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domingo, 31 de julho de 2011

AS ORIGENS DA FÉ E DAS RELIGIÕES





                             AS ORIGENS DA FÉ E DAS RELIGIÕES
O homem primitivo vivia num permanente estado de terror e medo que resultava em constantes celebrações de ritos mágicos, destinados a manter longe os aspectos pavorosos da natureza. Todos os acontecimentos climáticos inesperados despertava o medo e a desconfiança. 
Um simples eclipse solar, a falta regular de chuvas ou o fogo de combustão espontânea eram motivos para buscar o perdão pelos atos que desagradaram ao supremo. Quando a Terra era bombardeada por alguns asteróides o homem imaginava a fúria de um deus poderoso que residia no céu. 
Com o despertar da consciência passou a encarar o espaço que o rodeia como epifania do divino. 
A humanidade, pela sua própria natureza como um todo, possui instintos comuns de imaginação e ação, participando dos acontecimentos cósmicos com sonhos e ritos religiosos.  Tem um impulso profundamente enraizado de camuflar o mistério da transformação universal em matéria do divino, mas também existe nele algo que o impulsiona a mostrar e desfrutar do que considera mais sagrado. O símbolo de deus todo poderoso, que tudo sabe e tudo vê, sempre foi o céu  noturno estrelado.  A experiência do universo circundante se transforma em resposta às exigências do poder manifesto de deus. A divisão do espaço cideral surge do padrão temporal traçado pelo movimento dos planetas.  As mudanças de estação ficam refletidas no crescimento e declínio da vida vegetal e das idades do homem.  No espaço se revelam os inúmeros aspectos do divino, venerados como divindades individuais. 
O poder transcedental articula mito e ritual, da mesma maneira como articula a forma das arvores e das plantas. O simbolismo como representação do poder divino é uma forma humana de relacionar-se com o deus imaginado. Quando se adota um símbolo de significado finito, um ídolo em lugar do misterioso abstrato infinito, há uma proximação da realidade humana.
Ao longo da história da humanidade o homem adorou a deuses com a mesma intensidade em todos os lugares.
No princípio o homem adorou os aspectos da natureza que lhe pareciam mais poderosos e com os quais mantinha maior relacionamento.  Os deuses das épocas mais primitivas eram animais, montanhas, cavernas bosques, arvores e rios. Isto durou enquanto se sentiu ameaçado por seu poder arrasador e deixou de fazê-lo quando a sua tecnologia pareceu dominá-los. Mais adiante, todos estes aspectos de poder, personalizados pelas divindades multiformes, se reunem num só deus que se transformou em homem projetado no espaço. Com o pasar do tempo e evolução da consciência, o homem foi se separando das projeções com as quais tinha povoado o mundo vazio dos céus e infernos com suas hierarquias de deuses e demônios.

 Quando o homem conhece o nome "deus", isto é, sua função e poder especiais, passa a fazer algo com ele e assim nasce  a mitologia. Deste modo, toda a experiência de poder desemboca na aquisição de uma forma  e todo o deus que se estabelece  como tal, representa a consecução do mesmo grau de consciência. Assim sendo, em todos os momentos cruciais e críticos da vida, como no amor no conflito e na morte, os deuses continuam exercendo sua influência. 
A visão primitiva do tempo é cíclica, não lenear: Um sucessão infinita de nascimentos e mortes. A existência toda está entrelaçada pelo ciclo de transformação. As luas novas e cheias eram momentos sagrados. Todos os indicadores do tempo eram constituídos pelas fases da lua, pelo percurso do sol através do seu caminho de estrelas e pelo céu de estações, de avanço e de retrocesso. A idéia era que a lua regia todas as mudanças cíclicas: a vegetação, a mulher e o nascimento. Esta idéia inspirou a crensa segundo a qual a morte nunca tem carater definitivo, mas que tudo é parte de um processo de mutação na qual a vida sempre renasce. 
Quando a mente humana indaga sobre a criação do mundo, a resposta apresenta-se em forma de casualidade. Considera-se Criador aquele que move e não aquele que se move; aquele que se encontra por trás dos acontecimentos do cosmos. "No princípio era o caos, o vasio infinito e Deus criou o universo." Aí surge a pergunta: quem criou Deus?  As imagens reais de qualquer sistema de estruturação derivam de uma determinada localidade, contudo suas funções são universais. 
O espaço sagrado criado pela imaginação humana é a zona intermédia entre o cosmos e o caos, - o vasio uniforme e desconhecido - lugar estabelecido para o encontro com o divino. 
A existência toda  está entrelaçada pelo ciclo da transformação. O nascimento, a vida, a morte e o renascer são intermináveis fenômenos da existência que nossa mente ainda não atingiu a maturidade do entendimento.  Nosso intelecto não é ferramenta capaz de entender a misteriosa dimensão de nossa existência. Sempre que tentamos estabelecer valores transpessoais, atingimos um nível de desenvolvimento cujo limite e qualidade se encontra nas conquistas das ciências de civilizações passadas que surgem e se renovam graças às experiências criativas de alguns indivíduos.
Quando o homem voltou seus olhos para o céu e tentou encontrar a ordem do mundo estelar, identificou o movimento dos seus deuses com os do sol, da lua e de outros planetas.
Os mistérios antigos pretendiam estabelecer uma relação entre os homens e os deuses. A deusa egípsia Ísis, filha de Keb (a terra) e Nut, (o céu), possuia o poder mágico supremo. Sua união com Osiris ficava associada ao ritual dos mortos. Durante séculos seu culto estendeu-se por todas as as provîncias romanas, onde foram erguidos inúmeros santuários em sua honra.
Nas mitologias sempre aparece a idéia da redução do universo e do cataclismo no final dos tempos.
Do ponto de vista mitológico, o começo do mundo com o aparecimento da luz, significa a descoberta subgetiva, a capacidade que o homem tem de pensar, perceber suas ações em relação ao sagrado, observando a evolução, através de uma consciência que circula o desconhecido a partir de vários pontos. As formas mágicas com as quais o homem se aproxima de seu deus escolhido têm origem em sistemas antropomórficos de domínio do mundo. Alguns símbolos caregam o sentimento universal de tantas pessoas, exercendo tamanha compulsão, que criam a sensação de que a vida depende de sua conservação e contínua representação. Aí surge a identificação do caçador com o animal totêmico, do agricultor com a terra, da semente e a cultura com as condições atmosféricas, isto é, com seus deuses.  Os deuses das religiões se tornam, em última análise, princípios e funções da consciência que identifica o homem moderno como simples abstração da qual depende a existência da vida.
Mediante a observação, a faculdade imaginativa e o pensamento especulativo, o homem estabelece estrutura para se proteger do caos da existência, numa tentativa de localizar o sagrado que o salvará.
As tradições sagradas do mundo constituem uma abundante coletânea de símbolos religiosos criados pelo homem como metáforas do mistério. Mostram as limitações humanas e, todavia, por entre elas brilham as leis universais às quais todos são subordinados.  Oferecem uma idéia da fonte, do encontro entre homem e o milagroso que para o crente é a única esperança que confere a validade ao drama da criação.
Na tentativa de entender o divino e o demoníaco, a mentalidade moderna recorreu à psiquê, onde tudo volta para a alma de onde provem o ser interior do homem ainda desconhecido. O mundo natural, que nos primórdios era seu deus, transformou-se numa coisa sua e, dessa forma, sente-se um estranho isolado no cosmos, numa busca desesperada para encontrar suas raízes interiores.
A psiquê humana é a fonte de todos os fenômenos religiosos e culturais e ainda conserva o conhecimento adquirido antes do aparecimento da consciência de si mesmo. Com o surgimento da consciência, o mundo tornou-se ambivalente, dividido em opostos que resultou num profundo abismo entre a reflexão e a espontaneidade. A consciência do ego provocou um sentimento de solidão e sua gênese foi experimentada como culpa e castigo inevitáveis.
A evolução da consciência leva o homem a experimentar a plenitude criativa de sua própria psiquê. Então surgem guias - espécie de manuais - para exercer as múltiplas práticas psicotécnicas do mundo interior com as diversas formas de meditações que surgiram  pelo mundo todo.
Nas práticas de meditação, a aproximação do divino passa a ser um ato psicológico em circulo em torno de si próprio para descobrir todos os aspectos individuais. Assim sendo, a psiquê tem um caráter tão real como o mundo exterior e a experiência reigiosa também atinge os níveis mais profundos da mente humana. Essas práticas retardam o fluxo do tempo e, com isto, desaparece a divisão entre o interior e o exterior, tornando o centro divino em onipresente. As transformações espirituais e fisiológicas se identificam com as transformações terrenas, isto é, expressam-se em relações espaciais.
Todo o crescimento e desenvolvimento pessoal pressupõe uma mudança que a nível psicológico equivale a morrer e regressar à existência anterior. A esperiência estática  que dá vida ao mistério é a de ultrapassar a morte do corpo para transfigurar-se como o deus.
O encontro do homem com o outro mundo é a conseqüência da expansão da sua consciência. Considera-se esta expansão como advento do deus que toma posse do homem, utilizando o devoto como seu receptáculo, instrumento para fazer sua vontade. O devoto passa a utilizar em si mesmo o poder divino com o objetivo de atuar no mundo em honra de seu deus, operando milagres, pronunciando oráculos, contruindo santuários e dando testemunho de sua forma de existência.
A experiência do temor reverencial assinala a relação entre o poder de deus e o homem. Em todos os lugares aparecem o temor, o amor e a servidão ao deus como termos relacionados entre si. Nos rituais religiosos liberam-se as tensões emocionais e renovam-se as esperanças em relação às necessidade humanas da vida individual, para garantir a felicidade eterna que se imagina alcançar com a purificação final.
O mistério da morte constitui o maior desafio que a mente humana enfrenta. Éla é a experiência decisiva que revela a divisão entre o corpo e o espírito. É no encontro com a morte que está a raíz de todos os cultos religiosos. A celebração de ritos fúnebres religiosos baseia-se na crença de que a morte é apenas outro aspecto de vida que aos vivos cabe  o dever de ajudar os defuntos no momento da partida para a ressurreição. No Egito antigo o rito funerário tinha proporções gigantescas, com grandes cerimônias.
Em nosso tempo o homem sofre a ilusão de que o universo inteiro se mantém unido pelo pensamento humano. Acredita que se não se apegar a esta corrente tudo se desvanecerá no caos. Quanto mais intimamente experimentamos a realidade da vida, menos a entendemos.
A mente humana se encontra no estado crepuscular, além do pensamento e da vontade de cada um, onde há algo que a move da mesma forma como, em nossos melhores momentos, sentimos a valorização da vida.  A situação terrena mostra o homem como herói de seu próprio drama vital, mas também como um simples ator de uma obra mais ampla, figura evanescente, na eterna ronda da vida através da morte. O homem percebe seu próprio ser e tem conhecimento do mesmo unicamente enquanto é capaz  de visulaizá-lo na imagem de seus deuses, que constituem a medida de sua penetração no mistério do ser. Consegue a emancipação do  homem em relação a seu deus mediante a imitação deste.  Deste forma o homem transforma-se em criador ao fazer o que fazem os deuses.
Hoje sabemosque o poder da natureza está em constante renovação e longe do nosso domínio. Tenta-se exercer influência sobre o universo, mas quanto mais o conhecemos mais descobrimos nossa insignificância. Movido pela própria consciência de si mesmo, o homem despertou do seu sonho num mundo que lhe era incompreencível e cujos mistérios lhe inspiraram o temor e assombro  que o levaram a sondar suas profundezas. Em todo o lugar e época o homem se depara com um poder superior a ele.  Na natureza, no céu, ao nascer, durante seu crescimento, nas doenças e na morte.  Em epocas de crises, como as que estamos vivenciando em relação à naturena, a vida do homem é posta em causa em relação ao mundo, proporcionando-lhe uma experiência inigualável, colocando-o em confronto com suas próprias limitações.  Estas situações inesperadas de perigo confrontam o homem com o caos e com a sua própria impotência, onde a vida depende de sua capacidade de sobreviver ante as forças imbatíveis que a natureza volta a lhe mostrar. Secas, tsunamis, furações, terremotos, etc. Plantas, animais, estrelas, riachos e homens estão todos unidos numa corente única, com a perpétua possibilidade de se transformarem em outros seres. Neste estado em que tudo participa de tudo, a combinação de forma se nutre no tecido de nossa imaginação buscando harmonia com os poderes cósmicos.
A ciência explica a explosão do átomo e o surgimento da vida através da matéria, mas é a mente humana que tenta entender os mistérios do espírito da dá origem a fé, a religiões e superstições.
A evolução da mente e a cultura humana é a causa da diminuição da religiosidade de origem primitiva.
Nicéas Romeo Zanchett
http://gotasdeculturauniversal.blogspot.com/