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terça-feira, 16 de julho de 2019

O AMOR DE ANITA E GIUSEPPE GARIBALDI -

Uma história de amor e guerra

                No recente século XVIII as ricas planícies do norte , de Veneza a Milão estavam nas mãos do Império Austro-Húngaro. O Papa controlava a Itália central de mar a mar. A Itália meridional e a ilha da Sicília eram governadas pelo "Rei Bomba", assim chamado por mandar jogar bombas sobre os seus súditos. Só no semi-livre Reino da Sardenha governava um rei italiano de nascimento. . 
                  Naquele dias sombrios os patriotas italianos lutavam, sem plano definido, pelos seus sonhos de uma Itália livre e unida. O homem que viria a dirigi-los mais tarde era nessa época ainda um jovem marinheiro que percorria os portos de Mediterrâneo. Garibaldi ouviu boatos sobre um movimento clandestino denominado "Itália Jovem", liderado pelo patriota excilado Mazzini. Numa noite escura, em Marselha, procurou esse Mazzini e dele recebeu informaçõesmais seguras sobre o Risorgimento.
                  Ao jovem marinheiro foi então confiado um papel no plano de Mazzini: o de tirar o trono do Rei da Sardenha. Cabia-lhe juntar-se à Marinha Sarda e, com seus confederados, apossar-se de uma nava e bombardear as fortificações de Gênova. Mas o movimento malogrou totalmente, antes de estourar. Garibaldi escapou de ser preso porque conseguiu atravessar a fronteira da França. Aí soube que uma Corte Marcial o condenara à morte. 

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Exílio -A nida para o Brasil
               Foi assim que Garibaldi, com apenas 29 anos de idade, tornou-se apátrida. Em 1836 decidiu tentar a sorte no Novo Mundo. No Rio de Janeiro obteve uma velha embarcação de 20 toneladas, apresentou-se para a navegação costeira e batizou-a de Mazzini. 
                Duas revoluções lavraram, então, no Sul do Brasil. Tendo os estados de Santa catarina e Rio Grande do Sul declarado sua independência do Imperador do Brasil.  Garibaldi ofereceu os seus serviços à revolução. Sofreu abalroamentos, foi ferido à bala, e até sofreu torturas, mas só conseguiu êxitos reais quando deteve navios mercantes brasileiros e se apossou de seus carregamentos e tripulações. 
               Certo dia, perscrutando a terra com um óculo de alcance, o Capitão Garibaldi, avistou uma bela jovem. Imediatamente mandou arriar o seu escaler: descobrira de repente que a marinha necessitava urgentemente de provisões... A primeira pessoa que encontrou em terra foi o Sr. Ribeiro, negociante de cordoalha, que o convocou para ir a sua casa. A moça que serviu-lhe o café era filha do negociante, Anita, de 18 anos de idade, a jovem vista através do óculo de alcance. 
            Ali mesmo Garibaldi pediu a mão da moça. O pai recusou, e Anita foi trancada no quarto, com os irmãos montando guarda. Parece, contudo, que os irmãos tomaram o seu partido, pois os namorados começaram a manter correspondência. Certa noite , quando um escaler da pequena marinha rebelde aportou à praia. Anita já lá se encontrava, à espera .  Ao por do sol o pé a bordo, abandonava para sempre as praias da segurança.  
                Pouco depois, os navios de Garibaldi em fuga foram bombardeados por três belonaves brasileiros; o impacto lançou Anita sem sentidos sobra uma pilha de cadáveres. Logo que voltou a si, começou a tratar os feridos, enfaixando-os com tiras de sua própria saia; e quando o artilheiro que estava a seu lado foi pelos ares aos pedaços, ela tomou lugar atrás do canhão, sob o  comando de seu capitão. Foi essa a sua lua de mel. 

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As guerrilhas
                Quando a revolução fracassou, Garibaldi e seus homens fugiram para ops pampas. Ali se abrigaram nas ruínas de uma fazenda abandonada, onde Anita teve o seu primeiro filho.  Três meses depois, através das florestas das montanhas, fugiram para o Uruguai. A pequena família fixou residência na Capital, Montevidéu, e viveu em paz. Então, eis que, em 1843, o Uruguai foi invadido pelo ditador Rosas, da Argentina. Cinco anos mais tarde o Exército Argentino ainda estava paralisado nas cercanias de Montevidéu. Rosas culpava um bando de demônios de camisas vermelhas. Embora muito inferior em número, o bando derrotou Rosas duas vezes em campo aberto. 
       Esses "Camisas Vermelhas" intitulavam-se Legião Italiana. Eram voluntários arregimentados por Garibaldi para defesa da terra que os acolhera. À cata de uniformes, encontraram por acaso, num armazém, um lote de pano vermelho salvo de um incêndio. Anita e as outras esposas italianas atiraram-se à tarefa de cortar e coser. A partir desse dia a camisa vermelha foi o uniforme de batalha de Garibaldi e de todos que o seguiam. 
                Suas incursões garantiram a liberdade do Uruguai e retumbaram pelo mundo a fora. O comandante recebeu uma espada como homenagem da Sociedade da Nova Itália. Ao passar os dedos pela lâmina afiada, Garibaldi deve ter sentido saudades de sua terra natal.  

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A luta Pela Liberdade
           Assim, em 1848 Garibaldi pisou o solo italiano mais uma vez, com 60 Camisas Vermelhas. A sentença de morte ainda pesava sobre a sua cabeça. Foi, porém, recebido com aclamações do povo e um apele cordial do Rei da Sardenha, que se via ameaçado pelo Imperador da Áustria. Quando o Rei se recusou a dar-lhe uma patente no exército, Garibaldi dirigiu seus camisas Vermelhas num ataque independente com os austríacos. Quando as tropas regulares do Rei foram derrotadas perto de Milão, e a Sardenha pediu paz, a pergunta de Garibaldi foi: 
                 - E agora, onde vamos lutar? 
                A resposta  veio do coração da Itália - de Roma. O povo insurgia-se, o Papa fugira indo pedir proteção ao Rei Bomba de Nápoles. Depois de 1800 anos, renascia a República Romana, outrora tão gloriosa. Contra ele enfileiraram-se não só o Império Austríaco, o Rei Bomba e a Espanha, mas agora também a França. Pois Luiz Napoleão desembarcou subitamente na costa, perto de Roma, 10.000 homens de sua tropa de elite. 
                  Em defesa de Roma correu Garibaldi, seguido dos seus Camisas Vermelhas. Atrás ia a infantaria, em sua maioria composta de adolescentes, elegantemente uniformizados de azul-escuro com caudas de galo ondulando nos chapéus. Depois iam civis, operários com os seus aventais de trabalho, camponeses, pequenos comerciantes, velhos e crianças. 
              Esse estranho exército composto de uns 2.000 homens foi destacado para defesa do Monte Janículo, fora dos muros da cidade. No dia 30 de abril, Garibaldi avistou 7.000 brilhantes baioneta francesas que avançavam. Numa manobra ousada, investiu com seus homens ocupando posições entre as roseiras e pinheiros dos jardins das vilas circunvizinhas. A "Batalha da Rosas" durou do meio-dia até o escurecer, quando então um general francês, pálido e trêmulo, suplicou um armistício. 
             Surgindo do sul, vieram então as tropas do Rei Bomba, e Garibaldi recebeu ordens de retardá-las. Em vez disso, repeliu-as para o território napolitano. 
                Os franceses novamente assestaram seus canhões contra o Monte Janículo e mais uma vez os garibaldinos foram destacados para a defesa. Durante um mês os italianos repeliram ondas de ataque, sob constante bombardeio. 

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A Retirada
               A República de Roma finalmente rendeu-se, mas não Garibaldi. Jurou que continuaria a luta, instalado nas colinas. Seguiam-no 4.000 homens, envergando todos as famosas Camisas Vermelhas que agora os marcavam para a morte... ou para a glória. 
            Essa retirada através da Itália é até hoje uma epopeia nacional. Havia uns 65.000 homens espalhados em rede para capturar esses patriotas sem pátria. Ziguezagueando pelos ásperos Apeninos, Garibaldi conduziu seus homens através das malhas dessa rede.  Parecia estar em toda parte ao mesmo tempo, inspirando, assim, rumores de que havia vastas forças sob seu comando. A verdade era que, ao fim do escaldante mês de Julho, apenas 1.500 homens desesperados se encontravam, com seu comandante, diante das portas de S. Marinho. 
                Durante ´seculos, essa pequenina república dera asilo a todos os refugiados políticos. Garibaldi pediu abrigo para suas tropas exaustas. Mas ele próprio não se demorou, nem tampouco Anita e um punhado de bravos. Fugiram através das linhas inimigas e, atravessando o Rubicão como César já o fizera, atingiram a costa perto da foz do rio Pó. Mais um pouco e poderiam navegar para Veneza. 
           Mas, durante todo aquele último dia. Anita havia delirado, atacada da malária. Garibaldi carregou-a até os barcos que os aguardavam, mas não tardou que os austríacos avançassem vindos da praia. O navio de Garibaldi escapou, mas foi logo desviado para a terra; Garibaldi carregou a esposa agonizante das sombras dos pinhais. À noite Anita faleceu. Foi sepultada nas dunas de areia, 

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Nova oportunidade
                Assim findara, pensou o mundo, o belo sonho de ima Itália livre e unida. Entretanto, um 1849, o trono da Sardenha passou para o jovem Vitor Emanuel II. Garibaldi veio a saber no exílio que o novo rei estava disposto a permitir o seu regresso à pátria. Assim, em 1855, o viandante comprou uma fazenda na pedregosa ilhota de Caprera, à altura da Sardenha, onde passou a viver uma vida serena e solitária. 
               Mas por toda a Itália a esperança acelerava-se como um rufar de tambores. O Primeiro Ministro nomeado pelo jovem Rei da Sardenha foi o Conde Cavour, que veio a conseguir que Luiz Napoleão, Imperador da França, se aliasse á Itália em uma nova guerra com a Áustria. Quando Garibaldi conversou com o Conde, compreendeu que os italianos se uniram sob uma monarquia reinante. A partir de então serviu à Coroa e, assim, à sua pátria. 
              O Sul, porém, ainda continuava acorrentado. Ali Francisco, o filho de !"Bomba!", abarrotara as p´risões de patriotas. Cavour e Vitor Emanuel não ousavam levantar o dedo contra o Rei Francisco. As condições eram: Garibaldi terias de arranjar seus navios, recrutar seus voluntários. Se fracassasse ,pagaria sozinho; se vencesse, a vitória seria do Rei.
            Recrutou suas forças clandestinamente. Eram apenas 1.000 - "Os Mil". Audaciosamente desembarcaram na Sicília e desfraldaram a bandeira verde, branca e vermelha da liberdade italiana. 
                Os Sicilianos uniram-se a eles. Cortaram linhas telegráficas, dominaram sentinelas, interceptaram abastecimentos, desbarataram o exército do Rei Francisco e conduziram Os Mil, por trilhas escusas, runo ao seu objetivo - Palermo. 
                  Mas nas montanhas bravias Os Mil foram de súbito surpreendidos por 4.000 homens das bem adestradas tropas reais. Lutando ferozmente montanha acima, Garibaldi via seus homens caírem feridos em toda a extensão da encosta, entre eles o jovem Menotti, o filho que Anita lhe dera nos pampas do Brasil. E uma pergunta angustiosa repercutiu através dos montes ensanguentados: 
                  - General, que fazemos?
                  - Aqui ou construímos a Itália ou morreremos! - respondeu Garibaldi. 
               Seus homens ouviram, o inimigo ouviu, a Itália ouviu, o mundo inteiro ouviu. Saltando para a frente, espada desembainhada, Garibaldi comandou a carga e pôs em fuga uma força muito superior. 
           Outro exército foi mandado às pressas para o campo de batalha, para enfrentar Garibaldi. Deixando acesa as fogueiras de campanha para despistar o inimigo, Garibaldi passou despercebido por trás dele e entrou como um furacão em Palermo. Em três dias de lutas de rua capturou uma cidade defendida por 20.000 soldados. Depois atravessou o Estreito de Messina e, marchando rumo ao norte, foi conquistando o reino do rei Francisco, impelindo na sua frente um exército de 100.000 homens. 
               A Itália inteira era uma fogueira de entusiasmo, e a 7 de novembro de 1860 o primeiro Rei da Itália, com Garibaldi a seu lado, entrava triunfalmente em Nápoles. 
             Generosamente, Vitor Emanuel cumulou o Libertador de ofertas; um título, um castelo. Garibaldi recusou todos os prêmios. Servir a Itália fora a sua recompensa.  

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