora e erótica. 
As jovens de hoje, que possuem os mesmos gostos apaixonados comentam sua história  por ter ouvido falar. As verdadeiras herdeiras de Safo são as intelectuais que conhecem o essencial de sua vida e seu modo de amar. O orgasmo sáfico é muito mais que cerebral: é uma apaixonante dedicação física a outra mulher, seja ela ativa ou passiva. 
Dos doze mil versos conhecidos, sete mil enlouquecidos e cheios de libidos, em sua grande parte, foram queimados pelas Cruzadas cristãs. 
De todas as maravilhosas poesias que dedicou às suas amantes, somente a última chegou completa até nós. "ODE AO AMOR". 

                   Desenho de Romeo Zanchett

            ODE A VÊNUS - por Safo
Filha de Jove, que tens altares
Em cem lugares, Diva Falaz:
Ah! poupa máguas a quem te adora
A quem implora favor e paz.
.
Tu já outr'ora piedosa ouviste
O brado triste da minha voz:
E da paterna mansão celeste
A mim vieste pronta e veloz.
.
Ao nívio caro jungido tinhas
Das avezinhas o meigo par.
E voando pelo ar sereno
Em prado ameno veio pousar.
.
E tu, sorrindo, de mim diante
Meigo o semblante falaste assim:
"Safo, eu te vejo tão consternada,
Por que magoada chamas por mim?"
.
"Paixão te oprime? Gemes, suspiras
Dize, a que aspiram com tanto ardor?
Alguém, ingrato, se te não rende?
Ah! quem te ofende com tal rigor?"
.
"Há de rogar-te, se te ora enjeita
Teus dons rejeita? Dons te dará:
Desquer-te amado? Por ti já esquiva
Em chama ativa se abrasará".
.
Também agora, deusa benigna
A mim te digna  dar proteção:
Auxiliadora neste conflito
Vale ao aflito meu coração.
                       PUDOR - por Safo
A teus dote qual mais encantador
Tu ajuntas, amável criatura,
Um para mim de todos o maior,
E que até embeleza a formosura: 
O pudor!
Safo era um verdadeiro homem, gentilmente mulher, com virilidade pelo frágil sexo. Sua infância foi em Mitilene, onde vivia com três irmãos, invejando-os por seus atributos sexuais masculinos que eram seu sonho maior. Dizem que era bem feminina e graciosa, possuidora de um belíssimo corpo, estatura baixa, pele escura e peluda. Assim se descreveu: " A natureza não foi madrinha, me recusou o esplendor do rosto, compensarei com minha genialidade satânica e com noites atrozes, onde os cegos enxergarão com a potência dos meus sentidos..."
Politicamente, teve implicações na conspiração dos nobres contra o governo democrático, foi exilada por infâmia. Mudou-se para Siracusa, casando-se com um ricaço, permanecendo pura e intocada pelo membro masculino, como fez questão de acentuar: "E virgem permanecerei sempre, mas se algum dia acontecer de encontrar uma menina... Na ocasião a possuirei com ardor e também em mim mesma usarei um objeto com ponta e bem afiado.
Suas queridinhas amantes não lhe deram exclusivamente prazer orgásmico. Conta-se que uma jovem loura provocou a ira de Safo causando-lhe ciúmes e foi esganada. Uma outra loura, sua amante, entregou-se a um militar e desta vez a poetisa desabafou com sua pena: "Áttide, não te lembras do luar banhando teu despido corpo? E minha língua rósea que levemente escorregava no teu escuro orifício? De ti me persiste a memória e em ti não existe lembrança!  Lembrarás dos meus braços que tantas vezes te transportaram ao êxtase?"
A infiel loura apaixonou-se pelo militar grego, arrancando lágrimas de Safo. -"Ó amor, quem é o homem que senta à tua frente? Ah, me sinto enlevada pelo macho que está a teu lado porque já me falta a voz, e sinto a língua partida. Debaixo da pele, um fogo implacável circula. Os meus olhos não te enxergam mais... Te desejo, ainda te quero, te arrancarei dele... O suor me inunda, os meus braços de macho te sacodem e te apertam. Oh, se eu tivesse músculos para desmembrar-te para sempre! Devo resignar-me por não possuir aquelas três coisas do macho?  Nunca! Voltará para mim e "ali" te abrirei, enlouquecerás e esquecerás".
Jamais se cansava de repetir suas preferências: - " Amo a vida elegante e mulheres louras, claras como a lua, refinadas e esquivas. A beleza de minhas amantes é para mim como a luz do sol..."

Na necrópole heleno, egípcia de Ossirinco, foram descobertos alguns sonetos lésbicos, em louvor à mulher, gravados em sarcófagos.
"Permaneces imóvel e do lado de lá nada conheces. Eu sinto nos meus braços mudos o tormento do verão nas primeiras chuvas, o medo do teu frio seio e da tua flor no alto. Meu rosto reclamará de ti suor e lágrimas. Mas, pobre de mim, serei como meus dedos, vazios áridos. Chama, ó amada, a vida repetida, de quem por Ti a paixão prosta..."

   OUTRAS OBRAS BELÍSSIMAS:
"Oh, tu imortal beleza, tecedora de enganos, peço-lhe
não mostrar com penas e ânsias de amor o meu corpo e
o meu coração! Te adoro! Te quero para mim e para sempre.
Aqui vieste, voltaste. De longe ouviste minha voz e deixaste pai e mãe para seguir-me no leito dourado...
Te condiziam pássaros leves e elegantes sobre a terra escura dos meus braços fortes.
Rapidamente vieste. Gritaste.
E tu, maravilha, sorrindo em teu rosto mortal me perguntaste de que penas sofria e o que ainda suplicava...
No teu peito em delírio, sobre meu seio inexistente o que, diga-me, suplicavas?
Tu? Oh, mas me foges agora, cedo te perseguirei. Se recusares presentes, muito cedo presentes te darei.
Se não me amas, cedo me amarás, mesmo contra tua vontade. Venha a mim agora!
Quanto Clamor se compraz o teu corpo, e sobre o meu o teu Grande prazer, finalmente se cumpra! És minha!
Tu própria, no espasmo final
que me dás tua beleza e me assistes..."
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"O sangue flutua rápido em minhas veias; um acre calor invade minhas fibras. Ruborizo-me. Baixa a voz ao responder um gentil pensamento, inutilmente procuro e não acho. Com tumulto e força bate o sangue no meu peito. Morre a voz, enquanto eu passo minha língua em sua boca".
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Guardo a chama dentro do meu sangue e fervo,
um estúpido e continuado tintinar, me enche
os ouvidos, e sonho. Levanto o olhar, e entrevejo
sombra de macho. Me encontro apagada, um suor
gelado, a fisionomia morta como erva que não
cresce, tremendo em arrepios, enquanto minha
língua ativa se dirige em tua direção. Anseio
a ti cada vez mais, quase até a morte certa,
apagar este fogo".

                                Pintura acrílica de Romeo Zanchett
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"Virgindade, virgindade me deixas, onde vais?
Não voltarei mais para ti, nunca mais.
Tu és a flor purpúrea, que meus braços rudes,
pisam no abraço e aqui deitam, enquanto lá fora
a brilhante aurora de beijos, carícias e humores
e morte, venham para mim, porque tanto te desejei...".
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"Uiva o vento entre as árvores. O meu não não parece um rumor,
mas é o amor que corre, a paixão devoradora  pelos teus lindos
cabelos e teus membros alvos, me esgota e me quebra.
Assim só, te desejo, eu morro!"

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"Alegria de viver, mais não tenho. A vontade de
morrer se apossa de mim, ver o lótus, molhado de
orvalho às margens do Acheronte...".
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"Oh, fêmea, que meu hábito não sentir e não provar, ir
aqui e alí entre obscuros mortos que esvoaçam sobre sua traição.
Oh amor, pudesse eu com meus braços sufocar-te. E a aquela
vida de erros em segundo apagar..."
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"É como a maçã vermelha em seu ramo mais alto, os
colhedores a esquecem. Não esqueceu quem era como
ela, mas também não conseguiu alcançá-la".
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Procurei mostrar-lhes um pouco da vida e da obra desta grande poetisa que, na verdade, nunca morreu. Para as amantes especiais e as amizades amorosas, Safo continua existindo. No mundo do amor entre iguais, ela sempre será a musa e a deusa maior.
Nicéas Romeo Zanchett
http://amoresexo-arte.blogspot.com.br


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