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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

OS LUZIADAS



                                                      OS LUSÍADAS
              Resumir a grande obra "Os Lusíadas" é tarefa que somente o próprio Camões teria capacidade de fazê-lo. Mas, como o objetivo é dar aos leitores algumas gotas de cultura e, considerando que a obra de Camões é o grande poema da língua portuguesa, meu trabalho ficaria incompleto e falho se, pelo menos, não tentasse incluir este resumo.
               Os Lusíadas, de Luiz de Camões, é um poema nacional português em dez contos. Cada um forma um número variável de estrofes de oito versos cada (oitavas), sendo cada verso composto por dez sílabas.
                                                                   I
                 A frota portuguesa comandada por Vasco da Gama foi lançada ao mar, por caminhos desconhecidos, em busca da Índia. Foram muitas as aventuras e provas terríveis que exigiram grande coragem e determinação.
                A proeza somente foi possível graças à bravura, arrojo e constância dos portugueses, que certamente tiveram a proteção dos deuses do Olimpo e Júpiter. Entretanto Baco, que havia conquistado o Oriente, e temia que a fama dos portugueses sobrepusesse à sua, recebeu apoio de Netuno e juntos  opuseram-se aos desígnios de Júpiter. Mas Vênus e Mercúrio, que também estavam na reunião dos deuses, defenderam e aprovaram a ousadia  dos destemidos navegantes. Ao final da reunião, Júpiter se propôs auxiliar e proteger os intrépidos aventureiros.
                    Enquanto a reunião se passava no Olimpo, a frota de Vasco da Gama chegava a Moçambique, onde foram bem recebidos pelos negros nativos daquela terra. Mas ao tomarem conhecimento de que eram cristãos e possuidores de armas e riquezas, foram tomados pela cobiça, inveja e ódio e, fingindo-se amigos, prepararam-lhes uma traição; mas foram vencidos e desbaratados. Então, fingindo-se arrependidos, seguiram o conselho de Baco que, sob a figura de um velho, aconselhou o rei nativo infiel a dar-lhes um guia astuto que, prometendo ensinar-lhes o caminho da Índia, os conduzisse à local perdido.
                   Assim, confiando naqueles que tão covardemente os enganava, partiram. Mas Vênus, que velava por eles, levantou os ventos e as águas, impedindo-os de aportar em Quiloa, uma das ilhas inimigas habitadas por mouros cruéis, para onde o guia traidor os queria levar.
                                                                  II
              Ao chegarem próximos a Mombaça, o rei daquele pais mandou convidar os portugueses a entrar no porto; Então Vasco da Gama enviou à terra dois comandados, cujo ofício era investigar casos como este, para sondar as verdadeiras intenções daquela gente desconhecida. Entretanto, foram os mensageiros enganados pela população que, mostrando-se amiga, preparava a traição planejada por Baco, que nesta oportunidade se apresentara como um sacerdote cristão.
                     Confiando nas aparências, preparava-se Vasco da Gama para entrar no porto com toda a sua frota, quando  Vênus,  vendo o imenso perigo que os ameaçava, se apresentou chorando na presença de Júpiter, queixando-se que ele, o grande deus, havia abandonado seus protegidos. Júpiter tranquilizou Vênus prometendo-lhe auxílio e descrevendo-lhe, para consolá-la, as grandes glórias que esperavam os portugueses, cujo nome imortal faria empalidecer a fama de todos os heróis da antiguidade.  Vênus, muito satisfeita, volta para o mar, junta em torno de si as ninfas do oceano e, encrespando as ondas, impede a frota de entrar no porto traiçoeiro e impelindo-a brandamente  para longe.
                  Lutando com as ondas rebeldes, os marinheiros faziam grande vozerio. Os traidores que tinham vindo a bordo, juntamente com o pérfido guia, para atrair todos ao porto de Mombaça, ficaram com a consciência intranquila e com medo de que aquele alarido todo, fosse de raiva contra eles; jogaram-se do navio e voltaram a nado para o continente. Diante disso, Vasco da Gama percebe que se tratava de uma traição.  
               Em sonho, Vasco da Gama  recebe a visita de Marte, que o aconselha a aportar em Melinde, onde o rei e o povo lhe são favoráveis. Marte avisa que já estivera naquela terra e contara a todos sobre a fama do povo português, anunciando a chegada da frota. 
                  Seguindo os conselhos do deus da guerra, Vasco da Gama segue para Melinde, onde os navegantes portugueses foram recebidos com sincera admiração e alegria. O rei lhes oferece agasalhos, mantimentos e tudo mais que necessitavam.
                  À noite houve grande festa com fogos de artifício e musica, tanto a bordo como em terra. No dia seguinte o rei de Melinde vai visitar a frota, que o acolhe com demonstração de júbilo e muito esplendor. O rei pede a Vasco da Gama que lhe conte a história do seu pais.
                                                                  III
                   Todos ficaram em silêncio para escutar o que o grande Vasco da Gama iria contar;  depois de alguns momentos em meditação, começa por descrever a Europa e os diferentes povos que nela habitavam. Falou da gloriosa e forte Espanha, que chamou de cabeça da Europa, cujo rosto era Portugal; "a ditosa pátria minha amada", onde termina a terra e começa o mar. Conta a todos como Henrique de Borgonha ajudou D.Afonso de Castela a combater  os mouros e dele recebeu sua filha Tereza em casamento, e as terras do norte de Portugal. Em seguida conta sobre o governo de seu filho D. Afonso Henriques, as lutas deste  príncipe contra sua mãe, o cerco de Guimarães com a desenvolvida narração do sacrifício de D. Afonso, Egas Muniz, que ofereceu a sua vida e a de sua mulher e filhos ao rei de Leão, em troca da promessa, que não pode cumprir, de que D. Afonso Henriques se lhe submeteria; a batalha de Ourique, onde o príncipe foi aclamado rei pelos seus soldados, depois de ter a visão de Cristo crucificado, tendo nessa ocasião pintado no seu escudo as armas que ainda hoje figuram na bandeira de Portugal.
Contou também as gloriosas conquistas  deste rei aos mouros, e passa a narrar  vários acontecimentos do reinado de D. Sancho I, de D. Sancho II, de D. Afonso II, de D. Diniz; e então fala da obra deste rei que completa as vitoriosas conquistas dos seus antecessores, contruindo cidades e fortalezas, dif

domingo, 5 de dezembro de 2021

COSMO, CIÊNCIA E SUPERSTIÇÃO

 


            Não considero estranho que, em princípio, o tempo tenha sido considerado uma divindade, inclusive uma manifestação da divindade suprema, da qual a vida flui como um rio. A mente do homem primitivo estabelecia  menos distinções do que a nossa entre fatos exteriores e interiores, materiais e psíquicos. A vida era uma torrente de experiências interiores e exteriores que, a qualquer momento, produzia um conjunto diferente de acontecimentos coexistentes e que, por conseguinte, mudava sem cessar, tanto quantitativa, como qualitativamente.
              Da perspectiva original da humanidade, ideia difundida pelas mais diversas organizações religiosas,  o tempo era a vida e seu mistério era divino.
            Para o cristianismo, o tempo tem princípio e fim. Apresenta Deus criando as esferas planetárias e o firmamento. Todo o universo é redondo à imagem e semelhança de Deus, que é uma esfera cuja circunferência  está em lugar nenhum e cujo centro se encontra em toda a parte. O tempo apenas tomou existência a partir da criação dos corpos luminosos e a mão de Deus passou a intervir constantemente em seus movimentos. Graças a seus milagres e à sua providência, Deus põe em movimento um tempo histórico irreversível. Segundo esta perspectiva, o tempo apresenta um começo e um fim definidos. Segundo esse pensamento, o tempo se apresenta como uma sequência linear de acontecimentos através dos quais o propósito de Deus avança sem cessar até à meta. O fim é o juízo final. Depois, em "Apocalipse, 20:12,13" Deus criará um novo céu e uma nova terra, na qual situa a cidade santa de Jerusalém, onde não haverá mais morte nem noite, apenas a luz eterna.  
              No antigo Egito, o deus solar Rá era o senhor do tempo, porque fixava as medidas quando percorria o firmamento superior e o inferior com sua barca. Hora após hora, adotava a forma de uma divindade animal diferente. Desta maneira, o tempo adquire qualidades mutáveis e torna-se visível numa infinita e circular "procissão dos arquétipos".
              No Ocidente, o tempo é representado em forma de serpente e, no Oriente, como um dragão. No Novo Mundo, simbolizava-se com a serpente de duas cabeças, , uma das quais representando a vida e a outra, a morte. Enquanto na China o jogo dos opostos era considerado harmonioso, a concepção da dupla serpente mexicana é mais trágica, pois as cabeças olham em direções opostas. O tempo traz prazer, sorte e vida, mas também desdita e morte e considera que o mundo temporal chegará a um final inevitável e catastrófico. 
        A verdadeira pesquisa astronômica só teria início no século V a.C., quando os gregos começaram a especular  sobre a natureza do cosmo. Contudo, aproximadamente 40 séculos antes de Cristo, nas planícies  da Mesopotâmia, entre o Tigre e o Eufrates, viviam os caldeus, cuja civilização em seguida ampliou-se bastante. Sua história é frequentemente confundida com a dos babilônicos dos quais eles foram, com os assírios, às vezes aliados, às vezes inimigos. De qualquer forma, sua habilidade para interpretar a marcha dos corpos celestes ficou célebre e chegou até nós graças a numerosas tábuas de argila, assírio-babilônicas, fonte preciosa para conhecer a história dessas populações. Nelas puderam ser decifrados cálculos e anotações sobre o movimento dos planetas durante  vários séculos. 
           Os astrônomos assírio-babilônicos, a partir dos trabalhos dos caldeus e dos sumérios, obtiveram resultados notáveis sobre certos pontos: conheciam as fases da Lua e podiam predizer os eclipses. Eles haviam analisado o movimento  dos planetas através das constelações  do zodíaco e sabiam determinar suas fases, sua aparição e seu desaparecimento, os solstícios, os equinócios, os ciclos do Sol e da Lua.
             Os mais antigos registros astronômicos que chegaram até nós são os astrolábios. Trata-se de tábuas que traziam três círculos concêntricos divididos em 12 seções. Em cada um dos 36 setores assim obtidos estavam inscritos o nome de uma constelação e um número característico. Estes números deviam indicar o mês correspondente do calendário esquemático de 12 meses. Obtém-se assim uma espécie de carta celeste, um calendário astronômico de tipo lunissolar, fundamentado sobre o mês  lunar. 
              Já nesta época, os babilônios, como os ameríndios, tinham também os dias chamados  "nefastos", que excluíam certas atividades e impunham por outro lado ritos religiosos particulares.  Eles caíam nos dias 7, 14, 21 e 28 de cada mês, daí uma espécie de divisão hebdomadária (semanal). O dia se dividia  em 12 classes horárias chamadas kaspu
              Posteriormente a Alexandre, o Grande, os babilônios utilizaram o arco  de um grau como unidade de medida do espaço, e o "grau do tempo", isto é, quatro minutos, como unidade  de tempo. 

             Na China clássica, o dragão simbolizava a força criativa e dinâmica  do universo, o princípio masculino yang que atua no mundo do invisível e que tem seu campo no espírito e no tempo (enquanto o feminino yin influencia a matéria e o espaço). Portanto yang cria o princípio e yin a realização. No centro, aparece a pérola primordial  dos inícios, da qual emanam todas as coisas. O significado do tempo está no fato de, no seu interior, as fases de crescimento terem início de maneira clara. O céu (ou yang) mostra um movimento poderoso e incessante  que, pela sua própria natureza, faz com que tudo aconteça num único tempo sincrônico, de uma perspectiva divina, é o destino. Aqui estou dando este exemplo para que o leitor perceba que a observação do cosmo sempre foi universal. O Deus eterno está no cosmo, de onde viemos e para onde voltaremos. Desse Deus eterno emana  a vida, o "fluir da graça" que cria o agora onipresente, de modo que Deus é simultaneamente, quietude e fluir perpétuo. 

              Em certa medida, todas as estruturas incompletas são instáveis e tendem a se completar ou a se desintegrar. Portanto, a vida é como a difusão de um padrão à medida que vibra. Poder-se-ia interpretar  que tal "difusão" baseia-se na "similitude". Apenas a mente humana pode ver seu significado e experimentar conscientemente a unidade de "mente e matéria". 
             Podemos comparar o tempo com uma roda que gira: nosso tempo correspondente, que conhecemos com nossa consciência do Eu, seria o anel exterior, que gira mais rápido do que os demais. O seguinte representaria o tempo "eônico" (eternidade cósmica), que se move progressivamente com mais lentidão à medida que se aproxima do centro. Esse tempo eônico é representado pela ideia do ano platônico ou pelas eras ou sois astecas e dura infinitamente mais do que o nosso tempo corrente. 
           Nos nossos dias os estudo tem avançado de forma vertiginosa. No âmbito da astrofísica, encontramos admiráveis aspectos do tempo. Por exemplo, podemos olhar para trás no tempo e ver a luz de estrelas que há muito desapareceram. O universo está em constante movimento e as nuvens rotativas de hidrogênio se contraem e formam estrelas que continuam girando e que jogam matéria para o espaço. Ao final de dois milhões de anos, quando estiver quase consumido todo o combustível, a estrela se expande e volta a se contrair para o "derrubamento gravitacional definitivo". Este derrubamento pode se tornar um "buraco negro", no qual nada fica de observável, nem sequer o tempo. Ainda se discute  se o universo tem princípio e fim, se se move em ciclos de expansão e de derrubamento ou se se mantém em estado constante no qual a matéria se cria permanentemente. 
                 
               Voltando aos antigos babilônicos, é importante ressaltar que por volta de 747 a.C. o Rei Nabonassar subiu ao trono da Babilônia e reinou de 747 a 734 a.C. Foi o princípio de uma nova era astronômica para o cálculo do tempo  que devia durar até a reforma juliana do calendário. 
           A partir desta época, as observações astronômica foram mais sistemáticas e menos ligadas à astrologia. Estudou-se matematicamente os movimentos  dos planetas, o nascimento helíaco das estrelas, a marcha do Sol em torno da Terra, a divisão da eclíptica em 12 signos zodiacais e fixou-se a data dos solstícios e dos equinócios. Notaram-se as datas de aparição dos cometas, astros portadores de acontecimentos excepcionais, como as chuvas de estrelas cadentes. 
             Graças aos astrônomos babilônicos deste período, conhecemos também a data do primeiro eclipse de Sol estudado, que remonta a 19 de março do ano  721 a.C., e a dos eclipses seguintes. 
              A "Torre de Babel", erigida por Nabucodonosor (604 a.C.) pode ser considerada  como uma aplicação de conhecimentos astronômicos. O edifício de sete andares era sem dúvida dedicado ao Sol, à Lua e aos cinco planetas; ou melhor, segundo Schiaparelli, era uma representação da Terra habitada, das quatro regiões correspondentes aos quatro pontos cardeais, do reino dos mortos e do céu, como parece indicar o qualificativo: "templo dos sete compartimentos do céu e da terra". 
              Em resumo, os astrônomos caldeus e assírio-babilônicos foram os primeiros  a efetuar estudos importantes com métodos fundamentados em observações  científicas muito cuidadoras dos fenômenos celestes. 
Somente a cultura pode libertar os homens das superstições escravizantes. 
A vida de um homem só adquire sentido quando ele consegue deixar algum legado cultural (não material) para a humanidade. 
Sem esquecer os inúmeros homens que contribuíram para o nosso progresso, cito apenas três, como exemplo: Leonardo Da Vinci,  Albert Einstein e Darvin. 
        
Nicéas Romeo Zanchett 
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terça-feira, 2 de novembro de 2021

O ESPÍRITO DAS LEIS de Montesquieu - Nicéas Romeo Zanchett

 


Um breve histórico sobre Montesquieu e sua obra
             Desde longa data que Montesquieu traçara o esboço dessa obra, pensara durante vinte anos na sua execução; ou melhor dizendo, toda sua vida fora dedicada na constante meditação desse trabalho. 
             Entretanto, tornara-se dessa forma um estrangeiro dentro do seu próprio país. Percorreu toda a Europa e estudou profundamente  os diferentes povos que a habitavam na quela época. 
            A famosa ilha, que tanto se gloria das suas leis, e que as aproveita tão mal, foi para ele nessa longa viagem o que a ilha de Creta foi outrora para Licurgo, uma escola onde soube instruir-se, sem dela tudo aprovar; emfim ele, - se assim se pode dizer, - interrogou e m julgou as nações e os homens célebres que hoje já nem existem senão nos anais do mundo. E foi dessa forma que subiu todos os degraus, até chegar à posse do mais belo título que um sábio pode merecer, o de Legislador das Nações. 
            Ao longo do seu exaustivo trabalho, abandonou e retomou repetidas vezes sua obra. Muitas vezes, ele próprio confessou, fraquejou a mão que havia de escrevê-la. Por fim, animado pelos seus amigos, reuniu forças  e deu-nos o das Leis.
             Nessa importante obra, o senhor de Montesquieu, sem se preocupar com as discussões metafísicas relativas ao homem, sob um ponto de vista abstrato, sem se restringir a considerar certos povos nalgumas relações ou circunstâncias especiais, observa os habitantes do universo na situação real  em que ele se encontram, e sem todas as relações que possam ter entre si. 
             A maior parte dos escritores do seu gênero são quase sempre, ou simples moralistas, ou apenas jurisconsultos, ou mesmo, algumas vezes, simples teólogos; ele, homem de todos os países e de todas as nações, ocupa-se menos daquilo que o dever de nós exige, do que dos meios pelos quais nos podem abrigar a satisfazê-lo, menos de perfeição metafísica das leis, que daquela de que a natureza humana as torna susceptíveis; menos das leis promulgadas que daquelas que se deviam ter promulgado; menos das leis dum povo em particular, que das de todos os povos. Assim, comparando-se a si aqueles que percorreram antes dele essa grande e nobre carreira, podia dizer como Corregio, quando viu as obras dos seus rivais: "Também eu sou pintor!" Talvez o famoso pintor, instintivamente, não quisesse sentir-se inferior diante de tanta grandeza. 
             Seguro e compenetrado do assunto, o autor do Espírito das Leis abraça um tão grande número de materiais, e trata-as, ao mesmo tempo, com tanta concisão e conhecimento, que só uma leitura assídua e meditada pode fazer sentir o mérito desse livro. Ele servirá sobretudo para fazer desaparecer o pretenso defeito de método de que  alguns leitores acusaram o senhor de Montesquieu; superioridade que eles não deveriam acusá-lo ligeiramente de ter desdenhado em matéria filosófica e numa obra de vinte anos. Fiel às suas seções gerais, o autor reúne em cada uma os assuntos que lhe pertencem exclusivamente; e em relação àqueles que por diversos ramos pertencem a muitas seções ao mesmo tempo, ele colocou em cada seção o assunto que propriamente lhe compete; e assim se compreende facilmente e relação que as diferentes partes do assunto tem umas sobre as outras. 
            Com tudo isso, o senhor Montesquieu é para nós, pelo seu estudo das leis, o que Descartes foi para a filosofia; muitas vezes nos esclarece e em outras engana-se, mas, mesmo enganando-se instrui os que sabem ler.
           O amor pelo bem público, o desejo de ver todos os homens  felizes, vê-se ali bem claro; e não tivesse o livro senão esse mérito tão raro e tão precioso, por ele só seria digno da leitura dos povos de todos os países. Ainda que o grande pensador pouco tivesse sobrevivido à publicação do seu grande trabalho, ele teve a satisfação de entrever os efeitos que o livro começou a produzir entre as populações, da época e de hoje. O amor natural dos franceses, povo de essência culta, pela sua pátria, voltado para seu verdadeiro objeto; este gosto pelo comércio, pela agricultura e pelas artes e ciência, que se espalhou sensivelmente pelo país. O modo do povo ver os princípios da governança, que une mais os povos ao que eles devem amar. Mesmo aqueles que, por razões obscuras, atacaram essa obra, devem-lhe mais do que imaginam. 
            Tão logo apareceu o Espírito das Leis, foi muito procurado pela própria reputação do autor; mas embora o Sr  de Montesquieu tivesse escrito para o bem do povo, não devia ter o povo por juiz; a profundeza do assunto era uma consequência da sua importância. Entretanto, boatos espalhados sobre a obra, persuadiram  muitas pessoas de fora escrita para elas. O autor já era muito conhecido e, por isso, esperava-se um livro agradável, e encontrava-se um livro útil, do qual não se podia, sem alguma atenção, aprender o conjunto e os detalhes de importância universal. O próprio título, "Espirito das Leis" foi objeto de gracejos; emfim, um dos mais belos monumentos da literatura que saíram da França foi olhado pelo povo com demasiada indiferença. Mas, em se tratando de um povo bastante culto, logo os verdadeiros juízes, que tiveram tempo para ler a obra, fizeram virar a multidão, sempre pronta a mudar de opinião. A parte do público que ensinava ditou à parte que escutava o que ela devia pensar e dizer. Pouco a pouco, a opinião dos homens esclarecidos junta-se aos ecos que repetem as suas palavras e, assim, formou-se uma só voz em toda a Europa. 
           Como não podia deixar de ser, os inimigos públicos e secretos das letras e da filosofia, que sempre existe entre os inescrupulosos da política e da justiça, reuniram suas forças contra a obra. Muitas obras contrárias às sábias palavras do Sr. de Montesquieu,  foram lançadas para combatê-la. A luta dos imprudentes foi tão grande que parecia ter sido uma obra feita por bárbaros.   Felizmente, a sabedoria do povo europeu soube livrar-se desse entulhos contra as verdades ditas na obra. 
            O Senhor de Montesquieu desprezou essas críticas de autores sem talento que, pela inveja ou para satisfazer a má vontade do público que ama a sátira, logo entraram para o rol dos esquecidos. Não julgou o propósito e nem perdeu seu precioso tempo a combatê-los; contentou-se em dar um exemplo de humildade e compreensão. Foi acusado de Espinosismo (seguidor de Espinosa) e de Deísmo (imputações incompatíveis). Também foi acusado de haver seguido o sistema de Pope (do qual não havia uma só palavra em sua obra); de ter citado Plutarco, um escritor cristão; de não ter falado nada sobre o pecado original e da graça. 
            Naquela época a Igreja era a instituição mais poderosa e, portanto, foi provocada a dar sua opinião. Mas, apesar de que se tenha ocupado do assunto desde há muitos anos, ainda hoje, não se pronunciou a tal respeito; e mesmo que tivessem escapado ao Sr. Montesquieu qualquer ligeiras inadvertências, quase inevitáveis numa tão vasta matéria, a longa e escrupulosa atenção que ela demandou, nunca foi contestada pela corporação eclesiástica, que sempre foi prudente. Conhece ela os limites da razão e da fé; sabe que a obra de um homem de letras não deve ser apreciada  como a de um teólogo. Em seu meio, apesar destas acusações injustas, o Sr. de Montesquieu sempre foi estimado, procurado  e acolhido por tudo o que a Igreja possui de mais respeitável e superior. De forma que sempre foi conservado entre  as pessoas de bem  e nunca foi visto um escritor perigoso. 
            Enquanto alguns franceses o atormentavam em seu país, a Inglaterra erguia um monumento à sua glória. Em 1752, o Sr. Dassier, celebre pelos medalhões que cunhou em honra  de muitos homens ilustres, veio de Londres a Paris para fazer sua homenagem ao grande escritor.  Também o pintor Sr. Tour, artista de grande superioridade pelo seu reconhecido talento, deu um novo esplendor à sua paleta, transmitindo à posteridade o retrato do autor do Espírito das Leis. E não o fez pela sua própria glória, mas pela hora de pintá-lo. Mas o Sr. de Montesquieu constantemente e delicadamente às suas constantes solicitações. Já o Sr. Dassier, que a princípio encontrou idênticas dificuldades para por em prática o seu propósito, disse enfim a Montesquieu: "julgais que não há tanto orgulho em recusar aceder ao meu pedido, como em aceitá-lo?" Desarmado por esse gracejo, ele finalmente consentiu. 
                Finalmente, depois de ser tão combatido injustamente, o autor do Espírito das Leis, gozava emfim tranquilamente a sua glória. Infelizmente caiu doente em fevereiro daquele ano. A sua saúde, naturalmente delicada, começava a alterar-se depois de tanto tempo pelo efeito lento e quase infalível dos estudos profundos, pelos aborrecimentos que haviam procurado suscitar-lhe por causa da sua obra; e enfim pelo gênero de vida que fora forçado a seguir em Paris, e que sentia ser-lhe funesto. Mas a solicitude com que se procurava a sua intimidade era demasiado viva para não ser algumas vezes indiscreta; queria-se gozar da sua companhia à custa de sua frágil saúde. Quando a notícia sobre sua saúde chegou ao público tornou-se objeto constante de conversas e inquietação. Sua casa encheu-se de pessoas de todas as classes, que vinham informar-se do seu estado, umas por verdadeiro interesse, outras para se darem aparências. 
             Em 10 de Fevereiro de 1755, com sessenta e seis anos completos, a França e a Europa perderam seu ilustre sábio. Os países estrangeiros apressaram-se  em manifestar os seus sentimentos; a Academia Real das Ciências e das Letras da Prússia, apesar de não estar ali em uso fazer o elogio dos associados estrangeiros, julgou do seu dever prestar-lhe  essa honra, que ainda não dispensara senão ao ilustre João Bernouilli; o Sr. de Maupertuis, embora doente como estava, prestou ele próprio ao seu amigo essa última homenagem, não aceitando fazer-se substituir por outra pessoa  nesse momento tão caro e tão triste. 
           Em 17 de Fevereiro a Academia Francesa dedicou-lhe , segundo o uso, uma sessão solene, apesar do rigor da estação, quase todos os homens de letras pertencentes á corporação, que não estavam ausente de Paris, tomaram como deve assistir. 
              No convívio com todos, indistintamente, o Sr. de Montesquieu era de uma afabilidade e alegria inalteráveis. Sua conversação era leve, simples, agradável e instrutiva pelo grande número de homens e de povos que conhecera. Era lacônica como o seu estilo, cheia de argúcia e de relevo, sem azedume e sem sátira. Sabia ele que a intenção de uma história alegre está sempre no fim; e a ele se apressava em chegar, e produzia o efeito sem ter prometido. 
              As suas frequentes distrações tornavam-se ainda mais interessantes, e saía sempre delas por qualquer dito inesperado, que despertava a conversação adormecida; de resto eles não eram nem zombeteiros, nem chocantes, nem importunos. Originava-os o fogo do seu espírito, a grande número de ideias de que estava em plena posse, mas nunca os fazia cair no meio duma conversação de interesse ou séria. O desejo de agradar àqueles com quem se encontrava o fazia entregar-se a eles sem esforço. 
              Os encantos do seu convívio provinham não somente  do seu espírito, mas da espécie de regime que observava no estudo. Ainda que capaz duma meditação profunda e por longo tempo sustentada, ele não esgotava jamais as suas forças, deixando sempre o trabalho antes de sentir a menor impressão de fadiga. Era sensível à glória, mas não queria obtê-la senão merecendo-a. Jamais procurou aumentar a sua por manobras surdas, por caminhos obscuros e vergonhosos, que desonram a pessoa sem nada juntar ao nome do autor. 
             Embora convivendo com grandes personalidades de sua época, O Sr. de Montesquieu, por decoro ou por prazer, não tinha necessidade disso para ser feliz. Lhe bastava seu pensamento vivaz e criativo. Sempre que possível, fugia com alegrias para seus pensamentos, seus livros, sua filosofia,e seu descanso. Nas horas de ócio, preferia a companhia das pessoas simples do campo. Depois de ter estudado a profundeza do homem no convício do mundo e na história das nações, era na simplicidade da vida e da natureza que buscava novas inspirações. Alegremente, em sua essência de sábio,  conversava sobre todos os assuntos com aquelas pessoas simples como ele. Parece que a natureza e aquele convívio lhe trazia o espírito de Sócrates e,  assim, suavizava suas mágoas e trazia quietude ao seu coração. 
            Numa sociedade avarenta e faustosa, nunca deixou que aqueles homens e mulheres lhe conseguissem mudar. Benfeitor, e por conseguinte justo, nunca quis coisas materiais de sua própria família; lhe bastava o que precisava para as suas despesas, não apenas alimentar, mas também para suas viagens em benefício da humanidade. Transmitiu para seus filhos a herança que havia recebido de seus pais. Esse artigo é apenas um resumo que pude fazer, mesmo sabendo que não se pode resumir em algumas palavras a grandeza de um homem  como foi o Sr. de Montesquieu.  
Nicéas Romeo Zanchett 
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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A HISTÓRIA DA MOEDA NO MUNDO CIVILIZADO

 



             Com o desenvolvimento da inteligência ao longo dos séculos, a espécie humana sentiu a necessidade de maior conforto e a reparar no seu semelhante. Ainda na vida de nômade, o homem verificou que podia, em algumas regiões, conseguir diferentes espécies de caça ou, com o correr dos tempos, diferentes espécies de objetos e utensílios. E assim, como decorrência das necessidades individuais, surgiram as trocas. Em face das características de uma região esses objetos, utensílios, produtos e, mais tarde, mercadorias, circulavam com maior ou menor procura, acabando sempre um deles por se destacar, adquirindo o sentido daquilo que passou a ser conhecido como "moeda", isto é, unidade representativa de valor, aceita em uma comunidade, como instrumento de troca. 

               A partir de então, centenas de objetos e diversos tipos de metais circularam como moeda, notadamente peles de animais, sal, fumo, mandíbulas de porco, conchas, gado, cobre, ferro, prata e ouro. Sabe-se que crânios humanos serviam de lastro para a então moeda corrente, tal como o ouro e a prata, em Era mais recente, para o papel moeda. Ainda hoje, os termos pecuniário e salário são amplamente empregados no sentido de dinheiro originário, o primeiro, da palavra latina pecus, que significa rebanho, gado e, o segundo, da tradição do pagamento, em sal, dos bens adquiridos ou dos serviços prestados. O gado substituiu diversos objetos que funcionavam como meda, pela vantagem de ser grandemente aceito e aumentar com a reprodução. Tratando-se, entretanto, de mercadoria muito volumosa, difícil de transportar e perecível, surgiu a ideia  de se representar o boi por pequenina peça, nela gravando-se a figura do animal.

                Segundo os estudiosos do assunto, a primeira moeda apareceu na Lídia, na Ásia Menor. Com a descoberta do metal, o homem passou a utilizá-lo também como moeda. Inicialmente, em seu estado natural; depois, sob a forma de barras e  objetos. Ainda hoje os museus expõem moedas com formatos, os mais diversos: moeda-faca, cunhada em bronze e utilizada na China, a partir do século XII a.C.; moeda-chave, também utilizada na China; o "talento", peça de cobre e bronze, em forma de pele de animal, usada na Grécia e em Chipre. Na Índia, circulou a "árvore do dinheiro", da qual se retiravam as moedas, à proporção que delas se necessitava. Existem evidências da cunhagem, na Lídia e na Jônia, no século VII a.C., de moeda em electrum, uma liga natural de ouro e prata. 

              As dimensões e pesos de moedas chegaram a apresentar extraordinário contraste: o submúltiplo do "stater", unidade monetária da cidade de Aradus, na fenícia, possuía pouco mais de três milímetros de diâmetro e peso ínfimo, enquanto o Daler, cunhado na Suécia, em 1644, media 30 centímetros de largura por 70 centímetros de comprimento e pesava 19,71 quilos. 

             Em várias regiões banhadas pelo mar, especialmente na Ásia, África, América e Oceania, destacando-se em Angola, Madagastar, Gabão, Zanzibar, Moçambique e Brasil, por largo tempo, funcionaram como moeda pequenas conchas de rara beleza, pouco diferindo em seu tipo, e que variava entre o "cauri" e o "zimbo",  também conhecido como "guimbo" ou guimbombo". No Brasil, eram usadas pelos índios, que as pescavam, notadamente nas praias do Norte e Nordeste. Mais tarde, passaram a ser utilizadas pelos escravos africanos. Segundo historiadores, a pesca era feita duas vezes por mês: três dias antes e três dias depois da  lua nova e da lua cheia, não se encontrando uma só, fora dessas ocasiões. Conhecidas e usadas como troca desde os tempos pré-históricos, chegaram a possuir valor verdadeiramente inconcebível; na região dos Grandes Lagos, por exemplo, comprava-se uma mulher por dois "cauris". Um boi era comprado por um "zimbo"; um escravo valia entre 80 e 150 "arratéis" de "cauris" (um arratél  equivalia a 459 gramas). Uma galinha valia 50 "zimbos"  e uma cabra era comprada por 300. Embora semelhantes, o "zimbo" e o "cauri" apresentavam sensíveis diferenças. O primeiro, designado como "Olivancillaria nana" assemelha-se a uma oliva, sendo uma espécie de búzio cinzento e o segundo, conhecido como "Ciprea moneta", é pequena concha branca  ou amarelada, de certa beleza. O extraordinário valor que alcançaram deve-se a que os indígenas dedicavam especial cuidado à ornamentação pessoal, a ela atribuído tanta importância como à necessidade de alimentação. A enorme procura dessas conchas resultou em que se transformassem em autênticas mercadorias com funções de moeda, sendo que se constituíram em moeda pré-fiduciária, pois se lhe atribuíram valores convencionais. 

            Com o correr dos tempos as moedas passaram a ter uma representação gráfica, geralmente constituída de duas partes: designação abreviada do padrão monetário, que varia em cada país, e o cifrão, símbolo universal do dinheiro, cuja etimologia é do árabe "cifr". A propósito, conta a Mitologia grega que o lendário Hércules, para realizar um de seus doze trabalhos, teria necessidade de transpor enorme montanha. Dispondo de pouco tempo para a escalada, resolveu abrir o caminho, rachando a montanha com sua pesadíssima e indestrutível massa e separando-a em duas ligando, assim, o Mar mediterrâneo ao Oceano Atlântico. De um lado, ficou grande rochedo, mais tarde chamado de Gibraltar e, de outro, o Monte Acho, a leste da Ilha de Ceuta. As duas colunas, assim separadas, ficaram conhecidas como as "Colunas de Hércules". 

           No ano 711 da Era cristã, portanto, no século VIII, o general árabe Djebl, cognominado Djebl-el-Tarik (o Conquistador), como um tufão, penetrou na Europa, pelo sul da Espanha, dando início ao conhecimento, pelo Continente Europeu, da cultura árabe, cultura essa que, mais tarde, se espalhou pelo mundo, com as conquistas, europeias, especialmente de portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses. 

               Para alcançar a Europa, partiu da  Arábia e passou, sucessivamente, pelo Egito, Desertos do Saara e da Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos; cruzou o Estreito das Colunas de Hércules e chegou, finalmente, às Espanha. Esse estreito passou a ter o nome de Gibraltar, palavra que se origina do árabe Djebl. Tarick mandou gravar, em moedas, uma linha sinuosa, em forma de "S", representando o longo e tortuosos caminho percorrido. Cortando essa linha sinuosa mandou colocar, no sentido vertical, duas barras paralelas, representando as Colunas de Hércules, que significavam força, poder, perseverança. O símbolo assim gravado na moeda - $ - passou a ser conhecido, em todo o mundo, como cifrão, representação gráfica do dinheiro. 

             Com a evolução homem e o natural surgimento do  Poder Constituído, os detentores desse poder passaram a avocar exclusivamente  a si o direito de moedagem, isto é, a exclusividade  da autorização da cunhagem de moeda, bem como a concessão desse direito, que perdura até nossos dias. Na Idade Média o privilégio de moedagem pertencia ao rei, ao poder eclesiástico ou aos senhores feudais. 

              O encarregado de trabalhar a moeda passou a ser conhecido como moedeiros. De início, o moedeiro tinha a incumbência ampla de todo o processamento, desde a concepção da moeda, até a cunhagem. Com o tempo, passaram a surgir as especializações, destacando-se o numulari (o que fazia a prova da moeda) ou "pecunia speculatoris" (ensaiador), provedor, tesoureiro, juiz da balança, fundidor, fiel do ouro ou da prata, guarda do cunho, abridor de cunho, conservador e serralheiro. 

               Sabe-se que os antigos romanos costumavam agrupar os artistas em Colégios, a fim de que fossem desenvolvidas as aptidões, medida que alcançou extraordinários resultados, sendo adotada por outros povos, inclusive na Idade Média, daí originando-se as Corporações de Artes e Ofícios. A França reuniu, no princípio do século XII, pela primeira vez, um uma Corporação, os artistas-moedeiros, a eles concedendo privilégios especiais. Surgiu, então, a Corporação  dos Moedeiros, que rapidamente se espalhou pela Europa. Os componentes da Corporação dos Moedeiros eram sagrados Cavalheiros, prestando juramento. Entre os privilégios destacam-se a isenção de irem á guerra, a do pagamento dos impostos municipais, o direito a tribunal próprio e a prisão especial (muito semelhantes aos privilégios dos políticos e juízes de nossos dias no Brasil). Eram sujeitos a Alcaides e julgados pelos mestres da moeda. Suas mulheres e famílias podiam usar sedas e as viúvas "que estivessem em boa fama" desfrutava, igualmente, de todos os privilégios, honrarias e exceções. "Não se lhes podia tomar roupa, nem palha, nem cevada, nem galinhas, nem lenha ou outra qualquer coisa, contra a vontade. 

            Em Portugal, do qual o Brasil herdou a tradição, a Corporação dos Moedeiros inciou-se no reinado de D. Dinis, em 1324. Tal importância tinham as Corporações que a elas se dava o direito de participarem das procissões, possuindo cada classe artística um padroeiro. Os moedeiros de Lisboa administravam a Confraria de Sant'Ana da Sé e, até nossos tempos, os moedeiros da Casa da Moeda do Brasil têm em Santana sua padroeira, cujo dia 26 de julho é dedicado a ela e, ainda hoje, em muitos lugares, se celebra missa dedicada a ela. 

            O moedeiro era admitido na Corporação,através de Cerimônia especial, denominada Sagração do Moedeiro. Portando um capacete prestava, de joelhos, juramento solene, sobre os Santos Evangelhos, recebendo, do Provedor da Instituição, o grau que lhe  era conferido, através de duas leves pancadas sobre o capacete, com uma espada  reta, finamente lavrada. Essas pancadas significavam "fé e lealdade" e "dedicação ao trabalho". 

             O Museu da casa da Moeda do Brasil exibe, em vitrine especial, o capacete e a espada  usados na solenidade da Sagração do Moedeiro. 

             Os eram obtidos por hereditariedade ou parentesco com o predecessor. Os moedeiros constituíram a representação mais perfeita que existiu no regime corporativo. Em Portugal, até o século XVII, alguns moedeiros residiam na Casa da Moeda, por ordem real, apresentando oficialmente senhas às sentinelas, a fim de serem por elas reconhecidos, quando tinham necessidade de regressar, altas horas da noite. 

             Existia a preocupação permanente dos reis de Portugal na manutenção dos privilégios dos moedeiros, inclusive os do Brasil, conforme cita Fortunée Levy, em trecho de D.João V: "Me pareceu ordenar-vos façais guardar aos moedeiros-do-numero da Casa da Moeda que há nessa cidade os mesmos privilégios que são concedidos aos da Cada da Moeda desta cidade de Lisboa".

            Com o tempo, as Corporações dos Moedeiros foram sofrendo restrições em seus privilégios, até serem extintos, na França, em 1791 e, em Portugal, em 1834. Todavia, a mística do Moedeiro permaneceu até nossos dias, como o artífice de uma das molas-mestras do desenvolvimento de uma nação. 

Nicéas Romeo Zanchett 

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segunda-feira, 29 de julho de 2019

TAJ MAHAL - MONUMENTO AO AMOR


                Para subir ao trono, o mongol  Xá Djahan teve enormes dificuldades; teve de eliminar todos seus parentes e exilar a mãe que se opunham aos seus objetivos. Foi o quinto rei da dinastia mongol, e reinou de 1628 a 1658.
               Logo que chegou ao poder tratou imediatamente de construir este maravilhoso templo para sua adorada esposa Aryumand Banu Begam, a quem deu o nome honorífico de Mumtaz-i-Mahal, Joia do Palácio.  
                Este paraíso, feito especialmente para sua esposa favorita, está perto de Agra, nas margens do Djamna. Caminhos cobertos de placas de mármore cruzavam o oásis, decorado com árvores e plantas exóticas. "Nada deveria ferir os pesinhos descalços da meiga princesa, quando ela passeava por aqui", diz uma antiga narrativa de viagens. 
                   O Grande Mongol tinha uma vincada preferência pelo suntuoso. Não mandou apenas construir edifícios preciosos em Agra, mandou também decorar a sua capital, Delhi, com mesquitas e palácios belíssimos. Uma inscrição na sala de audiências da sua grande cidadela imperial em Delhi, na qual teria estado o lendário trono dos pavões reais, reza soberbamente em língua persa: "Se há um paraíso na terra, é este, é este, é este!"
                 Conta-se que uma elegante dama inglesa disse, diante da maravilha marmórea do Taj Mahal: "Não sei dizer o que penso, mas penso que queria morrer amanhã se tivesse para me cobrir um monumento assim". 
                 Ainda que o imperador mongol tivesse mandado criar monumentos eternos, mediante numerosas obras de arte, não nos lembramos dele como renovador de Delhi, que em sua honra se deveria chamar Djahanabad, mas sim como o construtor do Taj Mahal. Neste edifício descansam também  os restos mortais do imperador  que dominou a maior parte da península indiana. 
                O seu reinado terminou em condições similares e tão  desagradáveis como aqueles em que havia principiado. O Xá Djahan foi desterrado por seu filho Aurangzeb e encerrado no seu palácio, "onde até a sua morte levou uma vida alegre". Depois da morte de Aurangzeb o até então florescente império começou a declinar. 
                A esposa favorita do Xá Djahan, Mumtaz-i-Mahal - segundo palavras do conhecedor da Índia Helmuth von Glasenapp -, "exerceu uma grande influência sobre o imperador, com a sua beleza e bondade". Deu ao xá da Índia sete filhos. Morreu depois do nascimento do oitavo, em 1629, devido a uma febre puerperal, no sul da Índia. O Grande Mongol mandou transportar o cadáver para Agra e enterrou-o nos jardins junto do rio Djamna. O imperador mandou construir sobre o seu túmulo um monumento funerário como nunca existiu outro. "A impressão esmagadora que o Taj Mahal exerce sobre o observador fundamenta-se essencialmente no efeito dos dos contrastes. A reluzente faixa de água, com as suas flores de lótus, que se estende desde o portal da entrada, através do jardim, até o Taj Mahal, o soberbo edifício de mármore branco como a neve, o frondoso parque que o rodeia, e sobre ele o profundo azul do céu indiano, tudo isso se mistura na alma do visitante de tal forma que, por um instante, faz desaparecer todas as dificuldades e preocupações terrenas e, devido a este efeito poderoso, não tem comparação em todo o mundo."(Paul Deussen.) 
               Historiadores de arte preferem denominar este "sonho em mármore" uma apoteose de feminilidade indiana". O Xá Djahan mandou vir os mais famosos arquitetos e artistas para a construção do Taj Mahal, e com eles discutiu a realização do edifício. O perito que deveria montar a cúpula seria talvez originário de Istambul; os alveneiros vieram de Delhi e Kandahar; os especialistas para o cimo da cúpula, de Lahore e Samarcanda; os calígrafos, que realizaram as inscrições embutidas , de Chiraz e Bagdá; os gravadores de flores, de Bukhara; oarquiteto floral, da Caxemira. Vinte mil trabalhadores estiveram ocupados durante dezessete anos na construção do monumento funerário mais famoso do mundo. As despesas da sua construção foram incalculáveis. 
               "A impressão total ultrapassa tudo o que se possa imaginar", disse Kal Baedeker. "A simplicidade do desenho e a suntuosidade da realização misturam-se numa maravilha  de arte que compete, em matéria de sublime beleza, com os templos gregos e as mais famosas catedrais da Idade Média e do Renascimento."
                  

TORRE EIFFEL - COMO FOI CONSTRUÍDA A SENHORA DE PARIS.


               A primeira proposta concreta para erguer uma "torre de 1.000 ppés" (304,80 metros)  foi feita pelo inglês Trevithick em 1833, mas não foi levado a cabo. Também por ocasião da Exposição Universal de Filadélfia em 1874, também houve uma tentativa que também não foi à frente. 
                Em 1884 foi elaborado o primeiro anteprojeto para uma torre metálica de 300 metros de altura, na comunicação oficial de Eiffel. Havia então uma série de vários projetos. A população entusiasmou-se, por exemplo, com a ideia de uma "torre solar" de 300 metros de altura, com um foco no cimo, o que transformaria a noite parisiense num dia claro. Numa das plantas da torre pensava-se em instalar um hospital para curas de alta montanha. 
                  Depois de muitos debates, o  Ministério de Comércio, de cuja competência dependia a exposição, preferiu o plano de Eiffel. Ficou decidido que a torre fosse erguida sobre uma superfície de 125 metros de lado. ainda não havia sido decidido o local exato onde seria erguia a torre. Diante dessa  indefinição foram estudados 107 possíveis lugares para a sua colocação.
                  Uma outra questão era motivo de muitas discussões. A comissão da exposição queria construir a torre em forma de uma ponte sobre o Rio Sena; mas, devido às ás condições do solo nas laterais do rio ficou inviabilizada. Finalmente escolheu-se o Campo de Marte, onde era a ideia preferida pela maioria. 
              Como era de se esperar, o engenheiro construtor escolhido foi Alexandre Gustave Eiffel. Muito antes da construção da "sua" torre, ele já era considerado o maior especialista do mundo em construções metálicas, portanto , o mais qualificado, além de já ser célebre como  fundador da aerodinâmica. Da sua empresa Eiffel haviam surgido dezenas de grandes estruturas metálicas em todo o mundo. Todavia, depois passou-se a conhecer o já célebre engenheiro apenas como Eiffel em homenagem a esse seu grande feito. Em certa ocasião ele assim se expressou:"Esta torre ainda será a minha morte" disse suspirando, "como se eu não tivesse feito mais nada na vida. " 
              Os trabalhos preliminares da torre  começaram em 1866. Para os quatro pilares foram construídos alicerces de 26 metros quadrados, que penetraram 14 metros de profundidade na margem do Sena junto ao Campo de Marte e 9 metros na outra margem. A finalização dos alicerces aconteceu em 30 de junho de 1887, portanto, dois anos antes da inauguração da exposição universal, quando, então deu-se início á construção da torre propriamente. 
              O público reagiu das mais diversas formas à construção de tal envergadura. Enquanto oficialmente ela era muito elogiada e referida como "triunfo da cultura industrial", a  "obra prima da moderna arquitetura metálica" e "símbolo do nascimento da França" (após a derrota de 1871), houve por outro lado escritores famosos, pintores e arquitetos que se reuniram para protestar mesmo antes de as obras terem começado. "Em nome do bom gosto" e como "amantes apaixonados da até agora intacta beleza de Paris" ergueram-se desgostosos contra a caríssima construção da "inútil e monstruosa" Torre Eiffel, promovendo um grande abaixo-assinado. 
                Guy de Maupassant, um dos signatários do abaixo-assinado, fazia troça da "pirâmide horrorosa e fragmentária",  numa entrevista explosiva. Eiffel, juntamente com a direção da exposição, tinha muito que lutar em defesa da torre , que seus inimigos classificavam como "construção de um  ridículo vertiginoso" e que domina Paris como chaminé negra e gigantesca". Mas de nada serviram os protestos. O Estado francês apoiava a Sociedade  da Torre Eiffel, fundada com um capital de 5,1 milhões de francos. Os trabalhadores prosseguiam como tinham sido projetados. E quando, um ano após o início da obra, foram   terminados os quatro  pilares até o primeiro andar, Eiffel mandou lançar um castelo de fogos de artifício. A partir deste primeiro andar, que ficava a 58 metros de altura, ergueu-se a torre até a segunda plataforma (116 metros) e a terceira (273 metros). Participaram nos planos para as 15.000 peças de que é feita quarenta desenhistas, durante dois anos. Uma fábrica de Clichy produzia as peças nas medidas previstas, de forma que depois era só aparafusá-las. 
               A construção acabada pesa 9700 toneladas; extraordinária massa de aço, e apesar disso uma obra de filigrana. Só o ar contido num cilindro de 300 metros de altura , em cuja base estivesse inscrito o quadrado da base da torre, pesaria mais do que toda ela. 
              Para acabar a torre na data marcada havia que trabalhar dez horas por dia, mesmo durante o duro inverno de 1888 a 1889. Em 31 de março a Eiffel pôde içar a bandeira tricolor no cume da torre.  Estava tudo pronto para a inauguração da exposição no dia 6 de maio de 1889. A empresa não só fez um grande negócio com as visitas (já no ano da inauguração a importância recebida pela Sociedade da Torre Eiffel foi superior ao capital inicial), como também o fez com a venda de pequenas reproduções da torre.
               Hoje, a Torre Eiffel faz parte inseparável da paisagem de Paris. Com todo o sucesso turístico que este maravilhoso empreendimento trouxe para a cidade, ainda hoje se houve protestos alegando, entre outras razões, que "destrói o aspecto da cidade". É célebre a anedota que se conta do homem que todos os dias, enquanto vivo,  subia ao alto da torre em protesto; sua alegação é que somente dali ele não via a torre Eiffel. A literatura e a arte apropriaram-se da "Senhora de Paris". Já não se fala de "ridículo vertiginoso"; pelo contrário, sente-se uma espécie de terno cartinho por este testemunho da época de ferro que acabava de nascer, e que faz parte da imagem de Paris, mesmo que já não constitua sensação técnica nos nossos dias. A Torre Eiffel não perdeu nada da sua atração, do seu significado técnico, ou da sua força simbólica. Pelo contrário, desde que foi inaugurada só tem aumentado o número de visitantes que nela sobem pelos elevadores que, rangendo, transportam de tudo.  Do restaurante panorâmico pode-se gozar uma vista impressionante sobre a cidade. Já não mais conseguimos mais conceber Paris sem a Torre Eiffel; ela é a própria Paris. 
                 

domingo, 28 de julho de 2019

GENGIS KHAN - O GRANDE IMPERADOR MONGOL.



Muitas pessoas não sabem, mas a poderosa China já foi comandada pelo imperador Mongol Gengis Khan. 

                 Em princípio o nome "mongol" refere-se apenas a um pequeno povo disperso pela Mongólia, exterior, cercado ao norte pelos merkitas, a leste pelos tártaros, ao sul pelos keraitas e a oeste pelos turcos naimanos e uigure. 
                  Como os turcos e os manchus, os mongóis são de origem altaica, provindos dos montes Altai, na Mongólia. Ao que tudo indica, era um povo que dominou o norte da China no século IV a. C. 
                     No início, os mongóis formavam um povo de guerreiros e pastores nômades, que desprezavam quaisquer atividade organizada e ignoravam a agricultura e a escrita. Sempre viveram em lugares muito castigados pelo clima e com oscilação. Por essa razão mudavam-se constantemente. Ficavam em determinado lugar até o começo do verão e depois subiam às montanhas fugindo do calor. Sempre moravam em tendas improvisadas e fáceis de serem transportadas nas carroças sempre puxadas por bois. Os cavalos eram reservados para montaria e locomoção de guerreiros. Eram excelentes cavaleiros e arqueiros.  Viviam basicamente da caça e pilhagem dos menos indefesos. 
                 A unificação das tribos e as sucessivas conquistas foram resultantes da liderança de Gengis Kahan.  Há uma lenda que que diz que este valoroso guerreiro ficou famoso perante todas as tribos por ter morto um lobo cinzento que devorava a terra. No início enfrentou a rejeição das tribos e da própria família, mas voltaria a conquistar sua liderança vencendo rivais de clãs distintos conseguindo, assim, unificar os povos mongóis sob seu comando. 
                   À noite sempre instalavam-se ao redor do fogo e qualquer acontecimento relevante - nascimento, morte,  casamento, boa caçada, batalha bem sucedida - era motivo de grande festa, com banquete e muita bebida. 
               Apenas de nômades e sem organização estatal, os mongóis tinham uma hierarquia social rígida; dividiam-se em tribos, cada uma formada por clãs e estes por famílias. O clã reunia todas as famílias de mesma ascendência e tinha um chefe que se subordinava ao chefe geral da tribo. Dirigiam-se ainda em quatro grupos sociais: a "aristocracia" dirigentes, os guerreiros, os homens comuns e os escravos (prisioneiros de guerra). Cada clã dispunha de um determinado território onde praticava a economia de subsistência sob forma comunitária. A ele pertenciam as pastagens e  cada um tinha sob suas ordens  um grupo de guerreiros. 
                Segundo a revista "Mundo Estranho", Gengis Khan foi um dos militares mais bem sucedidos da história da humanidade; ele foi o imperador que mais conquistou territórios na história, dominando quase 20 milhões de km² (equivalente a 2,3 vezes  do território brasileiro).
                       O pequeno Temudjin nasceu  na Mongólia na década de 1160, provavelmente em 1162. Supõe-se que era descendente de um líder mongol conhecido como Kabul Khan, do clã Bojingin, que por alguns anos manteve a Mongólia unificada, mas logo as tribos se dividiram e cada uma passou a ser governada por um clã. 
                  Como quase todos os mongóis, Temudjin  certamente fora treinado  como arqueiro montando desde muito jovem. Desde logo mostrou sua grande habilidade como arqueiro comandando a montaria apenas com os joelhos, ficando, assim, com as mãos livres para a total destreza no arco e flecha. 
                  Determinado a unificar a Mongólia, Temudjin determinou as leis dos mongóis. Sua força já era conhecida em toda a Mongólia e aproveitou-se disso para aumentar o número de clãs aliado. Uma grande parte dos clãs preferiram aderir ao  seu rival Jamkha, que pregava sua destruição. Com essa situação a Mongólia ficara dividida e os dois exércitos se encontraram para a batalha final na qual Temudjin foi vencedor. 
               Em 1206, uma grande assembléia entre os chefes de todas as tribos das estepes proclamou Temudjin, então com quarenta e cinco anos, como Genhis Khan, "o clã dos clãs".  Criou-se uma hierarquia militar e um poderoso exército foi muito bem treinado e organizado. 
                 Em 1207 - 1208, os mongóis foram forçados a expandir seu território de pastagem devido algum problema climático nas estepes. 
                   Com um exército tão poderoso, Gengis Khan resolveu partir para o sul e invadir as terras do reino de Hsi Hsia, também chamado de Xicia, vassalos do Império Chines, que nesta época estava dividido em duas dinastias: o Império Jin, ao norte e o Império Song, ao sul. Nesta época já havia a temida Muralha  da China com fama de intransponível. 
                     Depois de atravessarem a muralha contornando-a chegaram á China, cujo reino estava dividido entre as dinastias Jin e Song. As vastas plantações de arroz e riquezas da cidade atraíram mais atenção de Genghis Khan do que a possibilidade de se tornar senhor da China. Na conquista do reino Jin, Genghis Khan recrutou um jovem chamado Yeh-lu Chu'u-ts'-ai como seu conselheiro pessoal. Essa influência tornou Genghis Khan mais tolerante e menos agressivo em batalha, estimulando-o a evitar esforços exagerados na guerra e conservar as terras cultivadas ao invés de transformá-las em pastagens. 
                   Quando marchou até Pequim, o mais avançado centro urbano da época, viu que a cidade era cercada de muralhas de doze metros de altura. Naturalmente que uma luta em campo aberto seria impossível. Diante disso não teve nenhuma pressa; acampou seu exército cercando a cidade e impediu que os suprimentos entrassem em Pequim. Esses suprimentos foram usados para suprir seu exército. Com a ajuda de engenheiros chineses  dissidentes, construiu catapultas e outros artefatos de guerra e, finalmente, invadiu e em 215 dominou e arrasou  aquela grande cidade. Os chineses constroem para ele uma nova capital, Karakorun, à beira do rio Orkon. Domina o reino de Quara Khitai no Turquestão Oriental, em seguida ataca o Turquestão Ocidental e faz desaparecerem ads cidades de Samarkhand, Nichapur e Herat. Faz expedições à Pérsia, à Geórgia e ás planícies do Rio Don.  Ao morrer em 1227, seus mongóis já controlavam toda a Ásia superior, numa extensão de 6.000 quilômetros. Genghis Kham é sucedido em 1229 por seu terceiro filho, Ogodei, que se torna Grão Khan. Sob seu reinado, a conquista mongol prossegue permanentemente ao progresso de sua civilização. Ogodei estabelece a capital de seu império em Karakorum (1235) que se torna a mais faustosa das cidades. 
              Os exércitos mongóis continuaram invadindo novas terras. Em pouco tempo faz cair sob seu domínio toda a Pérsia. Em seguida penetram na Europa; de 1127 a 1240, invadem Kiev a Polônia e a Sibéria; em 1241 vencem os húngaros e chegam até Viena e à Itália. 
                  De 1251 a 1259  Ogodei é sucedido por Mongka, que continua a estender o domínio sobre a China e em 1258 incorpora o califado de Bagdá. 
                Em 1259, sobe ao poder o chefe mongol Kublai Khan para completar o trabalho dos seus sucessores na China. Em 1277 com a queda de
Cantão, a China inteira estava sob domínio mongol. 

                Em 1280, Kublai Khan abandonou Kara-korum e instala-se em Pequim e proclama-se Imperador de China, fundando a dinastia Yüan. 

Para melhor compreender as dificuldades enfrentadas pelos mongóis para invadir a China 
é preciso lembrar que a Muralha da China já existia  desde 246 a.C. 
                   A construção da Muralha começou  no ano 246 a. C.
                   Na China havia chegado ao poder o jovem Imperador Chines Chi Huang-ti, filho de uma "bailarina ambulante", que após a morte do pai, no ano 246 a. C., com a idade de 13 anos, assumiu um poder, para o qual, certamente não estava pronto. Pelo medo e sua criativa imaginação, idealizou a construção da grandiosa Muralha da China, que na época estava toda dividida em estados separados e sempre em pé de guerra.
                   Esse jovem imperador vivia em permanente pânico e ameaçado por tudo, mas possuía um dom especial de escolher bem os generais e primeiros-ministros. 
                 A Grande Muralha impediu as invasões durante mais de 1400 anos. E, então, no século XIII, surgiu o  Grande Gengis Khan. Esse guerreiro mongol, um dos conquistadores mais terríveis que o mundo já conhecera, tomou de assalto a Grande Muralha e invadiu a China; mas nem mesmo ele conseguiu  conquistá-la definitivamente. Os mongóis sucederam no poder os imperadores da dinastia "Ming".
                 
                 Durante 300 anos, estes reforçaram e acrescentaram novos trechos da muralha. Os manchos, outros povos mongóis, proveniente do Norte, abriram brechas em seus muros, em 1644, após um cerco de 30 anos, apoderaram-se de China. 


O declínio e a expulsão dos Mongóis da China
               Depois de ter pacificado e dominado a Coréia, Kublai Khan mandou emissários ao Japão para exigir vassalagem, mas esse país recusou-se a reconhecer a soberania do Grão-Khan. Em 1273 os mongóis atacaram o Japão sem sucesso. Fracassaram também as expedições a Java e à Indochina, em 1292. 
              Kublai Khan morreu em 1294 e foi sucedido pelo neto Temur, que adotou o nome chines de Theg-Tsong; mudou as leis para lhe favorecer a sucessão por hereditariedade, mas teve grande oposição entre seus membros e teve de lutar contra os próprios mongóis. 
                 Temur  permaneceu no trono até 1307, e com muito custo manteve a potência mongol. Em seguida teve de enfrentar as massas pobres chinesas que se reuniam nas aldeias em rebeldia contra ele. Logo em seguida criaram sociedades secretas para opor resistência aos mongóis.
                 Em 1355, o sul da China estava em revolta aberta contra a ocupação mongol, enquanto isso o norte era novamente atacado por tribos tártaras que se aproveitavam do enfraquecimento do império. 
              Com muitas frentes de batalhas espalhadas pelo império houve oportunidade para o fortalecimento das forças rebeldes.
               Em 1368, os rebeldes davam o golpe final, entrando triunfante em Pequim e fazendo o imperador fugir. Os demais mongóis seguiram o destino de seu chefe. Mas os antigos domínios alcaicos só seriam realmente restabelecidos no século XX. 
                 É bem verdade que o desenvolvimento da civilização dos mongóis terminou com sua expulsão da China, mas a cultura deste país permaneceria fortemente influenciada por ela.