Não considero estranho que, em princípio, o tempo tenha sido considerado uma divindade, inclusive uma manifestação da divindade suprema, da qual a vida flui como um rio. A mente do homem primitivo estabelecia menos distinções do que a nossa entre fatos exteriores e interiores, materiais e psíquicos. A vida era uma torrente de experiências interiores e exteriores que, a qualquer momento, produzia um conjunto diferente de acontecimentos coexistentes e que, por conseguinte, mudava sem cessar, tanto quantitativa, como qualitativamente.
Da perspectiva original da humanidade, ideia difundida pelas mais diversas organizações religiosas, o tempo era a vida e seu mistério era divino.
Para o cristianismo, o tempo tem princípio e fim. Apresenta Deus criando as esferas planetárias e o firmamento. Todo o universo é redondo à imagem e semelhança de Deus, que é uma esfera cuja circunferência está em lugar nenhum e cujo centro se encontra em toda a parte. O tempo apenas tomou existência a partir da criação dos corpos luminosos e a mão de Deus passou a intervir constantemente em seus movimentos. Graças a seus milagres e à sua providência, Deus põe em movimento um tempo histórico irreversível. Segundo esta perspectiva, o tempo apresenta um começo e um fim definidos. Segundo esse pensamento, o tempo se apresenta como uma sequência linear de acontecimentos através dos quais o propósito de Deus avança sem cessar até à meta. O fim é o juízo final. Depois, em "Apocalipse, 20:12,13" Deus criará um novo céu e uma nova terra, na qual situa a cidade santa de Jerusalém, onde não haverá mais morte nem noite, apenas a luz eterna.
No antigo Egito, o deus solar Rá era o senhor do tempo, porque fixava as medidas quando percorria o firmamento superior e o inferior com sua barca. Hora após hora, adotava a forma de uma divindade animal diferente. Desta maneira, o tempo adquire qualidades mutáveis e torna-se visível numa infinita e circular "procissão dos arquétipos".
No Ocidente, o tempo é representado em forma de serpente e, no Oriente, como um dragão. No Novo Mundo, simbolizava-se com a serpente de duas cabeças, , uma das quais representando a vida e a outra, a morte. Enquanto na China o jogo dos opostos era considerado harmonioso, a concepção da dupla serpente mexicana é mais trágica, pois as cabeças olham em direções opostas. O tempo traz prazer, sorte e vida, mas também desdita e morte e considera que o mundo temporal chegará a um final inevitável e catastrófico.
A verdadeira pesquisa astronômica só teria início no século V a.C., quando os gregos começaram a especular sobre a natureza do cosmo. Contudo, aproximadamente 40 séculos antes de Cristo, nas planícies da Mesopotâmia, entre o Tigre e o Eufrates, viviam os caldeus, cuja civilização em seguida ampliou-se bastante. Sua história é frequentemente confundida com a dos babilônicos dos quais eles foram, com os assírios, às vezes aliados, às vezes inimigos. De qualquer forma, sua habilidade para interpretar a marcha dos corpos celestes ficou célebre e chegou até nós graças a numerosas tábuas de argila, assírio-babilônicas, fonte preciosa para conhecer a história dessas populações. Nelas puderam ser decifrados cálculos e anotações sobre o movimento dos planetas durante vários séculos.
Os astrônomos assírio-babilônicos, a partir dos trabalhos dos caldeus e dos sumérios, obtiveram resultados notáveis sobre certos pontos: conheciam as fases da Lua e podiam predizer os eclipses. Eles haviam analisado o movimento dos planetas através das constelações do zodíaco e sabiam determinar suas fases, sua aparição e seu desaparecimento, os solstícios, os equinócios, os ciclos do Sol e da Lua.
Os mais antigos registros astronômicos que chegaram até nós são os astrolábios. Trata-se de tábuas que traziam três círculos concêntricos divididos em 12 seções. Em cada um dos 36 setores assim obtidos estavam inscritos o nome de uma constelação e um número característico. Estes números deviam indicar o mês correspondente do calendário esquemático de 12 meses. Obtém-se assim uma espécie de carta celeste, um calendário astronômico de tipo lunissolar, fundamentado sobre o mês lunar.
Já nesta época, os babilônios, como os ameríndios, tinham também os dias chamados "nefastos", que excluíam certas atividades e impunham por outro lado ritos religiosos particulares. Eles caíam nos dias 7, 14, 21 e 28 de cada mês, daí uma espécie de divisão hebdomadária (semanal). O dia se dividia em 12 classes horárias chamadas kaspu.
Posteriormente a Alexandre, o Grande, os babilônios utilizaram o arco de um grau como unidade de medida do espaço, e o "grau do tempo", isto é, quatro minutos, como unidade de tempo.
Na China clássica, o dragão simbolizava a força criativa e dinâmica do universo, o princípio masculino yang que atua no mundo do invisível e que tem seu campo no espírito e no tempo (enquanto o feminino yin influencia a matéria e o espaço). Portanto yang cria o princípio e yin a realização. No centro, aparece a pérola primordial dos inícios, da qual emanam todas as coisas. O significado do tempo está no fato de, no seu interior, as fases de crescimento terem início de maneira clara. O céu (ou yang) mostra um movimento poderoso e incessante que, pela sua própria natureza, faz com que tudo aconteça num único tempo sincrônico, de uma perspectiva divina, é o destino. Aqui estou dando este exemplo para que o leitor perceba que a observação do cosmo sempre foi universal. O Deus eterno está no cosmo, de onde viemos e para onde voltaremos. Desse Deus eterno emana a vida, o "fluir da graça" que cria o agora onipresente, de modo que Deus é simultaneamente, quietude e fluir perpétuo.
Em certa medida, todas as estruturas incompletas são instáveis e tendem a se completar ou a se desintegrar. Portanto, a vida é como a difusão de um padrão à medida que vibra. Poder-se-ia interpretar que tal "difusão" baseia-se na "similitude". Apenas a mente humana pode ver seu significado e experimentar conscientemente a unidade de "mente e matéria".
Podemos comparar o tempo com uma roda que gira: nosso tempo correspondente, que conhecemos com nossa consciência do Eu, seria o anel exterior, que gira mais rápido do que os demais. O seguinte representaria o tempo "eônico" (eternidade cósmica), que se move progressivamente com mais lentidão à medida que se aproxima do centro. Esse tempo eônico é representado pela ideia do ano platônico ou pelas eras ou sois astecas e dura infinitamente mais do que o nosso tempo corrente.
Nos nossos dias os estudo tem avançado de forma vertiginosa. No âmbito da astrofísica, encontramos admiráveis aspectos do tempo. Por exemplo, podemos olhar para trás no tempo e ver a luz de estrelas que há muito desapareceram. O universo está em constante movimento e as nuvens rotativas de hidrogênio se contraem e formam estrelas que continuam girando e que jogam matéria para o espaço. Ao final de dois milhões de anos, quando estiver quase consumido todo o combustível, a estrela se expande e volta a se contrair para o "derrubamento gravitacional definitivo". Este derrubamento pode se tornar um "buraco negro", no qual nada fica de observável, nem sequer o tempo. Ainda se discute se o universo tem princípio e fim, se se move em ciclos de expansão e de derrubamento ou se se mantém em estado constante no qual a matéria se cria permanentemente.
Voltando aos antigos babilônicos, é importante ressaltar que por volta de 747 a.C. o Rei Nabonassar subiu ao trono da Babilônia e reinou de 747 a 734 a.C. Foi o princípio de uma nova era astronômica para o cálculo do tempo que devia durar até a reforma juliana do calendário.
A partir desta época, as observações astronômica foram mais sistemáticas e menos ligadas à astrologia. Estudou-se matematicamente os movimentos dos planetas, o nascimento helíaco das estrelas, a marcha do Sol em torno da Terra, a divisão da eclíptica em 12 signos zodiacais e fixou-se a data dos solstícios e dos equinócios. Notaram-se as datas de aparição dos cometas, astros portadores de acontecimentos excepcionais, como as chuvas de estrelas cadentes.
Graças aos astrônomos babilônicos deste período, conhecemos também a data do primeiro eclipse de Sol estudado, que remonta a 19 de março do ano 721 a.C., e a dos eclipses seguintes.
A "Torre de Babel", erigida por Nabucodonosor (604 a.C.) pode ser considerada como uma aplicação de conhecimentos astronômicos. O edifício de sete andares era sem dúvida dedicado ao Sol, à Lua e aos cinco planetas; ou melhor, segundo Schiaparelli, era uma representação da Terra habitada, das quatro regiões correspondentes aos quatro pontos cardeais, do reino dos mortos e do céu, como parece indicar o qualificativo: "templo dos sete compartimentos do céu e da terra".
Em resumo, os astrônomos caldeus e assírio-babilônicos foram os primeiros a efetuar estudos importantes com métodos fundamentados em observações científicas muito cuidadoras dos fenômenos celestes.
Somente a cultura pode libertar os homens das superstições escravizantes.
A vida de um homem só adquire sentido quando ele consegue deixar algum legado cultural (não material) para a humanidade.
Sem esquecer os inúmeros homens que contribuíram para o nosso progresso, cito apenas três, como exemplo: Leonardo Da Vinci, Albert Einstein e Darvin.
Nicéas Romeo Zanchett
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